Se os procrastinadores tivessem um lema, talvez fosse a frase popularizada pelo escritor Fernando Sabino: “No fim tudo dá certo, e se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim”. O problema é que, na vida real, nem sempre funciona assim.
A procrastinação — mania de adiar ou, no bom português, “enrolar” a execução de uma tarefa — tem se tornado mais frequente com o turbilhão de informações (e distrações) gerado pelas novas tecnologias. Mas, de acordo com especialistas, existem técnicas capazes de ajudar os alunos a manterem o foco.
Segundo o psicólogo Maurino Bertoldo Silva, o ato de procrastinar é recorrente entre os estudantes, principalmente os brasileiros. “Nós procrastinamos porque partimos do pressuposto de que no final tudo dará certo. Esse excesso de confiança é o que nos faz adiar algo que deveríamos fazer agora”, diz.
Para ele, o hábito pode afetar o rendimento do aluno e, mais do que isso, comprometer a sua saúde mental. “Quanto mais o estudante deixar para depois, mais matérias serão acumuladas. Como consequência, seu nível de ansiedade vai subir, dificultando o acesso às informações que o próprio cérebro já havia guardado”.
A psicoterapeuta e coach Ludmila Cioffi, concorda. Segundo ela, a procrastinação pode comprometer o ano letivo inteiro. “Se o estudante começar a enrolar desde o início do ano ou semestre, a tendência é que as tarefas se acumulem demais. O resultado é que ou ele deixa algumas para trás ou fará tudo mal feito”, afirmou.
Para vencer esse problema, a psicoterapeuta diz que existem diversos truques. No entanto, nem todos são úteis para qualquer estudante. Segundo ela, o mais importante é que a pessoa entenda as suas limitações e conheça seus pontos fortes.
“Existem alunos capazes de estudar horas seguidas sem perderem a produtividade, mas nem todos são assim. Precisamos aceitar que nem sempre damos conta de fazer o que idealizamos”, afirma.
Estabelecer metas também é essencial para aumentar o foco. Segundo os especialistas, o ideal é definir objetivos a curto e médio prazo. “Se o conteúdo for muito grande, o aluno pode dividi-lo por dia. O segredo é ser realista consigo mesmo”, afirma o psicólogo Bertoldo.
Foi exatamente isso que fez a estudante de design de interiores, Ana Carolina Cagnoni, parar de procrastinar. Quando ela começou a planejar os estudos, a produtividade aumentou muito.
“Eu tinha crises de ansiedade que pioravam nas vésperas de provas e trabalhos. Resolvi me organizar pelo meu próprio bem”, contou. A estudante diz que, atualmente, sinaliza na agenda datas importantes relacionadas à faculdade.
“Eu vou anotando tudo. Se eu tenho um trabalho grande para entregar, dedico alguns dias para realizá-lo. Organizo as tarefas em ordem de prioridade e, sempre que alguma é cumprida, dou um ‘ok’ na agenda”.
Além de ter metas bem definidas, os especialistas afirmam que é possível vencer a procrastinação seguindo alguns passos. Conheça nove deles.
1) Modifique o ambiente
O psicólogo Maurino Bertoldo Silva afirma que, muitas vezes, modificar o ambiente de estudo pode fazer muita diferença. O recomendado é deixar a mesa sempre arrumada e evitar ao máximo as distrações.
“É importante bloquear as redes sociais, desligar o telefone, fechar a porta. Encontre o que está te distraindo e livre-se disso”.
2) Tenha a agenda sempre à mão
Para Bertoldo, também é importante manter uma agenda sempre disponível. Pode ser um caderninho ou até mesmo um cartaz. “O importante é que todas as metas do estudante estejam detalhadas, com a data e o horário em que elas devem ser cumpridas”.
3) Recompense a si próprio
Recompensar a si mesmo também é importante para manter o foco, segundo o especialista. Nesse contexto, uma boa alternativa é fazer o que gosta assim que uma meta for cumprida. Vale comer chocolate, conversar com amigos ou assistir a uma série no computador.
4) Encontre alguém para lhe ajudar
O psicólogo Sérgio Fonseca tem outra dica para quem está tentando vencer a procrastinação. Segundo ele, muitos alunos têm dificuldades em manter o foco quando não há ninguém vigiando seus passos.
“Crie um círculo de amizades à prova de procrastinação. Se você estiver com dificuldades em cumprir suas metas, encontre um amigo ou um familiar para te cobrar que algo seja feito”, recomendou o especialista.
5) Enrole de forma produtiva
Fonseca afirma que, mesmo que o estudante enrole, é importante que ele tente fazer coisas produtivas durante esse tempo. “Se você não quer terminar um trabalho agora, tente finalizar, pelo menos, algumas tarefas menores”, alertou.
6) Não se culpe por procrastinar
O psicólogo Tim Pychyl, da Universidade de Carleton no Canadá, estuda a procrastinação há mais de 20 anos. Em uma conversa com estudantes disponibilizada no Youtube, ele afirmou que quando as pessoas não se castigam por procrastinar elas tendem a não repetir o erro. Ao perceber que uma meta não foi cumprida, o ideal é se perdoar e começar tudo de novo.
7) Pense em você futuramente
Pychyl também recomenda que os estudantes comecem a pensar no “eu futuro” sempre que estiverem procrastinando. Assim, se uma pessoa precisa entregar um trabalho às nove da manhã, por exemplo, uma boa alternativa é imaginar a si mesmo tentando terminá-lo de madrugada.
8) Invista em um bullet journal
O bullet journal é um recurso que tem atraído muitos estudantes nos últimos anos. Considerado uma espécie de agenda e diário, ele serve para listar todas as atividades que uma pessoa deve cumprir em um determinado dia.
A psicoterapeuta Ludmila Cioffi admite que já procrastinou muito e que o bullet journal foi determinante para manter o foco. “Sempre indico o método aos meus clientes. No começo pode parecer uma perda de tempo, mas a verdade é que ele evita muitos imprevistos e torna a rotina mais organizada”.
9) Use a técnica Pomodoro
Funciona da seguinte maneira: o estudante tem 25 minutos sem pausas para estudar um único conteúdo. Ao final desse período, ele deve fazer um intervalo de 5 minutos.
Após quatro sessões de 25 minutos, vem uma pausa maior, de 30 minutos.
Independentemente do método escolhido, o mais importante é que o estudante adapte a técnica à sua realidade. “O que funciona para o outro nem sempre dará certo comigo. Por isso, precisamos buscar aquilo que nos deixa confortáveis”, conclui Cioffi.
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