O estímulo musical na infância traz inúmeros benefícios para o desenvolvimento social e cognitivo dos pequenos, com reflexos para toda a vida. É o que apontam pesquisas que relacionam a música ao crescimento de habilidades do cérebro das crianças.
Uma delas, realizada por neurocientistas do Instituto do Cérebro da Universidade da Carolina do Sul, aponta que a música melhora diferentes competências, principalmente as de fala e leitura. Além disso, faz amadurecer com mais velocidade a via auditiva tendo como consequência o aumento da neuroplasticidade.
“A capacidade do corpo de produzir e modificar conexões neurológicas, a chamada neuroplasticidade, é maior na infância. A música, pelo que temos visto nos estudos, também faz modificações no cérebro, deixando uma porção de ‘janelas de oportunidades’, ou seja, construindo uma reserva cognitiva que deixa em aberto a possibilidade de aprendizado no futuro”, explica Marilene A. B. do Nascimento, bacharel em Piano pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap), professora de educação musical na Escola Internacional de Curitiba (ISC) e formada em Pedagogia da Música pela Universidade de Potsdam, Alemanha.
Não à toa muitas escolas, como a ISC, fazem da musicalização infantil um componente do currículo, seja para cumprir a legislação federal ou para oferecer às famílias um diferencial em relação à educação de seus filhos.
Desenvolvimento
O aprendizado da música, que vai além do ensino de algum instrumento, afeta positivamente outras áreas e contribui, por exemplo, para desenvolver habilidades de leitura e escrita e para o aprendizado da matemática. “O reconhecimento de padrões, que estão presentes na música por meio das repetições, é importante para o desenvolvimento dos exercícios matemáticos e nem sempre são identificados facilmente [pelas crianças]”, exemplifica Rafael Ferronato, professor do curso de Música da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Ao extrapolar o simples ato de ouvir a música e envolver questões como a movimentação corporal, jogos e brincadeiras musicais, a musicalização infantil também contribui para o desenvolvimento de habilidades psicomotoras e da noção espacial, como acrescenta a especialista em educação musical Helena Loureiro, doutora em Estudos da Linguagem e coordenadora do Colegiado do Curso de Música da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Outros ganhos que a estimulação musical traz para os pequenos dizem respeito à criatividade, expressão, sensibilidade e socialização, uma vez que a música costuma ser uma construção cooperativa. “Tive uma aluna de flauta que era muito envergonhada, que tinha pânico de palco. Ao longo dos anos ela foi vencendo esse medo e desenvolvendo a questão da expressão, o que hoje a ajuda no seu dia a dia de trabalho, uma vez que ela é advogada”, ilustra Tatiane Wiese, professora de disciplinas pedagógicas para os cursos de Licenciatura em Música e de musicalização infantil nos cursos de extensão da Embap.
Os especialistas lembram, no entanto, que o ensino da música deve ter foco na aprendizagem musical em si mesma, e não em fazer dela uma simples ferramenta para o desenvolvimento das pessoas. “O fato de ela desenvolver outras áreas deve ser visto como um efeito colateral benéfico, mas não como o motivo principal pelo qual se aprende música”, sustenta Marilene.