Com o objetivo de fomentar a diversidade ideológica dentro do ambiente acadêmico, a Universidade Cornell, nos Estados Unidos, propôs a criação de um comitê para estudar o tema dentro da instituição. Voto vencido na assembleia realizada com os estudantes, a proposta reacendeu a discussão sobre a chamada “dominação intelectual” da esquerda dentro dos campi universitários, e a partir da qual o discurso conservador parece não encontrar ressonância. A partir deste exemplo fica a pergunta: criar espaços burocraticamente estabelecidos seria uma solução viável para se garantir a pluralidade de ideias nas universidades?
Para muitos especialistas, a resposta é negativa e se baseia no argumento de que, como espaços que têm como função primordial a promoção do conhecimento, a abertura para a diversidade intelectual seria uma condição natural da academia.
“É importantíssimo dentro de uma universidade que todas as tendências e posições possam conviver de modo harmônico e sem que se perca o debate dialético, que é fundamental para o crescimento e para a evolução de qualquer pensamento, seja ele social ou cientifico”, pontua Sandro Lunard Nicoladeli, doutor em Direito e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Há os que pensam, por sua vez, que esta pluralidade nada mais é do que um ideal distante de ser alcançado, como é o caso do cientista político Bruno Garschagen, para o qual as próprias tentativas de se abrirem janelas para o discurso conservador são sinais da existência de um domínio ideológico nas universidades. Ele acrescenta que o fato de as propostas neste sentido serem rejeitadas apenas reforça a hegemonia de uma determinada ideologia, neste caso a da esquerda.
“O pensamento conservador na universidade é caçado, proibido, negado e perseguido. Quem está na universidade sabe que a maioria dos professores não indica bibliografia conservadora e que ela continua sendo hermeticamente fechada a qualquer discurso que não seja marxista ou associado”, reforça Luiz Felipe Pondé, professor, filósofo e escritor.
Liberdade de pensamento
Para estes pesquisadores, a estrutura sobre a qual as diretrizes curriculares e as relações institucionais são construídas dão as bases para a predominância do discurso da esquerda nas universidades, que começou a ganhar força no Brasil durante o regime militar, como lembra Garschagen. De acordo com ele, a esquerda teria aproveitado um “vácuo” existente no ensino brasileiro e ocupado este espaço a partir do movimento de professores e intelectuais que, ao lecionarem em universidades, deram a elas a cara de sua ideologia.
“A estrutura curricular é função de algo que vem antes. Primeiro, temos pessoas que constroem vínculos sociais e institucionais porque se identificam em um conjunto de livros que leram, de teses que escreveram e que, portanto, falam a mesma língua. Isso garante a elas poder nos colegiados, bolsas de estudos e controle sobre grades curriculares”, acrescenta Pondé.
Ainda na avaliação do filósofo, a liberdade de manifestação do pensamento nos espaços acadêmicos existe somente na teoria, uma vez que, na prática, ao expor um ponto de vista contrário ao dominante, professores e alunos estariam sujeitos a perder bolsas de estudos ou espaço de aula, por exemplo.
Mesmo assim, estes pesquisadores se colocam contrários à criação de espaços institucionalmente constituídos para o debate e acreditam que a exposição à diversidade de posições ideológicas seria o melhor caminho para o acesso ao conhecimento. Nicoladeli concorda, mas defende que, ao refletirem a sociedade, as universidades já contemplam a pluralidade de ideias e que seria um reducionismo pensar que as estruturas curriculares irão transformar um estudante em um militante de qualquer posição ideológica.