Os primeiros anos de ensino são decisivos para a formação intelectual das crianças. É no começo da infância que a capacidade cognitiva é mais elevada e as bases da aprendizagem são lançadas, influenciando toda a trajetória escolar. Mas o perfil dos profissionais de educação infantil não corresponde a essa expectativa: com má formação dos professores, as crianças não têm acesso às melhores possibilidades de aprendizagem.
Nos centros municipais de educação infantil do Brasil, o perfil dos professores é de formação de ensino médio em Magistério. Essa é a única fase de ensino em que os profissionais não precisam ter formação de ensino superior. As políticas públicas ainda priorizam o ensino fundamental, que se inicia com o 1º ano. Mas não deveriam.
A falta de formação dos professores na primeira fase de ensino está relacionada à abordagem da própria educação infantil. As instituições de educação pouco se diferenciam de creches, locais voltados para o cuidado da criança, sem maiores preocupações com o seu desenvolvimento intelectual.
Essa abordagem é discutida pela pedagoga Vera Regina Bolsson Escobar em pesquisa sobre a importância da formação do professor na educação infantil. “A história do atendimento à infância brasileira nos remete a um tempo em que trabalhar com criança era algo a ser feito de qualquer maneira, ou por qualquer profissional, desde que fosse ‘mulher’ e tivesse um ‘jeito’ para lidar com criança”, explica Vera.
Formados são minoria
O estudo “A gestão da educação infantil no Brasil”, realizado em 2011, aponta que 65% dos professores que atuam nessa fase de ensino não tem qualificação específica para trabalhar com educação de crianças. O estudo ainda revela que 9% dos diretores fizeram pós-graduação em educação infantil nas unidades municipais – o cargo, aliás, nem sempre existe nos centros de educação infantil, de acordo com a pesquisa.
No estudo, foram analisadas 180 escolas públicas e conveniadas de seis capitais brasileiras. Também foram realizadas entrevistas com membros das secretarias estaduais de educação, gestores e membros das comunidades. Por fim, os pesquisadores observaram e analisaram o cotidiano de quatro escolas de educação infantil.
De modo similar, no Reino Unido, o número de professores sem qualificação teve um aumento de 62% desde 2012. Naquele ano, as escolas públicas passaram a poder empregar professores sem formação na área em que deveriam lecionar.
Esse cenário é reprovado pelos pais de crianças em idade escolar: lá, 80% dos pais não querem que seus filhos frequentem escolas que não exigem qualificação adequada dos professores. Já para 73% dos pais, o emprego de profissionais sem qualificação em escolas públicas é uma tática para “economizar dinheiro, não melhorar o padrão de qualidade”.
“Os professores não qualificados não têm treinamento garantido para proteger as crianças, controlar uma classe ou adaptar o ensino para responder os pontos fortes e fracos de todos os alunos. Mas com essa lei, eles são responsáveis pela educação de centenas de milhares de nossos filhos”, declarou Mike Kane, Ministro Paralelo para as Escolas.
Investimento na educação infantil deveria ser a parte mais importante de um programa educacional. Você concorda? ð¤Via Ideias
Publicado por Gazeta do Povo em Quinta-feira, 2 de novembro de 2017
Formação
Para uma mudança no perfil dos profissionais – e na qualidade do ensino ofertado – são necessárias iniciativas de formação, não apenas para os novos professores de educação infantil, mas também para aqueles que já atuam na sala de aula, segundo a pesquisa.
“Há que se propor a melhoria da formação, não somente nos cursos de graduação, mas em projetos de educação continuada e em serviço, que permitam às pessoas que já atuam ter uma experiência contínua de capacitação”, diz Vera.
Iniciativas de formação para profissionais da educação infantil podem suprir a demanda por docentes qualificados. Nos Estados Unidos, a District 1199C Training and Upgrading Fund, organização dedicada à capacitação de trabalhadores da educação e saúde, oferece cursos de graduação gratuitos na Community College of Philadelphia (CCP) para professores de educação infantil que não possuem diploma de curso superior.
O programa mantém parceria com centros de educação infantil na cidade da Filadélfia para levar as oportunidades de formação até os profissionais que trabalham nas instituições.
Milei x Lula: G20 promete confronto de visões que testará pragmatismo entre Brasil e Argentina
Efeito Milei: como as maiores empresas argentinas cresceram 130% no último ano
Ministro de Lula endossa xingamento de Janja a Musk: “Estava preso nas nossas gargantas”
A tática do PCC para evitar vazamento de informação no mundo do crime