As mudanças que a Secretaria de Estado da Educação (Seed) quer implantar, a partir de 2006, na Educação de Jovens e Adultos (EJA) está causando muita polêmica. Estudantes temem não conseguir acompanhar as aulas, enquanto educadores acreditam que as novidades podem causar uma série de problemas.
Na EJA existem duas modalidades: a presencial e a semi-presencial. Na primeira, o estudante é obrigado a freqüentar todas as aulas, enquanto que na outra ele é obrigado a freqüentar 30% das aulas e estuda também de forma independente. Os estudantes podem concluir a fase 2 (da 5ª à 8ª série do ensino fundamental) ou a fase 3 (ensino médio) em dois anos cada. Atualmente cerca de 160 mil alunos estudam pela EJA.
A Seed quer acabar com a EJA presencial pois a evasão seria muito grande - de até 50% em algumas turmas. "Nós fizemos discussões com todas as escolas de EJA do Paraná e vimos o que há de mais positivo em cada sistema para elaborar uma proposta melhor", explica a chefe do Departamento de EJA da Seed, Maria Aparecida Zanetti.
Pelo novo modelo, o aluno se matricula por disciplina e freqüenta as aulas quando pode. Ele pode estudar no máximo quatro matérias ao mesmo tempo. Quando completar 60% da carga horária exigida para o curso, o estudante passa por um teste e, se for aprovado, pode se matricular em outra disciplina. Se não passar no teste, o estudante cumpre toda a carga horária.
Para o presidente da APP-Sindicato dos Trabalhadores em Educação, José Lemos, a proposta torna o aprendizado impraticável para quem não pode ir às aulas. "Isso é uma loucura! O estudante levaria vários anos para terminar o curso, um tempo até maior do que no ensino regular. Se ele se matricular em quatro disciplinas vai ter que ir a quatro aulas por semana", critica. Pelos cálculos de Lemos, uma pessoa que só possa ir à escola uma vez por semana levaria 16,6 anos para concluir o ensino fundamental ou o médio.
A diarista Aurides Gonçalves Oliveira faz a 2ª série do ensino médio pela EJA e não vê com bons olhos a proposta da Seed. "Para mim está ótimo como está, porque para a gente que trabalha é complicado ficar mais tempo na sala de aula (as aulas vão de segunda à quinta e duram 2 horas)", diz. A turma de Aurides fez até um abaixo-assinado para enviar à Secretaria e tentar impedir as mudanças. Conforme a diarista, seria muito ruim não ir às aulas, pois ela teria que estudar sozinha e não conseguiria aprender.
A chefe do Departamento de EJA, Maria Aparecida Zanetti, no entanto, garante que quem já está estudando não vai para o novo sistema. Quem pretende começar agora tem quatro opções: estudar no sistema semi-presencial, fazer um teste classificatório, participar dos cursos supletivos ou entrar na nova proposta em 2006.
Zanetti garante também que onde existir demanda, o estado vai oferecer EJA. "Nós fizemos uma análise da oferta no Paraná e vamos reorganizar tudo. Em alguns locais a demanda de alunos é muito pequena e não justifica a existência de uma escola", conta. Onde existem poucos estudantes, serão aplicadas as ações pedagógicas descentralizadas - quando um professor vai até a comunidade, como nos casos de aldeias indígenas.
O presidente da APP-Sindicato, José Lemos, teme que os estudantes migrem para o ensino particular. "Os técnicos que fizeram a proposta não conhecem a realidade. Ou a secretaria desiste dessa idéia ou os professores vão para as ruas pedir uma atitude do governador".
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura