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"Sem ideologia"

O que esperar do primeiro Enem de Bolsonaro? Relembre confusões e polêmicas

(Foto: Lula Marques/ Fotos Públicas)

"Não vai ter Enem". "Vai ter, sim". "Gráfica decreta falência". "O prazo está acabando". "Sem alarme". "Chefe do Inep é exonerado, entra novo chefe". "Gráfica é contratada". "Contingenciamento na educação". "Provas estão impressas e a caminho". "Caneta azul? Não, é preta".

A "novela" do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que inquietou tantas pessoas este ano, parece ter acabado. A princípio, tudo certo para, neste domingo (3), ser aplicada a primeira prova do Enem 2019, para mais de 5 milhões de inscritos.

Mas sob o governo de Jair Bolsonaro (PSL), o que esperar do Enem 2019? O que será diferente?

Enem sem ideologia e digital

Mesmo não tendo "revisado" a prova, Bolsonaro assegura que, pela primeira vez, "questões ideológicas e muito polêmicas, como no passado, não vão acontecer". Do contrário, segundo ele, o exame será técnico e com conteúdo, e não priorizará tópicos como feminismo, diversidade, questões raciais e de gênero, etc.

O presidente já questionou no passado, por exemplo, a necessidade de averiguar se os candidatos do Enem conheciam o pajubá, dialeto secreto de gays, drag queens e travestis, em referência a uma das questões do exame de 2018, que aliás, foi amplamente criticada:

""Reprodução/ Twitter

"Nhai, amapô! Não faça a loka e pague meu acué, deixe de equê se não eu puxo teu picumã!' Entendeu as palavras desta frase? Se sim, é porque você manja alguma coisa de pajubá, o 'dialeto secreto' dos gays e travestis", dizia o texto. E Bolsonaro respondeu: "Uma questão de prova que entra na linguagem secreta de travesti não mede conhecimento nenhum".

Ano a ano, as edições do Enem ficaram conhecidas por apresentarem doses de hegemonia e espaço "beneficiado" a autores e assuntos caros à esquerda.

Desta vez, promete o ministro da Educação, Abraham Weintraub, que também garantiu não ter lido previamente a prova, que ela será "neutra e equilibrada". Ao Correio Braziliense, ele disse que assumirá qualquer equívoco no Enem.

"Eu não li a prova, o presidente não leu (…) antes da aplicação eu não pretendo ler, ninguém vai ler salvo uma hecatombe nuclear", disse. "Salvo uma coisa totalmente fora do script, eu não consigo entender como o presidente, que está com uma agenda tão atribulada, com tanto trabalho para fazer, por que ele vai parar para ler a prova".

O atual presidente do Inep, Alexandre Lopes, afirmou ao Estado de S. Paulo: "(Os estudantes) não vão fazer uma prova de direitos humanos, mas uma que percorre os conteúdos escolares que devem ser cobrados. Se a questão envolve direitos humanos, entrará desde que bem formulada e não tire o foco do conteúdo. A contextualização é livre, mas não se pode errar a mão. Afinal, a gente quer avaliar o conhecimento do aluno ou discutir temas sensíveis?".

Essa também deverá ser a última edição 100% no papel. Em 2020, afirma o MEC, a prova deverá ser, em parte, digital. "É o começo do início do fim do Enem tradicional", disse Weintraub. Em 2026, a pasta pretende realizar um exame totalmente digital, e garante que haverá redução de gastos de R$ 500 milhões para R$ 20 milhões.

Ameaças ao Enem e medidas do MEC

Confira abaixo os principais fatos políticos sobre o Enem em 2019:

Janeiro: No dia 14, depois de receber um "cartão vermelho" de Bolsonaro, Maria Inês Fini, então presidente do Inep, autarquia responsável pela realização do Enem e outros exames do MEC, foi demitida.

Em 17 de janeiro, Murilo Resende, ligado ao grupo de Olavo de Carvalho, foi escolhido para chefiar a diretoria do Inep responsável pelo Enem. No dia seguinte, Resende foi exonerado do cargo.

Em 22 do mesmo mês, Marcus Vinicius Rodrigues, ex-professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), foi nomeado presidente do Inep, cargo que deixaria pouco tempo depois, em 26 de março.

Março: No dia 20, o então ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, criou uma comissão para analisar questões da prova de 2019. O objetivo era "verificar sua pertinência com a realidade social, de modo a assegurar um perfil consensual do exame", disse Vélez, na época. Em 21 de março, com medo de interferência ideológica do governo, o Ministério Público Federal enviou ao Inep um pedido de esclarecimentos a respeito da comissão.

Abril: No dia 1º, a RR Donnelley, gráfica que iria imprimir o Enem, decretou falência. Começou a correr o boato nas redes sociais de que o Enem estivesse ameaçado. O MEC tranquilizou a população e o Inep tomou medidas para resolver o problema, como consultar se a Casa da Moeda poderia imprimir o exame.

No dia 15, o delegado da Polícia Federal Elmer Coelho Vicenzi foi nomeado para presidir o Inep. Um mês e um dia depois, Vicenzi também foi exonerado.

No dia 25, o Tribunal de Contas da União (TCU) autorizou o MEC a contratar uma nova empresa para imprimir o Enem.

Maio: Um novo presidente do Inep é nomeado, Alexandre Lopes, no cargo até hoje. No dia 21, o órgão assinou contrato com a gráfica Valid, para a impressão do Enem.

"Não estou vendo nenhum risco, estou bem otimista", afirmou. "As coisas estão acontecendo ao contrário do terrorismo que foi feito".

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