O ministro da Educação, Milton Ribeiro, fez críticas a Paulo Freire por tentar incorporar o pensamento marxista à educação. Na entrevista, Ribeiro também afirmou que não faz parte das atribuições do ministério resolver falta de acesso à internet de alunos que não conseguem acompanhar aulas online ou se envolver na reabertura de escolas.
Ele também admitiu ter sido cobrado pelo presidente Jair Bolsonaro por ter recebido em seu gabinete a deputada Tabata Amaral (PDT-SP), opositora ao governo. Confira a entrevista:
A gestão do seu antecessor, Abraham Weintraub, foi marcada por questões ideológicas. Qual seu posicionamento sobre o educador Paulo Freire?
Milton Ribeiro: Tive a pachorra de ler o texto mais famoso dele, que é a "Pedagogia do Oprimido". Eu desafio um professor e um acadêmico que venha me explicar onde ele quer chegar com as metáforas, com os valores. Ele transplanta valores do marxismo e tenta incluir dentro do ensino e da pedagogia.
Como o MEC vai atuar pra garantir a volta às aulas no país?
Milton Ribeiro: Remanejamos valores para pagamentos de professores e estagiários. São R$ 525 milhões que vamos mandar direto para as escolas públicas. O diretor e sua equipe que vão manejar para comprar insumos, pequenos reparos, tudo para proporcionar que o aluno volte com segurança, incluindo máscaras. Vamos mandar para todas.
Estados e municípios reclamam que se sentiram abandonados e sem orientação sobre a condução da educação na pandemia...
Milton Ribeiro: A lei é clara. Quem tem jurisdição sobre escolas é estado e município. Não temos esse tipo de interferência. Se eu começo a falar demais, dizem que estou querendo interferir; se eu fico calado, dizem que se sentem abandonados. Agora, nesta semana, vou soltar um protocolo de biossegurança para a escola básica, como já foi feito com universidades.
Não cabe ao MEC se posicionar sobre a volta às aulas?
Milton Ribeiro: Não temos o poder de determinar. Por mim, voltava na semana passada, um vez que já superamos alguns itens, saímos da crista da onda e temos de voltar. Mas essa volta deverá ser de acordo com os critérios de biossegurança.
A pandemia acentuou a desigualdade educacional com alunos que não têm acesso a internet...
Milton Ribeiro: Esse problema só foi evidenciado pela pandemia, não foi causado pela pandemia. Mas hoje, se você entrar numa escola, mesmo na pública, é um número muito pequeno que não tem o seu celular. É o estado e o município que têm de cuidar disso aí. Nós não temos recurso para atender. Esse não é um problema do MEC, é um problema do Brasil. Não tem como, vai fazer o quê? É a iniciativa de cada um, de cada escola. Não foi um problema criado por nós. A sociedade brasileira é desigual e não é agora que a gente, por meio do MEC que vamos conseguir deixar todos iguais.
O papel do MEC é trabalhar para diminuir essas desigualdades...
Milton Ribeiro: O MEC, em termos, né? Essa é uma responsabilidade de estados e municípios, que poderiam verificar e ter as iniciativas para tentar minimizar esse tipo de problema. Alguns já fizeram. Algumas universidades federais deram até tablet.
Há casos que há apenas um celular em casa com acesso à internet e quando os pais saem para trabalhar os filhos ficam sem assistir à aula.
Milton Ribeiro: Esses são problemas sociais, que eu não tenho como responder. Vão afetar a escola, mas isso aí já é para um outro departamento de assistência. Não tenho como resolver isso.
É contra o foco no ensino superior dado nos últimos anos?
Milton Ribeiro: Muitas vezes o sonho brasileiro é ter um diploma, o pessoal mais simples, mais pobre. Não sou contra isso. As pessoas devem ter uma ambição sadia de ter um curso superior, o primeiro formado na família, tudo isso acompanho e sei que tem o seu valor, mas em termos de política nacional é equivocado. Não adianta ter o diploma e não ter a expertise, o conhecimento. Vemos figuras que têm o curso, mas são incapazes, haja vista o número de reprovação na OAB.
Quais os planos para melhorar os resultados da educação infantil e básica?
Milton Ribeiro: Quero dar o foco sobre a vida dos professores. Hoje ser um professor é ser quase que uma declaração que a pessoa não conseguiu fazer outra coisa. Está na hora de parar de ter como protagonista somente o aluno, a infraestrutura, a comida, o assistencialismo, e a gente olhar com carinho maior para os professores.
Isso seria com uma valorização financeira?
Milton Ribeiro: Se tiver uma valorização financeira, o professor terá tempo de se preparar. A Capes e o MEC estão treinando professores com cursos online.
Já deu uma diretriz para revisão da Base Nacional Comum Curricular?
Milton Ribeiro: Esse é um ponto que precisamos atacar de maneira urgente. O prazo é 2023, mas não é feito da noite para o dia. Na educação básica, o Enem tem sido um balizador dos conteúdos que a gente requer, porque senão começa a falar lá de ideologia, sabe tudo sobre sexo, como colocar uma camisinha, tirar uma camisinha, sabe tudo. Fica gastando tempo com assuntos que são laterais. As crianças têm de aprender outras coisas.
O senhor recebeu os deputados Tabata Amaral e Felipe Rigoni (PSB-ES)...
Milton Ribeiro: Não. Eu recebi a Comissão Externa da Câmara (que os dois integram e acompanha o trabalho do MEC).
O presidente Bolsonaro o repreendeu por receber a Tabata?
Milton Ribeiro: Ele queria entender porque a Tabata publicou uma foto. Eu falei ao presidente que recebi a comissão. É diferente isso. A mídia conservadora estranhou o fato de tê-los recebido, mas eu não vou mudar.