As irmãs Letícia e Rebeca, de 8 e 9 anos, têm tido dificuldade em se adaptar com o português. Os pais Marcela e José Luiz investem em atividades extras para aumentar o contato com o idioma| Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo

Curiosidades

O português é a quinta língua mais falada no mundo. Confira algumas curiosidades sobre o processo de aprendizado do idioma para os estrangeiros:

Proficiência

Para conseguir o Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa, estrangeiros são submetidos a um exame aplicado pelo Inep.

Mais diretos

Os pronomes pessoais tu e vós não ganham destaque nas aulas. São estudados eu, você/ele/a gente, nós e vocês/eles.

Sons nasais

O português possui muitos sons nasais. Vogais e ditongos nasais, como "ã", "om", "ãe" e "em", podem ser mais difíceis de serem pronunciados.

Expressões populares

Sem explicações, expressões comuns no nosso dia a dia podem causar confusão no aluno, como "cabeça de vento", "dar com a língua nos dentes", "ter as costas quentes", "chutar o balde".

Vocabulário traiçoeiro

Considerando falantes de línguas latinas, além do cuidado com as novas pronúncias que são exigidas, como nas palavras "avô" e "avó", o vocabulário pede atenção. Palavras similares têm significado diferente, como "embaraçada", grávida em espanhol.

Fonte: Redação, com especialistas entrevistados e coleção didática "Viva!", lançada recentemente pela Editora Positivo.

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O português é um dos idiomas mais difíceis do mundo, dizem os brasileiros. Com as novas regras de ortografia, ele parece ter se tornado ainda mais complexo. Apesar de especialistas não concordarem totalmente com essa "má-fama" da língua, um bate-papo com quem busca aprender as primeiras palavras e frases comprova que nossas exceções, irregularidades, regências e conjugações costumam dar dor de cabeça em quem vem de fora.

Mesmo com as dificuldades, o português está em alta entre os estrangeiros. A descoberta do idioma ocorre em cursos no país de origem ou em escolas brasileiras. A vinda ao país devido a uma oportunidade de trabalho faz deste o empurrão inicial de grande parte dos estudantes, sejam adultos ou crianças que acompanharam os pais. No primeiro semestre deste ano, quase 33 mil estrangeiros foram autorizados a trabalhar no Brasil, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego.

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Acostumado a ensinar português a estrangeiros, Leandro Alves Diniz, professor de Língua Portuguesa da Unila, diz que o idioma é tão complexo e rico como qualquer outro. "Costumo brincar que nosso idioma é tão fácil que uma criança brasileira com cinco anos fala superbem e que ele é tão difícil que qualquer um de nós que tentar explicar como o português funciona não vai conseguir", diz.

Conforme a professora Zélia Torres de Albuquerque, do Colégio Internacional de Curitiba, a nacionalidade de cada pessoa geralmente interfere na forma de aprender. "Se temos um aluno latino, o aprendizado do português é mais rápido. Com um americano, alemão ou japonês, é mais demorado. Mas cada aluno é um caso e tem o seu momento de absorção da língua em estudo."

Para a intercambista finlandesa Anniina Tahka, 16 anos, há três meses no Brasil, o aprendizado do português tem sido mais complexo. "O português está sendo o mais difícil. Por enquanto, eu assisto às aulas, mas fico só ouvindo. Acabo misturando muito os outros idiomas", conta a jovem, que já domina o sueco e o inglês.

Tempo de estudo

Diniz afirma que é difícil precisar o tempo que alguém leva para aprender o português. "Depende da motivação, da relação do aluno com a língua, se ele está imerso no contexto ou se está no Brasil", explica. Ele diz que algumas pessoas podem falar e escrever bem em um ano e outras podem morar anos no Brasil e se acomodar com o básico do idioma.

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Há dois anos no Brasil, o norte-americano Dallin Cordon, 15 anos, ainda dá escorregadas no português. Ele diz que é difícil saber onde termina uma palavra e começa outra e considera a conjugação de verbos a parte mais complicada. A ajuda da mãe, que havia passado um tempo em Portugal, foi muito importante para a adaptação. "Minha mãe falava as palavras bem devagar e eu repetia para outras pessoas", diz.

Adaptação

Cultura e arte além do beabá

A tendência no ensino de idiomas estrangeiros é de que ele seja entendido mais como um contato com culturas diversas do que como um código a ser dominado. Por aqui, o ensino da língua portuguesa está vinculado à cultura brasileira, com seus aspectos sociais, históricos e culturais. O japonês Tatsuro Murakami, 17 anos, conta que sempre quis vir para o Brasil por causa da música brasileira. "Quero conhecer a música de países diferentes e achei que seria legal vir ao Brasil para fugir do comum", conta o jovem, que cursa o ensino médio no Colégio Opet.

Depois de mais de dez anos nos Estados Unidos, Marcela e José Luiz Andrade resolveram voltar ao Brasil. Uma boa proposta de emprego tornou a mudança atrativa para o casal, mas as duas filhas não estão convencidas. Há sete meses, Rebeca, 9 anos, e Letícia, 8 anos, estão matriculadas no Colégio Positivo e, mesmo tendo crescido com a mãe falando português em casa, a adaptação no Brasil não está nada fácil. "Elas dizem que estão esperando completarem 18 anos para voltar para a sweet home (doce lar)", conta a mãe.

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Como a família pretende ficar no Brasil, Rebeca e Letícia precisarão de uma dose extra de motivação e de incentivo dos pais para dominarem o português. A mãe busca reforço em português e, enquanto isso, fora da escola é hora de assistir a filmes, ler livros e maximizar o contato com a língua, assim como é recomendado a qualquer brasileiro que quer aprender um idioma estrangeiro.

"Matricular as crianças na escola, adaptá-las socialmente e deixá-las felizes, é o ponto mais importante para os pais estrangeiros recém chegados. Quando as crianças estão ‘encaminhadas’, fazendo amizade, aprendendo, vivendo a rotina, a família consegue acomodar os outros pontos." Claudia Lebiedziejewski, coordenadora de admissão do Colégio Internacional de Curitiba.

Com a palavra, os estudantes estrangeiros

"Minha família chegou ao Brasil no ano passado, mas como minha mãe morava antigamente em Portugal, ela já tinha uma base do idioma. Quando estamos em restaurantes ou supermercados é ela que fala por nós na maioria das vezes. O português não é tão difícil, porque eu já falo francês e espanhol. Mas a pronúncia das palavras e os acentos são a parte mais complicada." Sarah Grippay, 14 anos, da França, há um ano e dois meses no Brasil.

"Minha primeira opção para o intercâmbio era os Estados Unidos, pelo Rotary. Mas gostei quando descobri que viria ao Brasil, pois alguns amigos tinham estado aqui e me contado várias coisas legais. O português está sendo bem difícil. Tenho aula de português para estrangeiros duas vezes por semana à tarde, além das aulas normais do 2º ano pela manhã e não entendo uma palavra do que a professora diz. O mais difícil é o vocabulário." Sven Genke, 17 anos, da Alemanha, há três meses no Brasil.

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