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Níveis de doença e stress entre os professores são alarmantes

 | Kat Smith
(Foto: Kat Smith)

A julgar por pesquisas recentes, a falta de professores nas escolas deve se tornar um problema grave no Brasil no futuro próximo - seja por adoecimento, seja por desestímulo pela carreira interesse na carreira.

Levantamentos feitos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e pelo Conselho Nacional de Secretários de Estado da Administração (Consad) entre 2011 e 2017 mostram que a insatisfação dos professores brasileiros da rede pública chegou a níveis alarmantes. O grande fator negativo é que profissionais iniciantes estão mais desmotivados do que os profissionais mais experientes.

Segundo a professora Juliana Radaelli, do departamento de Psicologia da PUCPR, as más condições de trabalho estão ligadas diretamente ao desinteresse pela profissão: a docência acaba se tornando a última das opções de profissionais especializados em suas respectivas áreas. “Registramos depoimentos de jovens professores que já pensam em abandonar a profissão. Podemos pensar que, em um futuro não muito distante, não teremos muitas pessoas dispostas a ensinar”, prevê. 

A pesquisa conduzida por Juliana, em processo de conclusão, tinha como mote inicial calcular o nível de adoecimento e stress entre professores mais novos e outros de carreira acima de dez anos na rede estadual. 

Após visitar cinco escolas de Curitiba e entrevistar quase uma centena de profissionais, porém, a pesquisadora descobriu que o problema ia além: mais de 35% dos professores com menos de dez anos de docência entrevistados já estão no nível de stress de “quase exaustão”, que no critério da pesquisa leva em consideração o momento em que há risco do surgimento de doenças graves. Esse estado, aliás, precede apenas mais um, o da síndrome de Burnout, esgotamento físico e mental cujas consequências podem levar à depressão, dependência química e, em casos extremos, ao suicídio. 

Outro dado preocupante é o índice de psicopatologias declaradas pelos participantes da pesquisa: 40%. Dentro deste grupo, 59% declararam ter depressão. “Podemos interpretar isso como um alerta para a necessidade de mudanças na atenção a esses profissionais”, avalia Juliana. 

Apesar da amostra baixa e regionalizada, os números corroboram com uma tendência constatada há mais de cinco anos em pesquisas de maior representatividade. Segundo um levantamento feito em três estados e no Distrito Federal pelo Consad, a educação é responsável pela maior parte dos servidores públicos afastados por doenças. 

No Distrito Federal, o índice chama a atenção: 58% dos profissionais da área são afastados pelo menos uma vez por ano. Na visão do secretário de Saúde do Trabalhador no Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF), Manoel Alves Filho, os principais motivos para isso são a “baixa remuneração, o pouco reconhecimento do trabalho e a perda da identidade profissional”. 

Outra pesquisa, feita em 2012 pelo Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) com 9 mil professores, aponta outros agravantes para o adoecimento e stress dos professores. O excesso de estudantes em sala de aula, a violência e a falta de tempo para planejar aulas e corrigir provas, que leva profissionais a ocuparem o tempo livro com trabalho, foram os motivos mais citados para justificar a insatisfação. 

 

Os prognósticos são negativos, em médio e longo prazo. A interpretação dos números é lógica e clara: se não contornada, a questão pode gerar desdobramentos como a falta de profissionais ou baixa qualificação. “Nosso estudo refutou, surpreendentemente, a ideia de que o descontentamento com a profissão é progressivo e tende a ser maior nos docentes com mais tempo de carreira”, diz Juliana. “Muito disso pode estar relacionado a uma quebra de expectativas do professor com relação a profissão: a falta de reconhecimento social, à frustração com a realidade educacional e, consequentemente, a uma perda da identidade do sujeito como um trabalhador da educação”, conclui.

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