A média brasileira de pesquisadores por milhão de habitantes é de apenas 600, segundo dados da diretoria científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Este número é mínimo quando comparado ao Japão, que tem 5.500 pesquisadores por milhão de habitantes. Também é pouca se comparada à Espanha, com 2.600 pesquisadores. As feiras de Ciências, tradicionalmente realizadas nas escolas, pretendem mudar este panorama e tornar várias disciplinas mais atrativas.Nara Luz Salamunes, diretora do Departamento de Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação, explica que a ideia das feiras é que "o ensino das Ciências não fique livresco (preso ao livros), pois as crianças devem vivenciá-lo". Ela completa que nestes eventos "os alunos aprendem muito: desde valores básicos até o conhecimento científico propriamente dito."
Desde pequenos
Para Celso Maurício Hartmann, coordenador do ensino médio do Colégio Positivo, há a necessidade de os alunos "pensarem cientificamente". A maior prova disso é um dos trabalhos apresentados entre centenas na última feira realizada pelo colégio.
Os estudantes Beatriz Glaser Pimpão e Raphael Yudi Kai, do 2.° ano do ensino médio, apresentaram uma solução que contribui para a diminuição dos alagamentos nas grandes cidades. Eles desenvolveram um reservatório com defletor (como se fosse uma grelha de churrasqueira) para ser inserido ao lado dos bueiros. Assim, quando o lixo cai nos bueiros fica preso, evitando o entupimento. "Sempre vemos notícias sobre alagamentos e pensamos em uma maneira de evitá-los", conta Beatriz, que participa de feiras de ciências desde a 1.ª série.
Este projeto, que contou com a orientação de alunos de Engenharia Mecânica da Universidade Positivo, ficou pronto em cerca de dois meses.
Hartmann conta que as feiras no colégio acontecem desde a educação básica. A partir da 5.ª série, os trabalhos são avaliados conforme normas científicas e a participação na feira é voluntária. Na última, cerca de 20% dos alunos participaram.
Reciclagem
No Colégio Expoente, as feiras contam com o auxílio da robótica uma ciência que estuda tecnologia e eletrônica. Graças a ela, os projetos ganham vida. A montagem dos trabalhos feitos pelos alunos é realizada nas aulas da disciplina de Robótica. Nelas, os estudantes podem conectar seus projetos a um dispositivo chamado Cyberbox, que é uma interface que liga o trabalho ao computador, fazendo-o funcionar.
Cleber de Freitas Ramos, professor dessa matéria, conta que antes as feiras usavam apenas peças de jogos de montar, o que restringia o projeto a uma disciplina apenas. Na atual forma da feira, "é possível mesclar várias matérias", diz.
Ao final de cada semestre, os projetos (que contam com a participação de toda a turma) são apresentados. Apesar de serem desenvolvidos em grupo para reforçar o espírito de equipe , as notas são individuais. Um destes projetos, selecionado para participar da Feira do Saber em São Paulo, mostra o desmatamento de uma floresta, conta o estudante da turma da 6.ª série, Enzo Kalinki. O trabalho tem direito a lenhador derrubando árvore, fogo (criado através de lâmpadas de led), iluminação nos caminhões e até barco motorizado transportando as toras de madeira.
A colega de turma de Enzo, Caroline Lazzari, conta que o material usado foi todo reciclado, como palitos de sorvete, papelão, papel e o led (que é mais econômico em comparação a uma lâmpada comum). Ela acredita que o trabalho criou uma consciência de responsabilidade. "Tudo começa na escola", diz.