O namoro de Nicole Camargo e Wellington da Silva ajudou o garoto a se recuperar no colégio: cobrança dela foi fundamental| Foto:

Educadores

Como agir?

Se para os pais lidar com o começo do namoro dos filhos não é tarefa fácil, para os professores e pedagogos também não é. Ao mesmo tempo que compreendem que a adolescência é a época da paquera, sabem também que é preciso impor limites, papel que é aprendido pelos professores na prática, não na faculdade.

Bilhetes e mensagens de celular durante a aula são proibidos, mas no dia a dia os professores se deparam com eles. A diretora da Unidade Divina Providência do Colégio Bom Jesus, Cleide de Lourdes Barbosa, conta que os professores são orientados a recolher os objetos e encaminhar os alunos à orientação. "Mas sabemos que eles transgridem e nem sempre o professor dá conta". Para ajudar nesta tarefa, no começo do ano, na hora de colocar cada estudante em sua carteira, os namorados são separados. "É apenas um passo para evitar as conversinhas entre eles", diz.

A psicóloga e professora do departamento de Educação da Universidade Estadual de Maringá (UEM) Eliane Maio diz que na hora que os educadores vão conversar com os estudantes, o ideal é que a proibição seja bem explicada e detalhada, para não abrir margem para contestação. "Não adianta apenas reprimir, tem de explicar as regras e provar que elas são justas, se não eles vão tentar burlar de todas as formas."

Para Eliane o professor jamais deve pegar um bilhete trocado entre namorados e lê-lo em público, pois isso caracterizaria bullying, um tipo de agressão psicológica. "Acho que a postura ideal de um educador é, quando perceber que um aluno está em fase de namoro e às voltas com isso, chamá-lo e perguntar se ele precisa de orientações sobre o assunto. Claro que não será ele a fazer o papel dos pais, mas é um primeiro passo."

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Os estudantes Bruno e Raíssa sabem das regras rigorosas da UTFPR, mas já tiveram a atenção chamada pelos inspetores
A pedagoga Sara conversa com a filha Fernanda, 14 anos, para que ela não deixe o namoro atrapalhar nos estudos
Compare os pontos bons e ruins do namoro na escola
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O "namoro" na pré-escola é muitas vezes incentivado pelos pais, e a eles ver o casalzinho de mãos dadas lhes parece algo engraçado e ingênuo. Na adolescência, este cenário muda de figura. Aquele romance que antes era uma brincadeira passa então a tirar o sono da família. O principal medo é de que o filho ou a filha se concentre mais no namoro e preste menos atenção nas aulas e nos seus deveres. Para os educadores, o temor maior é o de que os jovens ultrapassem os limites dentro do ambiente escolar.

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Mas a dispersão de alunos enamorados não chega a ser um problema nem prejudica a aprendizagem, de acordo com Araci Asinelli da Luz, professora do departa­mento de Educação da Universi­dade Federal do Paraná (UFPR). "Se fosse assim, teríamos a redução significativa de rendimento escolar na adolescência, o que não acontece". O que pode atrapalhar é quando um relacionamento é rompido e o jovem não quer mais ir à escola para não ver o outro ou pelo medo de se frustrar caso veja o ex-namorado com outra pessoa. "Mas isso é pontual, não acontece sempre e pode ser usado como exemplo para mostrar que ele pode sair das dificuldades e aprender com elas", diz a psicóloga Lídia Aratangy, que escreveu vários livros sobre o assunto, como Pais que Educam Filhos que Educam Pais pela Celebris Editora e Olho no Olho: orientação sexual para pais e mestres, pela Editora Olho d’Água.

Embora o namoro seja considerado pelos psicólogos uma prática saudável para os adolescentes, a maioria das escolas – tanto públicas quanto particulares – não permite o mínimo contato físico: nem beijos selinhos, nem andar de mãos dadas. Para as coordenações pedagógicas a proibição tem o objetivo de evitar o abuso pelos jovens. "Se abrimos alguma brecha, sabemos que fica mais difícil controlar, já que eles estão com os hormônios à flor da pele", diz a educadora sexual do Instituto Kaplan, Maria Helena Vilelo, uma ONG nacional que trabalha com orientação sexual para adolescentes.

Na Escola Atuação, a proibição está no regimento escolar. A diretora Esther Cristina Pereira conta que promove bailes que servem para que os alunos se conheçam melhor, mas que a instituição não é ambiente para o namoro, inclusive porque até a oitava série os alunos ainda convivem com as crianças menores e devem servir como exemplo. "Assim que fazem a matrícula os pais são avisados sobre essas restrições e a maioria deles concorda."

A pedagoga Sara Cristina do Rocio Bueno tem duas filhas matriculadas na escola, uma de 9 e outra de 14 anos, e conta que aceita a proibição. "Escola não é lugar para namorar, para ter contato físico. Acho certo proibir porque se o namoro for liberado, é dada margem para o resto". A filha mais velha, Fernanda Cristina, não namora na escola, mas conheceu um menino no curso de inglês e está com ele há dois meses. A preocupação da mãe é com o "ficar" dos jovens. Para ela, namoro tem de ser com um só e na idade certa . "Se ela sabe o que quer, eu apoio. Mas conversamos muito sobre o assunto e insisto o tempo todo que ela pode namorar, desde que mantenha o mesmo ritmo de estudos. Se decair, é preciso controlar o namoro", diz ela.

Liberado, mas com moderação

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Poucas escolas permitem o relacionamento entre alunos e mesmo assim com muito controle. No ensino médio da Universidade Tecnológi­ca Federal do Paraná (UTFPR) os alunos namoram com moderação. Nada de abraços ou beijos fortes.

Além das câmeras de segurança que ficam espalhadas pelos corredores, os inspetores, conhecidos no local como assistentes de alunos, ficam prontos para registrar ocorrência caso alguém desrespeite as regras. Quando ela se repete, os pais dos alunos são chamados. "Claro que mesmo assim os estudantes dão um jeito de burlar. Aí eles acham seus lugares escondidos, como o grêmio estudantil, o auditório, a cantina e um banco redondo amarelo que fica no canto do pátio, conhecido como queijinho", conta o professor Antônio Neri Bona­to, diretor pedagógico responsável pelos assistentes de alunos. Até o final do primeiro semestre, apenas 14 alunos receberam ocorrência por abusar no namoro na UTFPR.

O casal Raíssa Mariana da Silva, 17 anos, e Bruno Rafael Ritter, 16, que cur­­sa o segundo ano do ensino mé­­dio, se conheceu no pátio da UTFPR. Eles conhecem bem as regras do local e sabem que os inspetores estão de olho principalmente nos lugares mais escondidos. "Uma vez um deles chamou nossa atenção porque eu estava deitado no colo dela", conta o rapaz.

Quando a relação ajuda

Namorar na escola também pode servir como um incentivo para aumentar as notas. Lídia diz que alguns podem se sentir mais motivados a ir ao ambiente escolar quando sabem que lá vão encontrar alguém de quem gostem. "Querer mostrar para o outro um bom desempenho faz com que eles se dediquem mais", conta.

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O estudante do segundo ano do ensino médio, Wellington Garbos Bandeira da Silva, 17 anos, já reprovou e até ano passado suas notas eram ruins. Mas a situação mudou quando começou a namorar Nicole Ramos de Camargo, 16 anos. Os dois estudavam na mesma sala no Colégio Adventista e neste ano mudaram juntos para outra escola, o Acesso. "Ele passou quase um ano querendo namorar comigo, mas estava indo muito mal na escola. Então eu disse que só aceitaria se ele passasse de ano", diz a garota. Foi o que aconteceu. Além de ser aprovado, ele começou a se dedicar mais. "Eu o cobro o tempo todo. Mando copiar as tarefas do quadro e grifo os pontos mais importantes na apostila dele. Mas também ganho com isso, porque quando ensino, aprendo mais", diz Nicole.