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entrevista

O projeto de Harvard que está mudando a maneira de dar aulas

“Se uma teoria não recai sobre implicações práticas, não insistimos nela. E se uma prática se prova eficaz ou não, tentamos entender os motivos para o sucesso ou fracasso”, diz Howard Gardner. | Reprodução/Facebook.
“Se uma teoria não recai sobre implicações práticas, não insistimos nela. E se uma prática se prova eficaz ou não, tentamos entender os motivos para o sucesso ou fracasso”, diz Howard Gardner. (Foto: Reprodução/Facebook.)

Iniciativa criada nos anos 60 na Universidade Harvard, o Project Zero (PZ) reúne especialistas em educação voltados para o ensino das competências do século 21. O projeto conta com uma equipe multidisciplinar que busca desenvolver abordagens novas e mais abrangentes para processos de aprendizagem. 

Para isso, pesquisadores levam experiências práticas da sala de aula para discussões científicas; depois os resultados voltam à escola na forma de novas práticas, mais alinhadas às necessidades dos alunos. 

Em entrevista à Gazeta do Povo, Howard Gardner, diretor-sênior do Project Zero, destaca o papel da iniciativa para a educação, a importância da multidisciplinaridade e formas efetivas para colocar a teoria em prática. 

“Se uma teoria não recai sobre implicações práticas, não insistimos nela. E se uma prática se prova eficaz ou não, tentamos entender os motivos para o sucesso ou fracasso”, diz Gardner. Confira: 

Como o Project Zero começou? Quais foram as questões motivaram os estudos? 

O Project Zero foi fundado em 1967 por Nelson Goodman, filósofo proeminente de Harvard. Ele se interessava por conhecimentos artísticos e pensou que era o momento de acumular conhecimento sistemático sobre como os indivíduos adquirem conhecimento sobre arte – tanto artistas quanto críticos e público. 

David Perkins e eu éramos estudantes de graduação na época, e quando Goodman se aposentou quatro anos depois, assumimos a direção Apesar de termos começado com foco em arte, hoje olhamos todo o currículo e trabalhamos não apenas com escolas, mas também museus, corporações e outras instituições nos Estados Unidos e em muitas outras partes do mundo. 

De certa forma, desenvolvemos ideias sobre aprendizagem e conhecimento, e as empurramos na direção correta. Não operamos instituições educacionais, mas trabalhamos em cooperação com elas. Nossa pesquisa é rigorosa e não comprometida – isso significa que não somos contratados, descrevemos o que encontramos. E apenas aceitamos apoio de fontes que nos permitem estudar um tema da melhor forma que pudermos. 

Qual a influência do projeto em estudos sobre educação e aprendizagem? Como se tornou mais relevante para a comunidade acadêmica? 

A maioria dos estudos são sobre educação e aprendizagem. Tentamos compreender o conhecimento disciplinar, conhecimento interdisciplinar, desenvolvimento cívico, raciocínio ético, inteligência, criatividade e liderança. Todo ano conduzimos institutos em Harvard que atraem centenas de pessoas. A maior parte dos nossos estudos é com instituições educacionais. Os trabalhos estão descritos detalhadamente no site

A educação é uma área dinâmica em que teoria e prática caminham juntas. Como vocês alinham teoria e prática em estudos e iniciativas? 

Geralmente partimos de questões teóricas ou acadêmicas. Outros já foram professores ou supervisores atuantes na sala de aula e partem de questões mais práticas. Se uma teoria não recai sobre implicações práticas, não insistimos nela. E se uma prática se prova eficaz ou não, tentamos entender os motivos para o sucesso ou fracasso. 

Por que abordagem multidisciplinar é importante? Até onde ela pode melhorar a aprendizagem? 

Não há nada essencialmente bom ou ruim com aprendizagem multidisciplinar. Tudo depende das questões que são abordadas. Às vezes matemática é apenas matemática, e história é apenas história.

E ninguém pode sequer fazer um trabalho interdisciplinar sério se não dominar mais de uma disciplina. Muitas discussões sobre trabalho “multidisciplinar” são apenas barulho, sem muita base para as alegações que são feitas. 

As crianças de hoje têm perfil diferente das gerações passadas. Como o PZ aborda as necessidades dos estudantes? Até onde envolve o desenvolvimento de novos métodos de ensino e aprendizagem? 

Reconhecemos claramente os desafios dos jovens e as mudanças nos métodos educacionais. Muito do nosso trabalho acontece online, e também estamos interessados nos pontos fortes e fracos da aprendizagem online, comparando à educação presencial. Um desafio é que geralmente os jovens são muito mais confortáveis com novas mídias que os professores. Espero que isso mude em breve. 

De qualquer forma, acredito que o ensino não vai mudar tanto quanto a aprendizagem. A aprendizagem vai ser mais online e continuará ao longo da vida, muitas vezes sem necessidade de ensino formal. E os professores se tornarão algo mais próximo de orientadores. 

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