Com protestos de grupos de direita, o ex-candidato à presidência do PSOL, Guilherme Boulos, participou de um evento na aula magna da reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, nesta terça-feira (19). No ato, ele pediu a união da esquerda contra o presidente Jair Bolsonaro e “sua turma” e pregou a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba.
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Questionada sobre o empréstimo de local público para o evento político, a UFSC informou que é regra na instituição permitir o uso do auditório sempre que solicitado por organismos da comunidade universitária, como é o caso do Diretório Central dos Estudantes (DCE), promotor do evento com Boulos, "sem entrar no julgamento do tema ou convidado". Em 2017, a UFSC chegou a proibir um evento contrário ao comunismo, mas permitiu sua realização meses depois.
Segundo Boulos, Bolsonaro e “sua turma” vêm “como um trator, querendo passar por cima”. “Se a gente tiver cada um cuidando dos seus problemas, eles vão matar”.
No discurso acalorado de 40 minutos, ele pediu a união da esquerda contra o “fascismo”.
“Se a gente tiver junto como uma muralha, se a gente tiver a massividade, que muitas vezes faltou para a esquerda nesse país, de colocar aquilo que nos une na frente que nos separa, de entender que as divergências legítimas que existem entre nós – porque de pensamento único basta a turma deles – e que essa diversidade é menor que as diferenças que temos com o Bolsonaro e com a turma dele, isso é o que precisamos para nós”, afirmou Boulos.
Boulos comparou Lula a um preso político, mesmo que o ex-presidente tenha sido condenado em duas investigações na Lava Jato – pelo caso do tríplex do Guarujá e pelo sítio de Atibaia – e espera ainda o julgamento de, pelo menos, outros quatro processos, sem contar outras denúncias em andamento.
“Precisamos ficar junto, independente de qualquer juízo político que se faça, que no nosso ponto de vista é uma questão democrática, que é a liberdade de um preso político: Luiz Inácio Lula da Silva”, afirmou Boulos, seguido por gritos de “Lula Livre”.
O auditório, com capacidade para 203 pessoas sentadas, estava lotado e dois telões foram colocados do lado de fora para transmitir a fala de Boulos. Entre os espectadores estavam alunos da universidade, professores e também militantes com bandeiras de partidos políticos de esquerda.
Empurra-empurra
Após a chegada de Boulos, começaram os protestos de grupos de direita. Os estudantes de esquerda e do Diretório Central dos Estudantes da UFSC, responsável pelo evento, responderam com palavras de ordem e gritos de “Bolsonaro é miliciano”. De acordo com o Grupo Direita Santa Catarina, um dos organizadores do protesto, houve discussões verbais e, ao questionarem o direito de permanecerem, sofreram também agressões físicas, com empurrões e chutes, até que todos se retirassem completamente. Uma pessoa caiu e ficou ferida.
De acordo com o DCE da UFSC, metade da passagem foi paga com dinheiro do próprio grupo e outra metade pelo próprio político, que tinha interesse em participar do evento. Além disso, embora o discurso durante a palestra tenha tido apenas um posicionamento, o DCE e os estudantes favoráveis defenderam o evento como sendo um “espaço de debate”.
“O que foi gasto de dinheiro público é dinheiro para gerir a universidade, e que é feito justamente pra isso, pra gente debater ideias e poder apresentar projetos de raízes diferentes, plurais”, disse o coordenador do DCE, Marco Antonio Machado.
Já os organizadores do protesto dizem ter se manifestado contrários pelo caráter político da palestra, sem espaço para contraditório, e que ocorreu em espaço público. Além disso, lembraram que, dois meses depois do cancelamento do evento sobre as vítimas do comunismo ter sido cancelado em 2017, o próprio Boulos ministrou uma aula magna na UFSC. Segundo a universidade, o político falou sobre “os desafios da esquerda”.
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Em relação ao fato de terem precisado se retirar do local, lamentaram: “Nós não pudemos nos manifestar contra. Estávamos em um grupo de 30 ou 40 pessoas e eles em muitos, alguns inclusive com o rosto coberto. A gente não foi pra confrontar, foi para mostrar que não estávamos concordando com o Boulos na universidade, em um evento pago com os nossos impostos”, comentaram os manifestantes.