Conhecer as palavras e ser capaz de compreender seus significados é fundamental para o processo de aprendizagem e para as relações sociais que as crianças mantêm fora dos muros da escola. Mesmo parecendo tarefas simples, a excelência neste conjunto de ações não é nata e depende do êxito com que as etapas de alfabetização e letramento são trabalhadas com os pequenos.
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Termo comum a grande parte das pessoas, a alfabetização refere-se ao processo de ensino-aprendizagem das letras, ou seja, da leitura e da escrita dos códigos que compõem o alfabeto e sua junção em sílabas e palavras. O letramento, por sua vez, é o processo de compreender o que se está lendo ou escrevendo, de dar sentido a este conjunto de símbolos.
“Embora sejam dois estágios, estas são fases simultâneas. Alfabetizar e letrar estão incorporados um ao outro”, explica a pedagoga e doutora em Educação Verônica Branco, professora do setor de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Na escola, a alfabetização costuma ter início já na educação infantil, por meio das cantigas, da contação de histórias e do contato com as primeiras vogais. Desta forma, a criança desenvolve sua expressão oral e tem despertado seu interesse pela leitura e pela escrita, como explica Marilize Ribeiro de Souza, coordenadora dos 6º. e 9º. anos do Colégio Nossa Senhora de Sion, sede Solitude.
A partir do 1º ano do ensino fundamental, isso é enfatizado para que os pequenos desenvolvam a habilidade motora da escrita e entrem de vez no universo das letras. Assim, ao final dele, a criança já deve ter condições de escrever as palavras mais comuns e os sons que pronuncia – mesmo que esta escrita não seja ortograficamente correta, o que será refinado posteriormente –, no processo conhecido como princípio alfabético da língua, como explica Verônica.
“Ao final do 1º. ano também se inicia o processo de letramento, pois nesta fase a criança já começa a produzir suas próprias frases, ao invés de simplesmente fazer a cópia. A partir daí, o letramento vai se estender [e ser aprimorado] durante toda a vida”, acrescenta Marilize.
Leitura
A leitura é apontada pelas especialistas como a principal ferramenta para se garantir o sucesso dos processos de alfabetização e letramento. Isso porque, mesmo que a criança ainda não tenha aprendido a ler, o simples fato de conviver em um ambiente onde os livros estão presentes faz com que os pequenos ampliem seu vocabulário e comecem a desenvolver o hábito da leitura.
“Se a escola trabalhar bem a leitura nestes 1º., 2º. e 3º. anos, as crianças não terão grandes problemas de ortografia e terão repertório para produzir textos, [formatar e expressar] suas ideias”, completa Verônica. Ela alerta que, passado o período da alfabetização, torna-se mais difícil estimular este hábito nos pequenos.
Benefícios
Os benefícios de um processo bem-sucedido de alfabetização e letramento são percebidos durante toda a vida escolar da criança, uma vez que a habilidade de interpretar e relacionar textos e conteúdos é fundamental para o estudo de todas as disciplinas.
“Este processo dá ao aluno a possibilidade de avançar, de conseguir vencer os conteúdos da escola básica. Os estudantes que não entendem os textos têm uma deficiência que vem desta etapa. Se a alfabetização [e o letramento] falha, ninguém mais a completa e o aluno vai ‘mancando’ pelo resto da vida”, pontua Verônica.
O papel fundamental da família
Iniciar as crianças no mundo da leitura e da escrita não é uma tarefa exclusiva da escola. As especialistas são unânimes em apontar a importância que o estímulo da família, que começa antes do período de educação formal, tem sobre o processo de alfabetização e letramento dos pequenos.
“Quando os pais se interessam em ler para a criança, em demonstrar que o hábito da leitura é uma situação boa, eles estão pré-alfabetizando seus filhos, desenvolvendo o interesse deles e fazendo com que se sintam motivados para a realização deste processo na escola”, explica Cíntia de Moraes Voss, coordenadora pedagógica do ensino fundamental I do Colégio Santo Anjo.
Essa leitura, por sua vez, não deve estar centrada somente no ato de verbalizar o texto. De acordo com Cíntia, é importante que os pais questionem quais eram os personagens, o que a criança achou da história e o que aprendeu com ela, ou seja, relacionem o texto à vivência do filho.
A coordenadora dos 6º. e 9º. anos do Colégio Nossa Senhora de Sion, sede Solitude, Marilize Ribeiro de Souza, acrescenta que disponibilizar um tempo para brincar com a criança é outra medida que contribui para o sucesso do letramento e da alfabetização. Entre as atividades sugeridas estão a visita a ambientes que propiciem a leitura (como bibliotecas e livrarias), jogos que estimulem a concentração e a atenção (como dominó e memória) e o estímulo à leitura de placas (e o entendimento de seus significados) durante os percursos realizados pela família.