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 | Sara Naomi Lewkowicz The New York Times
| Foto: Sara Naomi Lewkowicz The New York Times

Carmen Laboy começou a dar aula de música na Christopher Columbus High School no Bronx, em 1985; na época, havia três bandas: a menor tocava "Malagueña" e marchas na lateral da quadra no intervalo dos jogos de basquete, e desfilava na Morris Park Avenue durante a parada do dia de Cristóvão Colombo; a de jazz entretinha o público no Festival Gastronômico da Ninth Avenue, chegando até a ser responsável pela recepção do público no jantar da cerimônia de entrega do Citizens Budget Commission, no Waldorf Astoria.

Hoje, a Columbus não existe mais. O prédio que ocupava agora abriga cinco escolas de ensino médio menores, e os professores de música têm trabalho para reunir quórum para uma única banda de pequeno porte. Trabalhando na antiga sala de Laboy, no subsolo, Steven Oquendo recruta alunos do campus para um único período de aulas de sua escola, a Academia Preparatória Pelham, apesar dos horários diferentes e prioridades acadêmicas conflitantes.

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"É bem mais complicado ensinar, mas a gente sempre dá um jeitinho", diz ele.

Entre 2002 e 2013, a prefeitura de Nova York fechou 69 escolas de ensino médio, a maioria de grande porte, com milhares de alunos, para substituí-las por versões menores. Em termos acadêmicos, as novas, sem dúvida, são muito melhores para os alunos. Em 2009, ano anterior ao do início da desativação da Columbus, a escola tinha uma média de graduação de 37 por cento; em 2017, as cinco que a substituíram apresentaram uma média cumulativa de 81 por cento.

Porém, uma desvantagem dessas instituições alternativas é que é muito mais difícil para elas oferecerem currículos especializados, sejam de esportes ou atividades como arte ou música. No caso dessa segunda, um programa sólido exige um número considerável de alunos e a verba proporcional para que se possa oferecer uma sequência de aulas que permita aos alunos fazerem algum progresso e chegarem a tocar em um grande grupo, onde tenham a oportunidade de ensaiar um repertório complicado e sentir na pele o que é tocar na faculdade ou profissionalmente.

"Em uma banda grande, você não é o único trompetista; são, no mínimo, sete; como também não é o único clarinetista, tem que ter pelo menos dez. Em um grupo grande, o repertório aberto ao aluno é muito maior, ao contrário das bandas pequenas", conta Maria Schwab, professora da Escola Pública 84, em Astoria, no Queens, que também é parte do júri dos festivais organizados pela Associação de Música das Escolas do Estado de Nova York. 

O administrador responsável dos novos colégios, Richard A. Carranza, que também toca em uma banda mariachi, afirma que pretende dar ênfase às artes, o que pode beneficiar principalmente os alunos de baixa renda ou em desvantagem socioeconômica, de acordo com o Fundo Nacional para as Artes. Uma análise dos estudos longitudinais, realizada em 2012, concluiu que os alunos do oitavo ano que estavam envolvidos com artes tiravam notas mais altas nas provas de Ciências e Redação do que os colegas; já os estudantes do ensino médio que ganhavam créditos em Artes tinham médias gerais mais altas e tinham mais probabilidades de se formar e fazer uma faculdade.

A educação musical nas escolas nova-iorquinas já enfrentava dificuldades antes mesmo do fim dos colégios de ensino médio mais abrangentes. Durante a crise fiscal da década de 70, as escolas demitiram milhares de professores de Arte. Muitos anos depois, elas ainda contavam com grupos comunitários ou, em alguns casos, as instituições culturais da elite local, para oferecer instrução musical em meio período, geralmente através de programas de artistas visitantes.

O currículo musical foi recriado nos anos 90, graças em parte à verba da Fundação Annenberg e de uma iniciativa dedicada às artes conhecida como Project Arts, de autoria do ex-prefeito Rudy Giuliani. A renascença, entretanto, não durou muito: no início dos anos 2000, a pressão federal da lei No Child Left Behind ("Nenhuma criança será deixada para trás") levou os distritos escolares urbanos a se dedicarem mais à instrução matemática e de leitura, em detrimento das aulas de artes. Na cidade de Nova York, o Project Arts foi dissolvido e o então prefeito Michael Bloomberg começou a desmantelas as "fábricas de desistentes" da cidade.

As novas escolas, menores, têm dificuldade em oferecer programas especializados, seja em música ou esportes. Alguns diretores alegam que gostariam muito de fazê-lo, mas têm que dar prioridade para as matérias acadêmicas básicas.

É o caso de Sandra Burgos, da Astor Collegiate Academy, escola de 481 alunos situada no segundo andar do campus Columbus; ela revela que adoraria poder contratar um professor de música, mas com recursos limitados – apenas 28 professores e 17 salas – considera mais importante oferecer cursos de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática.

"São os campos em que haverá mais empregos disponíveis para essa garotada", afirma.

Além de não ter professor, a escola também não possui uma sala com proteção acústica onde os alunos possam tocar. Antigamente, um professor de Informática liderava um Clube de Violão depois das aulas, mas quando ele saiu o esquema acabou – e os oito violões da escola agora ficam trancafiados em um dos armários de equipamentos.

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"Em todos os EUA, a participação musical nas escolas de ensino médio se mantém relativamente estável há pelo menos vinte anos", informa Mike Blakeslee, diretor-executivo da Associação Nacional para Educação Musical. Acontece que há variações drásticas entre os distritos, entre os quais a participação das escolas menores e das autônomas (charter) é bem menor.

Os colégios de pequeno porte têm dificuldade em montar bandas que toquem composições clássicas com peças para dezenas de instrumentos – arranjos que, segundo os educadores, melhoram a habilidade, desafiam os alunos e preparam-nos para o estudo continuado. Em muitos casos, inclusive, a avaliação do estudante que disputa uma vaga em conservatório é baseada nesse tipo de repertório.

Bandas menores não têm condição de tocar esse material. Janet Grice, professora de Música do Bronx que se aposentou no ano passado, adora o som de uma ala enorme de instrumentos de sopro tocando uma marcha tradicional, mas sua escola não tinha dez flautistas e oito clarinetistas; por isso, acabou ensinando seus alunos a tocar jazz das big bands, uma forma de notação musical com partes escritas mais curtas e mais espaço para a improvisação.

Da mesma forma, conforme o número de matrículas na DeWitt Clinton High School vai diminuindo, Tim Bayless, professor de Música veterano, agora tem que ensinar os membros da banda diminuta os arranjos simplificados de composições clássicas – e o faz reescrevendo os arranjos sozinho ou utilizando uma partitura Build-A-Band.

"O material é adequado, mas obviamente não pode ser tão bom quanto algo que é arranjado e orquestrado especificamente para o clarinete baixo aqui, o sax tenor acolá, e tal. Tentamos amarrar tudo da melhor maneira possível e, de quebra, ainda fazer com que os alunos se sintam estimulados."

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