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Imagem ilustrativa.| Foto: Roberto Custódio / Arquivo Gazeta do Povo

O currículo Lattes de Leonor Scliar-Cabral é invejável. Mas o mais admirável nessa educadora é o fato de ser a única pesquisadora, no Brasil, autora de um método sistemático e completo de alfabetização em português, utilizando as últimas descobertas científicas em neurociência: sistema que está sendo utilizado com sucesso em duas cidades do Nordeste, em Lagarto (SE) e São José da Laje (AL).

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Crítica como as faculdades de Pedagogia formam professores: ela tenta, com outros cientistas no Brasil, mostrar por que o construtivismo não funciona para alfabetizar e a importância do método fônico no processo de alfabetização. Ao mesmo tempo, ela faz um alerta ao governo: sozinho, o método fônico não é suficiente para alfabetizar.

Do alto dos seus 90 anos, Scliar-Cabral dá aulas de extensão universitária a distância na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e orienta educadores que utilizam seu método para alfabetizar.

As faculdades de Pedagogia, no Brasil e em outros países, em geral, ensinam aos seus alunos os métodos construtivistas ou diversos tipos de letramento para alfabetizar. Por outro lado, pesquisadores que utilizam a neurociência têm insistido na importância do método fônico para que uma criança seja alfabetizada com sucesso. Nesse cenário, quais são as deficiências dos métodos ensinados nas faculdades de Pedagogia?

As deficiências dos métodos ensinados nas Faculdades de Pedagogia, no que tange à alfabetização, não se restringem a um suposto ‘método’ defendido pelos construtivistas: na verdade, o construtivismo nega a validade de um método de alfabetização, uma vez que parte do pressuposto de que a criança, a partir de suas próprias hipóteses, constrói o conhecimento sobre a escrita.

Em primeiro lugar, refuto a tese de que uma alfabetização de qualidade possa ser efetuada sem método algum: ainda mais, é necessário um bom método. A negação do método na alfabetização só pode ser explicada pela ignorância de seus defensores sobre os princípios dos sistemas alfabéticos, como eles funcionam e como eles são aprendidos.

Isso, porque o ato de ler não é algo natural ao ser humano como o falar?

Tais sistemas alfabéticos são o produto cultural, tardiamente inventado para representar (e não copiar) a fala de uma dada comunidade linguística, de forma permanente e econômica, sem a necessidade de que seus usuários tenham que memorizar milhares de símbolos, cada um deles correspondente a uma palavra, como acontecia no chinês escrito (mandarim): basta saber reconhecer as 26 letras do alfabeto latino e qual o valor que (no português brasileiro, como exemplo) uma ou duas delas têm, ou dependendo da letra que vier depois e / ou da distribuição da intensidade, como na palavra ‘cacique’, em que a primeira e a terceira letra são a mesma, mas o valor é diferente, porque depois da primeira ocorreu um ‘a’ e depois da segunda, um ‘i’. Já na última sílaba, ‘que’, as duas primeiras letras só têm um valor, idêntico ao da primeira letra em ‘cacique’, só que, agora, antes de ‘e’, ou de ‘i’, temos que usar ‘qu’.

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A economia do sistema, que permitiu a democratização do acesso ao texto escrito, teve um preço: por um lado, o reconhecimento dos traços que distinguem uma letra de outra vai de encontro a como os neurônios da visão foram programados para reconhecer quaisquer objetos (animais, rostos, artefatos, etc.), pois tais neurônios desprezam a direção dos traços em suas combinações uns com os outros: você pode ver uma xícara com a alça à direita, à esquerda, em cima ou embaixo do pote e sempre a reconhecerá como uma xícara. Mas o traço da direção é um dos mais produtivos e, às vezes, o único para diferenciar uma letra de outra, como nos seguintes pares: b/d, b/p, d/p, b/q, d/q, u/n.

Por outro lado, já deu para perceber que uma ou duas letras (que, cientificamente, são os grafemas), nos sistemas alfabéticos, aqui exemplificados com o português brasileiro, na leitura, têm um valor, os chamados fonemas. O princípio fundamental dos sistemas alfabéticos é o de que um grafema representa um fonema. Acontece que as pessoas que não foram alfabetizadas (como acontece com a maioria das crianças quando vem à escola) não conseguem chegar ao fonema: quando elas escutam alguém falando, a unidade menor que conseguem perceber é a sílaba. Se você lhes perguntar: “Quantos pedacinhos tem a palavra pato?” Elas responderão: “Dois”. Elas não conseguem desmembrar a sílaba, mas isto é necessário para se alfabetizar.

Os dois aspectos que acabo de expor constituem as maiores dificuldades para a alfabetização (há vários outros que não é possível tratar aqui), mas exigem do educador um bom método para enfrentá-los, um método que permita organizar as atividades de ensino e aprendizagem, seguindo uma ordem de complexidade crescente, dadas as tremendas dificuldades com as quais se deparam as crianças e que possibilite ao professor entender as razões dos sucessos e insucessos, atingindo o objetivo de seu trabalho: torná-las leitores aptos a compreender os textos que circulam socialmente e a produzir aqueles que se fizerem necessários em sua vida escolar, profissional e social.

De um modo geral, os currículos das Faculdades de Educação, no que tange à alfabetização falham não só quanto ao pouco tempo destinado à formação dos educadores, mas à qualidade e especificidade dos conteúdos: não se concebe que tais professores tenham tão parcos conhecimentos sobre a língua oral e escrita, o português brasileiro, que desconheçam quais são as vogais e consoantes e como, na leitura, os grafemas nelas se convertam e, na escrita, a direção seja a oposta.

É necessário, ainda, que os currículos sejam preenchidos com disciplinas sobre o processamento da leitura e da escrita, para que os educadores compreendam onde residem as maiores dificuldades na alfabetização e como enfrentá-las.

De não menor importância, são os laboratórios de leitura e de produção textual, pois não se pode ensinar a ler e a escrever quando o próprio educador não o sabe.

O resultado dessas falhas aparece em diversos indicadores. Um deles são os resultados de 2016, da ANA (Avaliação Nacional da Alfabetização) divulgados pelo INEP em 2017: dos 2,3 milhões de crianças avaliadas no 3º ano do ensino fundamental, um quinto não sabia ler.

Como a senhora avalia o Plano Nacional de Alfabetização, lançado pelo governo de Jair Bolsonaro?

É claro que houve avanços no decreto 9.765, de 11 de abril de 2019 que institui a Política Nacional de Alfabetização. Entre esses, assinalo: a definição de consciência fonêmica, como o “conhecimento consciente das menores unidades fonológicas da fala e a habilidade de manipulá-las intencionalmente”; nos princípios e objetivos, a integração entre as práticas pedagógicas de linguagem, literacia e numeracia;  o “reconhecimento de que o desenvolvimento integral da criança pressupõe a inter-relação e a interdependência dos domínios físico, socioemocional, cognitivo, da linguagem, da literacia e da numeracia’; “aprendizagem da leitura, da escrita e da matemática básica como instrumento de superação de vulnerabilidades sociais e condição para o exercício pleno da cidadania”; o “reconhecimento da família como um dos agentes do processo de alfabetização”.

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Afirmar, no entanto, nos princípios e objetivos, que a fundamentação da proposta se baseia em programas e ações a partir das evidências provenientes das ciências cognitivas não está coerente com muitos de seus conceitos essenciais.

A incoerência tem origem, sobretudo, na desatualização dos autores da proposta a respeito das contribuições mais recentes das ciências cognitivas, em especial, da neurociência da leitura, descritos, por exemplo, no livro Os neurônios da leitura, de Stanislas Dehaene [No Brasil publicado pela editora Penso].

Quais seriam as incoerências do Plano Nacional de Alfabetização?

Exemplifico com os pontos cruciais. No ponto IV, os proponentes arrolam os seis componentes essenciais para a alfabetização: a) consciência fonêmica; b) instrução fônica sistemática; c) fluência em leitura oral; d) desenvolvimento de vocabulário; e) compreensão de textos; e f) produção de escrita.

Em nenhum momento, se referem ao primeiro componente que é o reconhecimento de quais, quantos e como se combinam os traços invariantes que constituem cada letra. A neurociência da leitura já comprovou experimentalmente que os neurônios da leitura, situados na área occipital-temporal ventral esquerda do cérebro não foram programados para reconhecer as diferenças de direção de tais traços, como ocorre, por exemplo, na diferença entre b/d; isto precisa ser sistematicamente ensinado e é o primeiro componente essencial: a criança não cai de paraquedas no desenvolvimento da consciência fonêmica, sem passar pelo reconhecimento dos grafemas, os quais, no português brasileiro escrito, são realizados por uma ou duas letras, as quais precisam ser reconhecidas.

O português escrito adota o alfabeto latino, assim como o inglês, o francês ou o italiano. O reconhecimento de quais, quantos e como se combinam os traços invariantes que constituem cada letra independe da língua falada, dos valores dos grafemas ou da consciência fonêmica, mas é um passo necessário para se chegar ao grafema, esse, sim, totalmente vinculado à consciência fonêmica, pois o grafema representa na escrita o fonema. Assim, na palavra barra, temos 5 letras (b, a, r, r, a), 4 grafemas (b, a, rr, a) e 4 fonemas (/b/, /a/, /R/, /a/).

Outra falha revela o total desconhecimento dos autores da proposta sobre o processamento da escrita e de como ela deve ser ensinada e aprendida na alfabetização: como se pode observar, entre os seis componentes essenciais arrolados para a alfabetização, somente foi contemplado um genérico “f) produção de escrita”.

Ignoraram, os autores, não só as especificidades da alfabetização para a escrita, como os tremendos desafios que ela apresenta. Basta dizer que, quando lemos, nos deparamos com um texto já elaborado, o qual temos que reconhecer, compreender e interpretar criticamente. Para escrever, nos deparamos com uma folha em branco. Os componentes essenciais da alfabetização para a escrita são: planejamento e plano do texto; conceptualização, sua rotulação em palavras e combinação em frases, orações, períodos e parágrafos; tradução dos fonemas em grafemas e destes nas letras que os realizam; programa motor que dita os gestos para execução tanto manuscrita quanto digital e revisão.

Por fim, gostaria de comentar a definição de analfabetismo funcional, inciso II, do arto 2: ‘condição daquele que possui habilidades limitadas de leitura e de compreensão de texto’ como imprecisa. Seria útil aproveitar as classificações e definições do Inaf (Instituto Nacional de Alfabetismo Funcional), a entidade mais credenciada, no Brasil, a explicar o tema, baseada em pesquisas domiciliares de ponta.

Também gostaria de comentar o uso do termo ‘literacia’, mais em voga em Portugal, ao invés de ‘letramento’, tradução do inglês literacy. Na definição que os autores dão, no inciso VII, do mesmo arto 2, como: “conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes relacionadas com a leitura e a escrita e sua prática produtiva”, faltou, no final, a expressão “em sociedade”, essencial ao conceito.

Então, o método fônico, sozinho, não é suficiente para alfabetizar?

Creio que, em grande parte, essa questão já foi respondida, quando falei que ‘a criança não cai de paraquedas no desenvolvimento da consciência fonêmica, sem passar pelo reconhecimento dos grafemas, os quais, no português brasileiro escrito, são realizados por uma ou duas letras, as quais precisam ser reconhecidas’. A última parte não diz respeito especificamente ao chamado método fônico, embora seja pré-requisito para que ele funcione.

Além disto, para entendermos por que o método fônico sozinho não é suficiente para alfabetizar, vejam-se quais são os passos desempenhados por um leitor proficiente no ato da leitura: a leitura começa no momento em que o centro de nossa retina se fixa sobre um ponto da linha escrita para captar as primeiras informações. Mas ver não é perceber, nem reconhecer o que será necessário para se chegar ao objetivo da leitura: compreender e interpretar criticamente os textos que circulam socialmente.

Vou me referir aos sistemas de escrita alfabéticos. Os passos começam pelos processos que deverão ser automatizados através de uma alfabetização efetiva: reconhecimento de quais, quantos e como se combinam os traços invariantes que diferenciam uma letra de outra, o que independe da língua em questão, num dado sistema de escrita (o nosso é o latino, adotado também pelo inglês, francês, etc.); reconhecimento dos grafemas (no português brasileiro, formados por uma ou duas letras), agora, sim, totalmente dependentes da língua, pois os grafemas representam os fonemas e é por essa vinculação que são reconhecidos (consciência fonêmica); integração nas sílabas e destas na palavra, com atribuição do acento de intensidade bem como o reconhecimento dos vocábulos átonos e integração das palavras em frases, com atribuição do padrão de entoação (consciência fonológica). Seguem-se as etapas mais criativas: atribuição da significação básica das palavras e construção dos seus sentidos novos, das frases, orações, períodos, parágrafos e texto.

Ressalte-se que a atribuição do acento de intensidade bem como o reconhecimento dos vocábulos átonos e a integração das palavras em frases, com atribuição do padrão de entoação que fazem parte da consciência fonológica não têm sido contemplados em praticamente nenhum dos chamados métodos fônicos atualmente em prática no Brasil.

Verifica-se, ainda, que, para a aprendizagem das fases mais criativas da leitura, embora dependam da automatização das primeiras, para que o cérebro esteja liberado para exercê-las, não se utiliza o método fônico: o foco de tal aprendizagem é o desenvolvimento da capacidade de fazer inferências, tanto cruzando as ideias do próprio texto, quanto com as de outros e do conhecimento de mundo do leitor.

Como funciona o seu método de alfabetização?

Os fundamentos da proposta estão baseados no que há de mais avançado na teoria e prática das ciências que se ocupam da linguagem verbal. E são sete:

Primeiro, a aquisição do sistema oral se dá de forma natural e espontânea nas crianças que não apresentem distúrbios sensório-motrizes, perceptuais ou cognitivos maiores: as primeiras palavras ocorrem por volta de um ano de idade; o sistema escrito é construído no contexto do ensino-aprendizagem de forma sistemática, intensiva, quando a criança já atingiu certa maturidade cognitiva, linguística e emocional. Enquanto a comunicação oral é questão de sobrevivência do homem, desde que se iniciou o processo de humanização, a escrita, entendida como um modo secundário, distinta da pintura, do desenho ou de outros meios de memorização, apareceu muito recentemente (aproximadamente há 5.000 anos a.C.). Para aplicar esse fundamento a criança precisa vir à escola, principalmente, para aprender a ler e a escrever, inclusive os símbolos matemáticos.

Segundo, em toda a aprendizagem, para saber produzir, deve-se saber compreender,isto é, antes de falar, a criança deve compreender o que os adultos dizem para ela e assim começar a dominar a língua, para depois poder dizer suas primeiras palavras. A mesma coisa acontece com a língua escrita: sem saber ler, a criança não poderá compreender nem o que ela própria ‘escreveu’. Ou seja, a alfabetização não pode começar pelo ensino isolado da escrita. Pode até começar quase simultaneamente com a escrita, desde que a criança aprenda a reconhecer as diferenças entre as letras e os  valores dos grafemas na leitura.

Terceiro, uma das grandes descobertas da neurociência é a de que os neurônios que processam as imagens visuais são programados para simetrizar a informação. No entanto, para o reconhecimento das letras, isto é, das diferenças que apresentam entre si, é necessário reciclar os neurônios para que eles aprendam a distinguir a direção dos traços das letras. Isso exige um trabalho minucioso e contínuo. Desenvolvo, pois, a proposta de Montessori de acionar ao máximo as várias entradas sensoriais para vencer a batalha de assimetrizar os traços que diferenciam as letras e os símbolos matemáticos entre si. Para aplicar esse fundamento, a introdução de cada letra é acompanhada pelos comandos do professor para que a criança a trace com o dedo, ao mesmo tempo em que diz o som que realiza o fonema (essa parte diz respeito à representação do grafema e à consciência fonêmica), ou o nome do símbolo matemático. As informações sensoriais processadas pela visão, pela audição, pelo tato e pela propriocepção se reforçam mutuamente.

Quarto: outra grande dificuldade para uma criança se alfabetizar é a de que ela percebe a fala como um contínuo, isto é, não há separação entre as palavras, nem entre consoantes e vogais. Por exemplo, por que a criança, ao começar a escrever, coloca uma sucessão de sinais numa linha, sem espaços em branco entre as palavras? Por que, mais adiante, escreverá “zoio”, “zoreia”? Porque é assim que percebe a fala.

Para aprender a ler, a criança deverá compreender, aos poucos, que a escrita representa a fala, porém não exatamente tal como é percebida e que, na escrita, as palavras são separadas por espaços em branco. Também deverá aprender que uma ou duas letras (para o professor, um grafema) têm o valor de um som (para o professor, um fonema); às vezes, uma letra poderá ter sempre o mesmo valor, como f, mas outras vezes poderá ter mais de um valor como c, que antes das letras u, o, a tem o valor de /k/, como em cubo, cor, cola e antes de i, e tem o valor de /s/, como em cipó, cera, conforme já comentei nessa entrevista.

O quinto fundamento é que, para reconhecer a palavra escrita, além de saber atribuir os valores a cada grafema (uma ou duas letras), a criança deverá saber onde cai o acento mais forte (acento de intensidade), pois no português, o acento pode cair na última (oxítonas), penúltima (paroxítonas) ou antepenúltima sílaba (proparoxítonas). Além disto, trabalha-se sistematicamente com os alunos o reconhecimento dos vocábulos átonos.

Por isso, sendo a maior dificuldade para uma criança se alfabetizar o fato de ela perceber a fala como um contínuo, é preciso ajudá-la a analisar conscientemente a fala (consciência fonológica e fonêmica), desmembrando a cadeia em palavras, essas em sílabas e, o que é mais difícil, separar as consoantes das vogais.

E os outros dois últimos fundamentos?

O sexto fundamento é o de que a fala apresenta variação determinada por vários fatores: quando lê, a criança converte o que lê a sua variedade sociolinguística (respeitá-la na leitura em voz alta); quando escreve, dá-se o inverso: o sistema escrito é um só em todo o território de língua portuguesa.

Para aplicar esse fundamento, é necessário ter em conta a mobilidade social dos alunos: há alguns que vêm de regiões diferentes e, mesmo, de famílias que praticam em casa outras línguas, como o italiano, o alemão, o polonês ou o japonês; também há diferenças determinadas pelo nível de escolaridade e de educação dos pais. Por isso, na escola, deve ser ensinado o respeito à diferença, evitando que essas crianças sejam ridicularizadas quando falam ou leem em voz alta. Para ensinar a escrever, o professor deve estar atento, porque as regras de conversão não são as mesmas. Assim como não se escreve nãum ao invés de não, o professor deve mostrar, aos poucos, que quando se diz [´fumu], se escreve fomos.

E, por último, pelo sétimo fundamento, a alfabetização integral parte do pressuposto de que o alvo é a educação plena do indivíduo: cognição, afetos, sociabilidade, o físico e o estético, em vasos comunicantes, deverão levá-lo ao exercício da cidadania e à realização pessoal, com a capacidade para entender os textos escritos que circulam em sociedade e para produzir os de que necessita. Isto significa que não se podem divorciar as ciências humanas das ciências biológicas: o cultural não pode ser pensado sem o biológico, nem a especialização cerebral sem ser plasmada pelo ambiente. A alfabetização integrada pressupõe a interdisciplinaridade, inclusive o multiletramento. Mas integração também se aplica ao reforço dos laços que unem alunos, escola e família, sem o qual não se consegue uma alfabetização de qualidade.

Fica mais fácil se aprendem brincando?

Isso. Dadas as grandes dificuldades para a criança aprender a assimetrizar os traços e a segmentar a sílaba, tal aprendizagem só é possível, num contexto lúdico, com jogos, brincadeiras e, sobretudo, com unidades a serem trabalhadas, retiradas de palavras que a criança vai reconhecendo numa história que a encante.

Mas é preciso prestar atenção ao fato de que brincar apenas com sons isolados, ou com os nomes das letras, não é suficiente para preparar a criança para a alfabetização (os nomes das letras até atrapalham): ensinar que o nome da letra ‘h’ é agá, ao invés de, apontando para ela, explicar que vale zero no início da palavra, no mínimo, poderá levá-la a ler ‘hotel’ como ‘gotel’.

Em conclusão, a estratégia do ensino-aprendizagem, seguindo a complexidade crescente, está baseada sobre conceitos solidários: reconhecer a direção dos traços que diferenciam as letras entre si; dominar os valores dos grafemas, associando-os aos fonemas que representam; tanto fonemas quanto grafemas servem para distinguir significados, portanto, as letras que realizam os últimos devem estar dentro de palavras, reconhecidas, inclusive, porque se lhes atribui o acento de intensidade. Por fim, tais palavras constituem uma história que encanta as crianças.

*** Saiba mais sobre o Sistema Scliar de Alfabetização:
Cada Módulo possui três pilares: para o 1o ano, os livros Sistema Scliar de Alfabetização – Fundamentos; Sistema Scliar de Alfabetização - Roteiros para o Professor, Módulo 1 e os Anexos; Aventuras de Vivi (livro do aluno); para o 2oano, os livros Sistema Scliar de Alfabetização – Fundamentos da Escrita; Sistema Scliar de Alfabetização - Roteiros para o Professor, Módulo 2, Escrita e os Anexos; Aventuras de Vivi no Mundo da Escrita (livro do aluno). A formação dos educadores envolvidos no projeto é contínua, por meio de encontros semanais.

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