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O reconhecimento internacional do sistema universitário chinês

China University of Mining and Technology. (Foto: Divulgação)

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Foi publicada no início de setembro a edição de 2021 do ranking universitário Times Higher Education (THE), que avaliou mais de 1500 universidades em todo o mundo. Com a Universidade de Oxford na liderança desde 2017, as 10 primeiras posições do ranking estão ocupadas por instituições americanas (8) e britânicas (2). Um dos aspectos mais comentados das classificações internacionais recentes tem sido a ascensão das universidades chinesas. Nessa edição do THE, a universidade chinesa de Tsinghua subiu três posições em relação à edição anterior e passou a ocupar o 20º lugar, empatada com a Universidade Duke, tornando-se a primeira a figurar entre as 20 melhores no ranking THE.

A despeito dos distintos critérios de classificação e pesos relativos dos quesitos avaliados, a Universidade de Tsinghua vem obtendo resultados similares em outros rankings internacionais. No QS World University Rankings, por exemplo, a universidade se destacou no 15º lugar na edição de 2021. A repercussão do sucesso chinês obviamente não se deve ao destaque isolado de apenas uma instituição. A Universidade de Peking ocupa a 23ª posição e são seis as universidades chinesas na seleta lista das 100 melhores universidades do mundo, segundo o THE 2021. A título de comparação, a universidade mais bem classificada da América Latina nesse ranking é a universidade de São Paulo, que, nessa edição, subiu ao grupo das 201-250 melhores.

Os resultados obtidos pelas universidades chinesas refletem a importância dada pelo governo ao seu sistema de ensino, pesquisa e desenvolvimento, e o reconhecimento do papel da economia do conhecimento no progresso do país. Decifrar os motivos do sucesso chinês não é uma tarefa fácil, mas alguns aspectos e características merecem destaque.

Como noticiado recentemente, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento na China vêm crescendo sistematicamente mais que o crescimento observado no PIB. De 2019 a 2020 o aumento nos investimentos foi de 12,5%, chegando a 2,23% do PIB. Em valores absolutos, a China ocupa o segundo lugar no mundo, atrás dos Estados Unidos, que investem 2,83% do PIB. Na China, as melhores universidades, as chamadas universidades de pesquisa, são públicas. As instituições privadas complementam o sistema público e são consideradas de uma categoria inferior. As universidades públicas, como as privadas, não são gratuitas. As anuidades são em geral menores que as congêneres dos Estados Unidos e Reino Unido, mas maiores que as praticadas em alguns países da Europa. Obviamente, há várias possibilidades de bolsas de estudo e financiamento para apoiar estudantes talentosos que não dispõem de recursos.

O intenso intercâmbio internacional de estudantes, pesquisadores e professores é uma característica comum às melhores universidades. A internacionalização, medida pelo percentual de alunos estrangeiros matriculados, é, portanto, um importante parâmetro. As três instituições chinesas mais bem colocadas têm entre 13% e 16% de alunos estrangeiros, segundo o THE 2021. Como referência, a Universidade de Oxford tem 41%, e a USP 4% de alunos estrangeiros, consoante este levantamento.

O esforço chinês rumo à excelência acadêmica vem de longe. Entre 1978 e 2018, a China enviou cerca 5,86 milhões de alunos ao exterior. Com a melhoria contínua das instituições de ensino superior na China, cientistas chineses em diferentes fases da carreira estão sendo repatriados, oxigenando as universidades e trazendo ciência de qualidade dos melhores centros, formando um ciclo virtuoso que se retroalimenta. O Plano ou Programa de Mil Talentos, criado em 2008 pelo governo chinês tem recrutado especialistas internacionais, chineses ou não, nos melhores centros do mundo.

Assim como o citado aumento contínuo dos recursos destinados às atividades de pesquisa e desenvolvimento, o envio equivalente a aproximadamente 150 mil alunos por ano, durante quase 40 anos, indica claramente a importância do planejamento e financiamento contínuos e de longo prazo. De fato, o tempo da produção de conhecimento, do ensino e da cultura é intrinsecamente longo e iniciativas de sucesso são necessariamente de longo prazo, exigindo uma decisão de estado que transcendem o ciclo de um governo. No Brasil, o programa Ciência sem Fronteiras, criado pelo governo federal em 2011 com o objetivo de conceder 101 mil bolsas em quatro anos, foi descontinuado e, aparentemente, não teve seu real impacto avaliado.

Henry Kissinger relata no livro “Sobre a China” sua experiência de quarenta anos de conversas com líderes chineses e cerca de cinquenta viagens à China. Este livro é uma referência para os que tentam compreender o crescente protagonismo chinês no mundo. Hoje, entender as rápidas transformações na academia chinesa é fundamental, principalmente para países em processo de consolidação da tradição universitária, como o Brasil.

* Hamilton Varela é Professor Titular do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo.

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