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pseudociência

O estranho curso de “Pedagogia do Prazer” da UFMG

Classe do curso “Pedagogia do Prazer” no primeiro semestre de 2017 | Reprodução/Ser em Si.
Classe do curso “Pedagogia do Prazer” no primeiro semestre de 2017 (Foto: Reprodução/Ser em Si.)

Os alunos da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) tem à disposição uma disciplina pouco usual para o ambiente acadêmico: o curso “Pedagogia do Prazer”, ministrada por G. Fábio Madureira há quatro anos, se aproxima da pseudociência. 

Segundo o currículo divulgado pelo próprio Madureira, ele é formado em letras, sem mestrado ou doutorado. Ainda assim, o professor faz incursões nas áreas da psicanálise e da medicina. A obra de referência da disciplina é o livro “Racionalidade da Sabedoria Popular: energia material humana e sexualidade”, de autoria do próprio professor. 

O livro se baseia na premissa de que possuímos algo chamado Energia Material Humana (EMH) e de que ela é intimamente ligada à sexualidade. A energia negativa, diz ele, é o medo. A positiva, o amor.

“É no processo de produção de uma nova vida, isto é, na vivência sexual, que o indivíduo terá as condições necessárias para detectar suas fixações, e é também por essa vivência que terá como enfrentá-las. Daí que a reprodução de sua própria vida como produto da vivência sexual é tão ou mais importante do que a produção de uma nova vida”, teoriza. 

Em outro trecho, ele afirma que a energia negativa é a raiz de doenças: “Como nosso sistema natural não foi programado para alojar a energia negativa, sua existência provoca um desequilíbrio na equação da matéria (nossos tecidos e/ou órgãos), gerando o processo degenerativo de nossas células, sob a forma de incômodos, mal-estares, dores e doenças”. 

O professor também oferece um método de tratamento de dores que não encontra respaldo na medicina: “Nosso corpo é também e, principalmente, um sistema energético. E todos sabemos que seu controle é exercido pelo cérebro. Logo, podemos atingir um ponto de dor em qualquer lugar do nosso corpo massageando-se seu respectivo ponto de controle, localizado na cabeça”, diz a obra, que chama o método de “lobosofia”, em alusão aos lobos temporais da cabeça.

Ele ensina ainda como “descarregar” energias negativas. “A partir de um certo nível de amadurecimento nessa prática, podemos nos fazer de terra (canal de descarga) para quem anda muito carregado negativamente. Basta colocarmos a mão esquerda em algum ponto dolorido dessa pessoa e sua energia negativa escapará pela nossa mão direita”. 

A obra também cita Karl Marx e Sigmund Freud. Em alguns trechos, parece fundir a obra dos dois pensadores: “Qual é a lógica do capital senão a transposição automática dos (re)sentimentos e valores produzidos e alimentados na relação sexual produtora do medo?”, indaga.

No primeiro semestre de 2017, o curso teve 23 alunos de cursos como física, matemática, biologia, pedagogia, história – todos da Licenciatura, destinada a formar professores.

Sem comprovação

Marcelo Heyde, vice-presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria, não titubeia ao analisar o conteúdo da disciplina: “É uma teoria se nenhuma comprovação”, diz. Para ele, o método de Madureira não deveria ser ensinado como ciência no ambiente universitário. 

Sobre a técnica  da lobosofia, o Heyde também é cético. Ele explica que não é possível estimular o cérebro por meio do toque externo. “Não tem absolutamente nada a ver. Você toca apenas a pele”, diz. “A dor é um dos sintomas na medicina em que mais se percebe efeito placebo. O problema dos métodos alternativos não-validados é que muitas vezes se mascara um diagnóstico importante”, analisa.

Gazeta do Povo procurou a UFMG para indagar, dentre outras coisas, se o professor (que tem status de docente convidado) é remunerado e quais critérios foram usados no convite para que ele ministrasse a disciplina. A assessoria apenas reencaminhou as perguntas para o professor, que não respondeu.

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