Sofia Gallo durante a formatura em Princeton: jornada improvável| Foto: Arquivo pessoal

A história de Sofia Gallo, de 22 anos, é improvável por duas razões. 

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Primeiro: cega, nascida na Colômbia, ela acabou aceita por Princeton, uma das melhores universidades do mundo.  

Segunda: em Princeton, mesmo fazendo parte de várias minorias, ela se engajou em uma batalha contra o politicamente correto.

A jornada de Sofia ignora as linhas demarcatórias de um país polarizado e ajuda a entender a tensão política nos Estados Unidos.

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Em Bogotá, onde nasceu e passou a infância, a jovem frequentou uma escola americana porque a instituição era uma das poucas a aceitar alunos cegos.

Os pais dela se divorciaram quando ela tinha 6 anos de idade. Em 2008, a grande mudança: a mãe de Sofia foi transferida para Nova York e a jovem se viu em um novo país. Na época, Sofia cursava a oitava série.

Veio o primeiro choque: na Colômbia, a escola oferecia alguém que fazia tudo por ela. Nos EUA, ela foi incentivada a ter autonomia. “Eles realmente me encorajaram a ser mais independente”, disse ela à Gazeta do Povo.

Terminado o ensino médio, ela se candidatou ao curso de Políticas em Princeton, a melhor universidade do país segundo o último ranking do U.S. News and World Report e uma das mais respeitadas do mundo. Apesar das boas notas, ela não tinha esperança de ser aceita. Mas deu certo. 

Na universidade, Sofia se viu parte de uma minoria. Não exatamente por ser mulher, estrangeira, latina e cega – mas por ser cristã e conservadora em um ambiente majoritariamente de esquerda (”liberal”, no dicionário político de lá).

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Ela não cedeu. Embora tenha amigos do lado oposto do espectro político, ela diz que a cultura política de lugares como Princeton se tornou nociva: “As mesmas pessoas que dizem querer dar poder às minorias e imigrantes estão dizendo que você tem que ser esquerdista ou do Partido Democrata, porque ‘nós sabemos o que é melhor para você’”, queixa-se. “Eles dizem que minha origem deveria ditar o que eu penso, mas eu me recuso a deixá-los dizer o que pensar”, completa. 

“As mesmas pessoas que dizem querer dar poder às minorias e imigrantes estão dizendo que você tem que ser esquerdista ou do Partido Democrata”

No segundo ano do curso,  Sofia se juntou a um pequeno grupo de colegas e formou uma coalizão pela liberdade de expressão. O momento era propício: as vozes do outro lado pediam que a universidade interferisse sempre que houvesse “discurso de ódio” ou ofensivo proferido por estudantes.

Por causa disso, ela foi convidada do programa Fox & Friends, um dos mais populares da rede da Fox News. “Esperamos que os universitários se lembrem do valor de ouvir os outros que não concordam com eles e ingressem em um diálogo em busca da verdade”, disse ela, diante de uma audiência de milhões de pessoas. 

Na opinião de Sofia, o único remédio para a intolerância é a livre troca de ideias. “Se alguém diz algo que é de fato racista – que é o caso de muito poucos comentários que esses estudantes dizem que é racista – eu acho que é muito melhor que a pessoa diga e que outras pessoas tentem refutar, em vez de aquela pessoa continuar pensando assim e não mudar”, diz. 

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Sofia aponta a ironia de que muitas universidades têm a “diversidade” como meta, mas apenas a sexual e racial – não ideológica. 

O problema diagnosticado por ela é um mal contemporâneo nas universidades americanas. Com frequência, manifestantes de esquerda têm impedido palestrantes conservadores de participarem de eventos nos campi e adotado demandas cada vez mais absurdas, como a remoção de um retrato de William Shakespeare em um departamento de Letras.

Dificuldades 

Frequentar uma universidade sem enxergar não é simples, especialmente em um campus de 2 milhões de metros quadrados como o de Princeton. Karleen, cachorra que vê o mundo por Sofia, só entrou na vida da jovem pouco tempo antes da universidade. Até então, ela usava uma bengala.  

Karleen, a companheira de Sofia, também ganhou seu chapéu de formatura 
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Mas a adaptação foi rápida: Sofia passou os quatro anos de curso morando sozinha e de deslocando por conta própria no campus. Ela se formou no mês passado “magna cum laude” – acompanhada por Karleen, que usava um chapéu de formanda. 

Pouco tempo antes, Sofia havia se tornado cidadã americana.

E, se a Era Trump pode ser intimidadora para alguns estrangeiros, não é o caso dela. “Ele não era meu candidato favorito porque não acho que ele é um conservador. Mas penso que as pessoas exageram demais. Eu não sinto em perigo porque sou de um país diferente”, diz. 

Com o diploma em mão, Sofia agora pretende trabalhar com educação infantil, talvez em uma editora de livros para crianças.

Aos que se inspiram com sua jornada improvável e pedem conselhos, ela costuma oferecer dois. “Não deixe as pessoas te dizerem o que pensar” e “Trabalhe duro e não pense tanto nos seus objetivos. Tenha foco no próximo passo”.

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