A produção científica brasileira ganhou em volume durante os anos de governo petista, mas perdeu em relevância internacional.
Se o número de trabalhos produzidos quase quadruplicou (de 17.834 em 2002, para 68.908 em 2016), o país perdeu espaço nos rankings de citações por paper, que medem a relevância do trabalho produzido.
O professor Marcelo Hermes-Lima, do Departamento de Biologia Celular da Universidade de Brasília, tem acompanhado o tema de perto. A pedido da Gazeta do Povo, ele fez um levantamento com os dados mais recentes disponíveis. A base é a Scimago, publicação que compila os dados de produção científica.
A classificação anual da revista considera quantas citações teve cada paper publicado em um ano específico – independentemente de quando a citação foi feita. Por isso, os trabalhos mais antigos são sempre os mais citados, e é impossível comparar as citações ano a ano.
Hermes-Lima explica que a melhor forma de comparação é ver a distância do Brasil para o primeiro colocado na lista em termos de citações por paper: no ranking de 2002, por exemplo, a Suíça (primeira colocada) teve 43 citações por pesquisa. Cada paper brasileiro do mesmo ano têm 20.47 citações, em média. Ou seja: 47,6% do total da Suíça.
Com algumas oscilações, os governos Lula e Dilma viram os números do Brasil caírem. Em 2015, a proporção foi de 42,1% do líder, que continua sendo a Suíça. Os dados de 2016, ano do impeachment de Dilma Rousseff, ainda são imprecisos por tratarem de pesquisas muito recentes. Mas eles mostram uma possível evolução: a proporção é de 46%.
Países como Chile, México e Argentina tiveram trajetórias melhores nos últimos anos.
As contas levam em conta apenas os países com mais de 10.000 artigos, para evitar distorções.
Ranking
A posição do Brasil no ranking de citações por paper também piorou. Entre os 50 países com maior volume de pesquisa, o Brasil ficou no 30º lugar em termos de relevância no ano de 2002. Em 2015, o país acabou na 43ª posição, com uma melhora para o 37º lugar em 2016.
Para Marcelo Hermes-Lima, os números mostram que a preocupação com a produção acadêmica no país não foi acompanhada por um esforço pela qualidade.
“A grande maioria está preocupada em publicar papers. O resultado são artigos de menor qualidade científica. Por isso é que o Brasil vem perdendo espaço em relação ao impacto das suas publicações”, afirma o professor.
Ele critica a pressa por resultados. “Ciência é uma atividade artesanal, e não dá para fazer uma atividade artesanal em escala industrial. Fazem-se pequenas alterações em um estudo e publica-se outro estudo um pouquinho diferente, em diferentes publicações”, diz.
Para o professor, entretanto, a estabilididade dos últimos três anos pode ser fruto de uma política mais cautelosa do Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), que tem exigido que os pesquisadores priorizem publicações de maior reputação.
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