| Foto: HEDESON ALVESANPr

A maioria dos professores das escolas públicas do Brasil não veem comprometimento das secretarias de Educação com a melhora de aprendizagem dos alunos, além de não estarem, segundo os docentes, alinhadas à realidade das escolas. No geral, a insatisfação com os órgãos centrais dos governos estaduais e municipais é até superior ao conhecido descontentamento com as condições de trabalho.

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O que mais os professores querem é a maior oferta de qualificação profissional e serem ouvidos nas discussões e construções das políticas públicas.

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O panorama aparece na pesquisa Profissão Docente, encomendada pelo Movimento Todos pela Educação e Itaú Social e divulgada nesta segunda-feira (30).

Realizada pelo Ibope Inteligência em parceria com a Conhecimento Social, a enquete ouviu 2.160 professores de educação básica de escolas públicas e privadas de todo país.

Na maioria das perguntas, os professores foram convidados a atribuir uma nota que indicava o nível de concordância com afirmações sobre as temáticas abordadas. As médias gerais têm margem de erro de dois pontos percentuais.

Levando em conta apenas os profissionais das públicas, 59% indicam que as secretarias de Educação não estão efetivamente preocupadas com a melhoria da aprendizagem dos alunos. Para 66% dos docentes, os programas das pastas não estão alinhados com a realidade das escolas; 63% acha que as secretarias falham em dar continuidade a bons programas e 65% entendem que os governos não costumam realizar ajustes em seus programas quando estes não funcionam bem.

A atuação dos governos em questões ligadas à carreira dos professores também é mal avaliada de maneira geral. O apoio relacionado à saúde e questões psicológicas do professor é reprovado por 84%. A política de salário das secretarias é rejeitada por 73% e os critérios de progressão na carreira, por 66%.

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A baixa atratividade da carreira docente é vista como um entrave para a melhoria da qualidade dos professores. Segundo especialistas, a busca por melhores resultados na educação tem na questão docente seu ponto principal.

Para a presidente do Todos Pela Educação, Priscila Cruz, a baixa avaliação do trabalho das secretarias de ensino expõe um histórico de falta de confiança dos profissionais que estão na sala de aula com os órgãos centrais da gestão. Há uma falha no encadeamento das políticas para que as ações planejadas cheguem na sala de aula.

“É preocupante que a ainda tenhamos gestores que achem que estão fazendo política pública ao editar normas, aprovar decretos. Fazer política pública é começar por aí, mas é sobretudo fazer isso chegar na ponta, para ser implementado na sala de aula”, diz ela, ao ressaltar que é no trabalho na sala de aula que a política educacional acontece de fato. Por isso, diz ela, a importância desse diagnóstico.

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Priscila ainda relaciona esse resultado a outro dado da pesquisa, que é a alta demanda dos professores serem ouvidos pelos governos. “É importante ouvir o professor. É diferente de outras áreas, porque o professor na sala de aula não vai executar um protocolo definido”.

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A pesquisa revela uma sensação de desvalorização dentro da própria categoria: cerca de um terço dos professores não se sente satisfeito com a atividade docente e metade dos professores não recomendaria a própria profissão. O baixo reconhecimento da carreira na sociedade, salários ruins e a rotina desgastante estão por trás dessa percepção.

Para reverter esse quadro de desvalorização, 62% apontam a necessidade de pagar maiores salários. Calcula-se que o rendimento médio dos professores equivale a pouco mais da metade do que ganham, também na média, profissionais de outras áreas com a mesma formação.

Apesar da centralidade da questão salarial para a categoria, outros pontos aparecem como medidas mais esperadas para a valorização dos professores.

A cada três professores, dois apontam qualificação continuada (de professores que estão na escola) e escuta dos docentes para a formulação de políticas educacionais como as principais medidas para valorizar a profissão.

Ainda sobre a necessidade de serem ouvidos, 64% indicam a fragilidade de um canal de comunicação entre os professores e a secretarias de Educação. Para 72%, o envolvimento dos professores nas decisões sobre os rumos da política educacional não é bem atendido pelos governos.

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Com relação às condições de trabalho, a média mais negativa é a que se refere ao acesso a recursos tecnológicos e à internet nas escolas, com 60% de reprovação. A presença de recursos e materiais pedagógicos e a própria infraestrutura das escolas aparecem na sequência, com 52% e 47% de insatisfação, respectivamente.

Entre os professores entrevistados, 62% têm renda pessoal de até R$ 4.770. Quase um terço dizem que realizam alguma atividade extra. Entre os professores que atuam nas escola privadas, essa ocorrência é maior.

O Brasil tem 2,2 milhões de professores. Segundo cálculo do governo federal divulgado no ano passado, a média salarial da categoria é de R$ 3,3 mil.