O Brasil não tem sido bem-sucedido na educação de 6º ao 9º ano do ensino fundamental, nas escolas públicas e privadas, com poucas exceções. Na última edição do Saeb (2017), 60,5% dos alunos concluintes do 9º ano do ensino fundamental apresentaram conhecimento insuficiente em português e 63,1% em matemática. Dos estudantes que terminaram o ensino fundamental, 22,3% saíram atrasados na relação idade-série, aponta a última edição do Censo Escolar. Por que isso acontece e como mudar esse quadro?
A verdade é que, pelas circunstâncias dessa etapa da educação básica, dar aulas para estudantes de 6º ao 9º ano do ensino fundamental é um grande desafio. É a partir do 6º ano, em geral, que os alunos têm pela primeira vez o contato com mais de um professor e diversas disciplinas. Também é o período em que os estudantes, que estão entrando na puberdade, costumam mudar de colégio e, consequentemente, de grupo de amigos, o que eleva o nível de ansiedade e dispersão.
Leia também: Avaliação mostra que nível do ensino médio está estagnado há 12 anos
E também: Estudo reforça evidência de que a instrução direta é mais eficaz que o construtivismo
Por outro lado, o professor, ao enfrentar uma turma de 6º ano com estudantes em diversos níveis de aprendizagem, em escolas com falta de estrutura e gestão ineficiente – e muitas vezes com pouco preparo recebido na faculdade de pedagogia –, tem dificuldade para identificar problemas e manter a atenção dos alunos do começo ao fim.
Com o passar dos anos, caso as lacunas específicas dos estudantes não sejam suprimidas, eles acabam não acompanhando as aulas, desanimam, pioram o comportamento em sala de aula chegando, muitas vezes, à evasão escolar.
Vias de solução
A primeira medida adotada por escolas que têm melhores índices do 6º ao 9º do ensino fundamental – e deveria ser uma prática comum – é a de diminuir as diferenças de aprendizagem das crianças que chegam ao 6º com aulas de reforço no contraturno e acompanhamento personalizado. Os colégios cívico-militares, por exemplo, acostumados a receber novos alunos em qualquer etapa (nas instituições em que o ingresso é feito por sorteio e não por meio de processo seletivo), mantêm, em geral, um acompanhamento personalizado dos alunos, com reforço escolar nos intervalos ou em outros horários com os melhores professores para nivelar todos ao conhecimento mínimo necessário.
Outra medida essencial é a preocupação com a motivação dos alunos – e erra quem pensa que isso não é importante, pois a aprendizagem sempre é uma “autoformação”, se o aluno não quer ou coloca entraves o ensino é ineficaz. “Estimular os alunos é uma tarefa dos professores e das escolas. Os estudantes vão à escola porque são obrigados, mesmo admitindo ser algo bom para os seus futuros. Então incentivar o interesse faz parte dos profissionais de educação”, diz Ocimar Alavarse, doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP).
A motivação se consegue quando o professor:
- mostra para que servem os conhecimentos (explicar a trajetória de um foguete é mais animador do que apenas ensinar a decorar fórmulas, por exemplo);
- faz com que os alunos descubram no estudo um meio para conquistar sonhos;
- respeita e estimula a vocação profissional dos alunos;
- dá autonomia em algumas decisões;
- prepara melhor suas aulas (os alunos percebem quando o educador não está preparado e param de prestar atenção).
Para atingir esse fim, o esforço dos professores e escolas para investir em recursos que funcionam em outros países – e que nem sempre significa gastar mais dinheiro – nunca é em vão. “Tenho impressão de que a frieza da matemática, por exemplo, atrapalha bastante as crianças a compreendê-la. Precisaríamos de investimento na escola, também para a implantação de laboratórios com jogos e materiais envolvendo problemas, como quebra-cabeças e objetos manipuláveis diversos para a abordagem dos diferentes campos da matemática”, afirma Everaldo Silveira, doutor em Educação pela Universidade de Santa Catarina (UFSC).
Uma terceira medida apontada como importante para melhorar essa etapa é aumentar o número de professores e focar em sua capacitação. “Os conhecimentos previstos para os anos finais são mais complexos que o dos anos iniciais e muitos professores ministram disciplinas para os quais não foram formados”, alerta o estudo “Excelência com qualidade – os desafios dos anos finais do ensino fundamental”, realizado pela Fundação Lemann. Essa realidade exige das escolas um constante empenho em oferecer treinamento e atualização aos professores, o que muitas vezes não acontece ou ocorre de forma deficitária.
Utilizar a tecnologia como aliada
O uso dos celulares e computadores, que fazem parte do cotidiano dos alunos em momentos de lazer, é outra maneira para potencializar o ensino. Segundo Paulo Tomazinho, doutor em Educação pela Universidad Del Mar, no Chile, a utilização desses meios, porém, deve ser crítica e voltada à produção de ciência. Não se avaliam mais os alunos pelo que encontram no Google, mas pela ciência que são capazes de criar a partir desse conhecimento comum. “A tecnologia por si só, não tem eficácia, mas quando se tem um motivo, pode acelerar um processo”, destacou.
Leia também: Pedagogia do Fracasso: o que há de errado na formação de professores