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Ensino superior

O desafio de se adaptar à era digital

Estão reunidos no Rio de Janeiro 1.103 reitores de universidades sediadas em 33 países de todos os continentes | Della Rocca Imagens/Divulgação
Estão reunidos no Rio de Janeiro 1.103 reitores de universidades sediadas em 33 países de todos os continentes (Foto: Della Rocca Imagens/Divulgação)

Estima-se que, em 2025, a população universitária ibero-americana chegará a 45 milhões de alunos, o dobro da comunidade acadêmica atual. O dado reforça a necessidade de as universidades se comprometerem em acompanhar as mudanças da era digital, que têm impacto no mercado, nas necessidades da sociedade e no perfil dos futuros profissionais – questões discutidas no 3.º Encontro Internacional de Reitores Universia, que termina hoje no Rio de Janeiro.

Entre os desafios que as instituições de ensino superior devem encontrar pela frente estão aqueles ligados à reestruturação de conteúdos e de infraestrutura, à internacionalização, à geração de conteúdo científico de forma colaborativa e ao estímulo ao empreendedorismo. Cerca de 40 reitores e pesquisadores da área estiveram à frente dos debates no segundo dia do evento, aberto ontem pelo presidente do Banco Santander, Emilio Botín, que ressaltou a importância de a universidade se preparar para o futuro.

"As sociedades que forem capazes de se desenvolver em conjunto com essa revolução tecnológica e digital irão gerar emprego qualificado e mais competitividade, internacionalização, progresso e bem-estar", afirmou. Ao dizer que o mundo tem se tornado cada vez mais global, dinâmico, digital e completo, Botín defendeu que a universidade ibero-americana deve explorar as possibilidades de uma educação mais aberta e acessível para competir internacionalmente na captação de alunos e dar resposta à formação exigida pelas novas gerações de universitários.

Reinvenção

A necessidade da universidade se repensar e se reinventar diariamente para dar conta das acereladas transformações sociais também foi abordada pelo reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Carlos Antonio da Conceição. "As universidades nunca enfrentaram dilemas tão agudos como os atuais. A universalização do acesso ao ensino superior é uma das questões impostas pelo padrão atual da tecnologia, que exige níveis educacionais cada vez mais altos e formação cada vez mais avançada daqueles que irão dirigir as demais instituições relevantes da sociedade moderna", disse.

A titular da Secretaria Ge­ral Ibero-Americana, Rebeca Grynspan, também destacou a pressão que as universidades sofrem pelo processo tecnológico e como isso afetará o modo como vivemos, pensamos e aprendemos. "É esperada de todos uma capacida­de de adaptar-se e dominar esse mundo em mutação." Mais otimista, Andrew Hamilton, reitor da Universidade de Oxford, lembrou que as instituições de ensino superior têm tido sucesso em todos os desafios que surgiram ao longo de diversas gerações. "Temos respondido às demandas da sociedade. As universidades têm demonstrado impressionante capacidade de responder com valor aos desafios."

Instituições devem substituir a competição pela cooperação

Mediador na sala de debates sobre a relevância das universidades, o reitor da Universidade de São Paulo (USP), Marco Antonio Zago, afirmou que a instituição perdeu o monopólio da produção do saber e que ela precisa se tornar mais inovadora. "No mundo atual, as universidades não podem ser centros isolados de pensamento e serão mais relevantes quando mais conectadas. Temos de pensar em uma grande rede de universidades no mundo todo, cada uma com seus perfil apropriado à sua região." Zago também defendeu que a ideia de competição entre instituições precisa ser substituída pela busca pela cooperação.

A respeito da USP, o reitor falou sobre as estratégias que têm feito com que a instituição se destaque no meio acadêmico, como a atuação da Agência de Inovação. "Tivemos resultados impressionantes e aumento no número de patentes depositados pela universidade, que fez com que ela se tornasse a maior em número de patentes do Brasil", disse. Mas Zago também assumiu os desafios que precisam ser enfrentados internamente para atender às novas demandas sociais.

Obstáculos

Segundo o reitor, é preciso se preocupar com a formação dos estudantes e dar mais atenção à qualificação dos professores. "Ao longo dos anos, foi sendo cada vez menos valorizada e pensada a atividade docente. Para sermos inovadores, temos de oferecer oportunidade para os docentes avançarem tecnicamente e para que, aqueles que tenham uma dedicação especial em sala, sejam premiados", afirmou.

O ingresso na instituição também foi abordado pelo reitor, que revelou um processo de reestruturação na forma de ingresso. "Eu considero que o Enem é muito bom. Acho uma forma bem razoável de seleção, mas não sou eu quem decide. Isso quem decide é o pró-reitor de Graduação", disse. A USP é uma das poucas grandes universidades do país que ainda não aderiram ao Enem como forma de ingresso.

A jornalista viajou a convite dos organizadores do evento.

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