Na sala dos professores da Universidade Positivo em Londrina, cerca de 50 pessoas, entre professores e funcionários, aguardavam a chegada do futuro ministro da Educação do governo de Jair Bolsonaro (PSL), Ricardo Vélez Rodriguez. O evento, promovido pela instituição nesta segunda-feira (26), foi uma forma de parabenizar o colombiano naturalizado brasileiro pela indicação para comandar uma das pastas mais importantes do governo federal.
Antes da entrevista coletiva, Rodrigues fez questão de adiantar que falaria como professor, já que ainda não “assumiu a caneta”. Mas passado o protocolo da homenagem, ele conversou sobre diversos temas, como a reforma do ensino médio e a não obrigatoriedade de todos fazerem universidade, em sua opinião, o projeto Escola Sem Partido, ensino a distância, escolas militares, gestão das universidades públicas e a discussão sobre gênero nas salas de aula.
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Sobre esse último, o futuro ministro foi enfático ao explicar por que não concorda com a abordagem do assunto nas escolas. “Não concordo, por uma razão muito simples: quem define o gênero é a natureza, é o indivíduo. Então a discussão da educação de gênero me parece um pouco abstrata”, disse. Ele citou exemplos de províncias do Canadá, que por terem autonomia administrativa e governos conservadores aboliram a educação de gênero imposta pelo governo federal.
“Eu acredito que quando consultadas as pessoas onde moram, enxergando o indivíduo, a educação de gênero é algo que vem de cima para baixo, de uma forma vertical, e não respeita muito as individualidades. A culminância da individualização qual é? É a sexualidade. Então, se eu brigo com um indivíduo, eu vou brigar com a sexualidade e vou querer regulamentar a sociedade por decreto, o que não é bom, um tiro fora do alvo.”
Rodriguez defendeu uma melhora nas condições de ensino nas escolas fundamentais nos municípios, em contraponto à visão centralizadora vigente nas últimas décadas. Ele citou o exemplo da Escola Nova, de Anísio Teixeira, como um bom exemplo do que precisa ser feito pelos próximos anos pelo Ministério da Educação.
“Temos que partir para uma visão que é pensar o cidadão onde ele mora, no município. Acho que hoje valeria a pena trazer de volta essa perspectiva de melhorar as condições da educação desde as escolinhas municipais. Decerto que o município é a escola primária da democracia. Certamente é aí onde se forma a consciência cidadã, a educação para a cidadania e onde se pode começar a resgatar a qualidade do nosso ensino”, detalhou.
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Sobre a discussão do Projeto Escola Sem Partido, o futuro ministro disse não acreditar em um possível cerceamento ou mesmo violação de direitos de estudantes e professores. Ele afirma ter acompanhado uma das sessões da Câmara dos Deputados em que se discutiu o tema “de forma muito aberta”. Mesmo assim, defendeu uma regulamentação sobre o assunto.
“A polêmica que surgiu é sobre se pode haver ou não doutrinação dos nossos alunos. Eu acho que a doutrinação não é boa. O aluno, nos primeiros anos do ensino básico, no ensino fundamental, tem que ser educado fundamentalmente para integrar-se na sua comunidade no país, que é um país suprapartidário. Não é um partido político que vai fazer com que o menino, o jovem, tenha consciência cidadã”, defendeu.
Professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rodriguez sugeriu que o modelo das escolas militares seja seguido por outras instituições de ensino do país. O objetivo, garante, não é tornar todas as escolas unidades militares, mas sim mostrar que é possível ter eficiência e disciplina também em outros ambientes.
“Os colégios militares hoje representam para o Brasil o que há de melhor em termos de qualidade e exigência de disciplina. É interessante, ao visitar um colégio militar a gente fica surpreendido como professor. Ao passo de que quando a gente entra numa sala de aula de moleques é aquela zorra, para fazer silêncio é difícil. No colégio militar todos ficam em pé, cumprimentam o professor e se sentam quando a gente diz que eles estão dispensados. É uma disciplina rara de se ver. A eficiência funciona. A eficiência se vê nos resultados. Acho que os colégios militares são uma espécie de arquétipo do que há de bom e do que se pode fazer de bom pela escola”, explicou.
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Alvo de críticas do presidente eleito, as provas do Enem também devem ser reformuladas na gestão de Rodriguez à frente do MEC. O futuro ministro disse que há profissionais e instituições excelentes que podem aplicar as provas com isenção. Ele citou também casos de alunos que teriam respondido às questões de forma contrária às próprias convicções com medo de tirarem uma nota baixa na avaliação. Perguntado se o questionário passará pelo crivo pessoal de Bolsonaro, Rodriguez disse que ninguém vai impedi-lo. “Ótimo que o presidente tenha interesse pela qualidade das nossas provas”, afirmou.
O futuro ministro também avaliou como positiva a possibilidade de ensino à distância – “ensino digital”, como ele definiu, com a garantia de acesso das crianças a toda tecnologia disponível. Avaliou o Brasil como atrasado no tema, em parte por conta da reserva de mercado imposta aos produtos de informática nos anos 1980, e que a adoção desse método precisa ser feita com base no bom senso. “Acho que é bem vindo o ensino digital com as condições que isso implica: preparação de tutores e estabelecimento de uma rede que crie uma interconexão com isso Não é a criança sozinha em frente a um computador, não. É a criança utilizando todos os recursos da tecnologia”, disse.
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Melhor gestão de recursos humanos e uma maior cobrança por resultados foram duas medidas propostas por ele como saída para a escassez de recursos nas universidades públicas – que devem permanecer públicas, garante Rodriguez. Nas contas do futuro ministro, um estudante destas instituições sai entre 4 e 5 vezes “mais caro” que um estudante de universidades particulares, e que essa diferença de investimento precisa ser “justificada ao eleitorado, que é quem financia as instituições”.
Rodriguez avaliou a reforma do ensino médio realizada durante o governo de Michel Temer como “bem encaminhada, mas incompleta”. Ele tratou como “bobagem” a ideia de que a finalidade desta etapa do ensino seja uma vaga nas universidades, e que as escolas devem preparar os estudantes também para o mercado de trabalho.
“Nem todo mundo é chamado à universidade. É bobagem pensar que a democratização da universidade universal é a finalidade. Não, nem todo mundo gosta de universidade. Eu acho que o segundo grau teria como finalidade mostrar ao aluno que ele pode por em prática esses conhecimentos e ganhar grana com isso. Como os youtubers estão ganhando grana sem frequentar universidades.”
Por fim, Rodriguez afirmou que a prioridade dele à frente do Ministério da Educação é possibilitar que os educadores “abram a mente e o espírito” para compreender que há outras formas de ensino e educação.
“Vou tentar dar importância às pessoas, dar importância aos alunos em sala de aula, ao professor e à professora que se sentem oprimidos pela violência que há em sala de aula, à capacitação dos nossos docentes e ao salário. Isso precisa ser equacionado. Não podemos ficar somente reféns de uma doutrinação gamsciana de cunho marxista que terminou prevalecendo em muitas universidades e na formação de muitos mestres. O que é ensino? Transmitir conhecimentos que você pode levar à prática. O que é educação? Transmitir conhecimentos que você pode levar à prática com valores. Ora, a vida humana sem os valores perde o interesse. Valoro, logo existo. É a questão do valor como cidadão que deve ser incutido ao longo de todo o processo educacional.”
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