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O que massacres em escolas têm em comum?

Entrada da escola de ensino médio Santa Fé . | KTRT TV/Reprodução/Twitter.
Entrada da escola de ensino médio Santa Fé . (Foto: KTRT TV/Reprodução/Twitter.)

A polícia foi acionada nesta sexta-feira (18) após relatos que um atirador efetuou disparos em uma escola de ensino médio em Santa Fé, no Texas.

O suspeito foi detido e não há informações sobre o número de feridos, que estão sendo encaminhados ao hospital da Universidade do Texas. De acordo com a rede de televisão, oito pessoas foram mortas.  

Segundo a ABC News, testemunhas disseram que o tiroteio ocorreu durante uma aula de artes no primeiro período. Uma delas afirmou que, após um alarme, os estudantes foram avisados para deixar o prédio e correr para o outro lado da rua para se esconder.

Histórico recente

No Brasil, em meados de outubro de 2017, dois alunos acabaram mortos em um colégio de Goiânia - até então, o último caso com mortes em uma escola ocorrera há menos de um mês, em Janaúba (MG), quando um ex-funcionário invadiu uma sala de aula de educação infantil e ateou fogo, matando nove crianças e a professora

Já nos Estados Unidos, situações como essas são recorrentes e apontam para uma epidemia de massacres cometidos dentro das dependências da escola: levantamento dos tiroteios em escolas e universidades americanas ocorridos entre 2012 e 2014, apontou que 70% dos atiradores eram menores de idade e em 36% dos casos pelo menos uma pessoa foi atingida. 

Em quase todos os casos, o perfil dos atiradores é de garotos adolescentes: desde 1974, em mais de 100 massacres ocorridos no mundo, apenas 4 foram feitos por mulheres.

Perfil

A ocorrência desse tipo de massacre pode estar ligada ao perfil dos jovens e à publicidade dos casos. “Pesquisas mostram que se tornar famoso é um dos objetivos mais importantes para essa geração”, diz Adam Lankford, professor de justiça criminal na Universidade do Alabama. “Não há dúvida de que existe uma associação entre a cobertura da mídia recebida por esses atiradores e a probabilidade de eles agirem”, diz ele.

De acordo com relato do delegado Luis Gonzaga Júnior, que investigou o caso, o tiroteio ocorrido em Goiânia foi inspirado pelo caso de Columbine e pelo Massacre do Realengo, em 2011. 

“Segundo informação do próprio adolescente, ele se inspirou em duas tragédias. E dessa inspiração fez nascer a ideia de matar alguém”, disse Gonzaga. 

O caso do Realengo foi o primeiro no Brasil com projeção mundial. Na ocasião, Wellington Menezes de Oliveira entrou na Escola Municipal Tasso da Silveira identificando-se como um palestrante e disparou mais de 100 tiros contra os alunos, matando doze pessoas. Dos doze mortos, dez eram do sexo feminino. 

Inspirações

O Massacre de Columbine, em 1999, causou um aumento em número e frequência de tiroteios em escolas -  cometido pelos adolescentes Eric Harris e Dylan Klebold deixou nove feridos e quinze mortos, incluindo os dois autores. 

Na ocasião, Harris e Klebold usaram espingardas para o tiroteio e planejaram uma ação terrorista com 99 explosivos escondidos na escola. A tragédia ganhou destaque mundial e inspirou atos similares em todo o mundo, em um fenômeno que especialistas chamam de Efeito Columbine: nos oito anos seguintes , 67% dos casos registrados nos EUA atribuíram inspiração no Massacre de Columbine.

Já o caso de Sandy Hook, ocorrido em 2012 também nos EUA, foi um dos maiores nos últimos anos: Adam Lanza, 20, matou a sua mãe, dirigiu até uma escola primária e atirou contra os presentes, assassinando 28 pessoas, incluindo 20 crianças. Nos três anos seguintes ao massacre, o número de tiroteios em massa aumentou no país – foram 944 tiroteios entre 2012 e 2015, sendo quase 300 no último ano do período. 

Levantamento realizado pelo FBI em 2013, contabilizando dados desde 2000, indicou um aumento no número de casos depois do Massacre de Columbine, com um crescimento ainda mais acentuado nos últimos anos. Segundo a pesquisa, o número de casos aumentou de 6,4 até 2006, para 16,4 entre 2007 e 2013. A maioria deles foram rápidos e mortais: 57% terminaram antes mesmo de a polícia chegar ao local e 40% deles tiveram pelo menos três mortes, sem contar o atirador – o total de mortos no período foi de 1.043 pessoas.

Massacres ocorridos em instituições de ensino, segundo dados do FBI, somaram 39 casos que resultaram em 117 mortos e 120 feridos. O maior deles aconteceu no Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia, em 2007 (32 mortos e 17 feridos), seguido do já citado massacre na escola primária de Sandy Hook, em 2012 (27 mortos e três feridos). Dos 14 tiroteios em escolas de ensino médio, 12 foram feitos por alunos da instituição.

Epidemia 

A motivação por meio de informações sobre outros massacres é parte do ciclo desses casos. De acordo com um estudo feito por pesquisadores da Universidade Estadual do Arizona, nos Estados Unidos, os massacres se espalham de modo “contagioso”, como uma epidemia.  

“E se um modo de explicar a epidemia de massacres em escolas é pensá-las como uma manifestação lenta e crescente, em que cada nova ação dos participantes faz sentido em reação e combinação com aquelas que vieram antes dela?”, teoriza Malcolm Gladwell, em análise publicada na revista The New Yorker

O ponto em comum para grande parte dos massacres em escolas ao redor do mundo  é o bullying; levantamento feito pelo psiquiatra Timothy Brewerton com dados dos 66 ataques em escolas que ocorreram entre 1966 a 2011 indica que 87% dos atiradores sofriam bullying e foram motivados por desejo de vingança. 

“Para quem trabalha em escola, é relativamente simples perceber quando existe um tipo de agressão que leva ao sofrimento; você percebe pela reação do estudante que é humilhado. Então é necessária uma ação mais direta”, diz Andrea Ramal, doutora em Educação pela PUC-Rio. 

Para ela é importante ressaltar que bullying não é uma causa isolada: “A pessoa não mata alguém por sofrer bullying; ele é um desencadeador; a partir dele, distúrbios podem ser acentuados, levando a essas reações.” 

Ambiente

Pesquisadores apontam que esses massacres adquirem ainda mais dimensão por violarem um ambiente-chave para a construção da cidadania “[A escola] deveria garantir a segurança de centenas de crianças e jovens que ficam sob sua tutela”, aponta a antropóloga Gilda de Castro Rodrigues, em artigo sobre a relação entre bullying e massacres em instituições de ensino. 

Segundo Gilda, a negligência da comunidade escolar ao lidar com bullying e a falta de difusão de informações sobre saúde mental podem ser culpados pelos casos que culminam em massacres. “Para que não haja outros massacres em escolas, é indispensável que os alunos sejam receptivos ao diferente e os professores atentos à intimidação de colegas”.

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