Salários importam e infraestrutura também. Mas é uma boa formação dos professores desde a graduação, e que continua por toda a vida profissional, o que realmente faz diferença nos países com os melhores docentes e, por consequência, com as notas mais altas no Pisa – o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, que examina alunos de 15 anos em mais de 70 países.
Esse é uma das conclusões a que chegaram os pesquisadores da OCDE ao se debruçar sobre o perfil dos professores, a partir dos dados do Pisa 2015, a última edição com os resultados divulgados. O estudo focou em um pouco mais de 20 sistemas educativos que conquistaram as melhores notas. A maior parte dele está em regiões da Ásia (Japão, Coreia do Sul, Cingapura, Hong Kong, Macau e outras províncias chinesas) ou em países da Europa (Finlândia, Estônia, Alemanha, Noruega, Suíça, Holanda, Reino Unido e Eslovênia), aos que se somam Austrália e Nova Zelândia, na Oceania, e o Canadá, único representante do continente americano.
Leia também: MEC estuda “Exame de Ordem” para professor no futuro
Enquanto que, em geral, os cursos de Pedagogia duram quatro anos, em países como Finlândia, Eslovênia e Suíça a carga horária é de cinco anos e os estudantes passam por uma espécie de prova prática para serem aprovados. Na Alemanha, os cursos de Pedagogia duram sete anos, também com um exame prático exigente ao final do curso.
Entre os 20 países cujos estudantes de 15 anos obtiveram as notas mais altas, apenas Cingapura não exige que os professores cursem estudos específicos de Magistério para dar aula no ensino médio. Mas esse país possui uma política de incentivos para que os melhores optem pela carreira docente: bolsas de estudos e uma bonificação durante a formação com práticas em escolas.
Em países como Finlândia, Hong Kong e Coreia, para poder assumir uma classe, ainda como estagiários, os professores passam por exames específicos e exigentes.
Antes de serem graduados, em todos os países analisados é necessário realizar um período de práticas tutoradas, que aumenta ao final da preparação universitária. Os recém-formados contam com um programa de assessoramento desde o primeiro ano, que inclui entrevistas periódicas, que um professor experiente assista às suas aulas e aponte onde é preciso melhorar, que o novato observe como dão aula outros professores, etc.
Leia também: Pobres precisam de professores melhores. Mas quem quer essa carreira?
Formação continuada
O levantamento da OCDE mostrou também que, na maioria dos países com as melhores notas do Pisa, a participação dos professores em programas de formação periódica de boa qualidade está acima da média. Além disso, em praticamente 50% desses países, a assistência a esses cursos de atualização pedagógica é necessária para continuar a dar aulas (como na Alemanha, Finlândia ou Reino Unido, entre outros) ou para progredir na carreira (como ocorre na Coreia do Sul e em Hong Kong).
Ainda que, nesses cursos de formação para professores experientes, as palestras teóricas sejam importantes, as atividades formativas mais eficazes são as desenvolvidas em sala de aula, normalmente por professores de um mesmo departamento ao assistir uns as aulas dos outros – não existe “caixa-preta” nas salas de aula, também em turmas dirigidas por professores com muitos anos de prática. Em mais de 80% dos países com as melhores notas no Pisa, os estudantes frequentam classes em instituições de ensino cujos professores participam desse tipo de formação.
Leia também: Do Brasil a Alemanha: por que ninguém quer ser professor?
Provas para avaliar o desempenho dos professores
Os 20 melhores países do Pisa examinam periodicamente seus professores, alguns todos os anos. Nos países de cultura anglo-saxã e nos asiáticos essas avaliações seguem leis nacionais ou regionais. Na maioria deles, essa análise inclui necessariamente a observação de como o professor atua em sala de aula.
Se um professor vai mal e é suspenso, como ocorre na Austrália ou em Cingapura, ele passa a seguir um plano pessoal de desenvolvimento para adquirir as competências necessárias. Na Coreia do Sul e na Austrália, esses professores devem assistir a um programa de formação; na Bélgica, Eslovênia ou Inglaterra sua progressão na carreira é adiada. No entanto, somente em Cingapura existe uma relação direta entre os resultados dessa avaliação e a repercussão no salário.
Estabilidade e facilidade para contratar e demitir
Os pesquisadores da OCDE classificaram a carreira dos professores do setor público desses países em duas categorias: o “career-based” (baseado na carreira) e o “position-based” (baseado na posição).
Quando a progressão é baseada na carreira, o acesso à profissão é feito por meio de concurso, a ascensão a outras faixas salariais é regulamentada por anos trabalhados e existe estabilidade. Esse é o caso dos países asiáticos e do Sul da Europa, mais a França.
Nos países de cultura anglo-saxã, para progredir na carreira é necessário demonstrar as capacidades exigidas para aquele cargo (“position-based”). É mais fácil também contratar e demitir, de acordo com o desempenho do professor. Por exemplo, na Finlândia, Holanda, Inglaterra ou Estônia, mais de 90% dos alunos de 15 anos estudam em uma instituição de ensino que tem autonomia para contratar e demitir professores, de acordo com o seu desempenho em sala de aula (não em relação à nota dos alunos).