João Guimarães Rosa falava diversos idiomas, mas afirmava que os aprendera apenas para enriquecer a própria língua. Passeava do português clássico à linguagem regional, passando pela criação de neologismos, com o mesmo domínio. Autor de Grande Sertão: Veredas, achava a palavra suas formas e significados um elemento fascinante. Dizia que, quando completasse 100 anos (o que aconteceria em 2008), publicaria um livro que seria seu romance mais importante: um dicionário. Veja as palavras criadas ou resgatadas por ele e que figuram em nosso vocabulário:
Nonada
Palavra que abre o livro Grande Sertão: Veredas. É um neologismo criado por Guimarães Rosa resultante da aglutinação de non forma arcaica de não com nada. Maneira de reforçar uma coisa sem importância, uma ninharia, nada.
Ensimesmudo
Outra invenção do autor. Mistura das palavras ensimesmado e mudo, usada para descrever alguém fechado. Guimarães Rosa falava que pretendia fugir dos lugares-comuns. Para ele, a sonoridade e a forma tinham tanto valor quanto o significado.
Caburé
Do tupi Kabure (que vive no mato). É o equivalente a cafuzo, caboclo, caipira. A linguagem do sertanejo, vivenciada pelo autor na infância, o seduzia e foi um dos principais elementos de sua obra.
Jerimbamba
Palavra do linguajar popular de Minas Gerais que expressa um briga violenta que resulta em morte. A obra do escritor está recheada de expressões regionais que são quase dialetos dentro do português. Segundo ele, o contexto seria suficiente para que o leitor compreendesse o significado.
Nevralgia
Dor lancinante (aguda) e intermitente (não contínua) no trajeto de um nervo e em suas ramificações. Mas no livro Sagarana ela aparece propositalmente dita de forma errada: Nelvralgia. A intenção é demonstrar que a personagem, pedante e ignorante, quer falar de maneira difícil.
Pantomima
Arte ou ato de expressão por meio de gestos, de mímica, ou de expressões corporais e fisionômicas sem a utilização de palavra ou música. Tem origem grega, pantómimos, e foi usada em Grande Sertão: Veredas para descrever a apresentação teatral de um circo.
Entalagado
Usada para dizer que a pessoa bebeu em talagadas. Ou seja, que tomou uma porção de bebida alcoólica de uma só vez. Foi escolhida por descrever por si só a forma como o personagem ficou embriagado.
Fontes: Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa (Editora Nova Fronteira); Sagarana, de João Guimarães Rosa (Editora Nova Fronteira); O Léxico de Guimarães Rosa, de Nilce SantAnna Martins (Editora Edusp); Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de Antônio Geraldo da Cunha (Editora Nova Fronteira); Novo dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (Editora Nova Fronteira).