Ensinar adolescentes, com os hormônios à flor da pele, já é um grande desafio. Ainda mais quando em uma mesma sala de aula há estudantes com diferentes níveis de conhecimento, alguns bastante defasados. Acrescente-se a esse quadro um professor com formação precária, que ganha mal e não tem infraestrutura. Basicamente, esta é a equação que faz o ensino público nos anos finais da educação fundamental, do 6º ao 9º ano, ser tão ruim no Brasil.
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Os números não conseguem disfarçar. No Brasil, as redes públicas de 55,8% dos municípios reprovaram, em 2015, na prova nacional de qualidade medida pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) nessa etapa do ensino. Esse percentual registrou um Ideb abaixo da média do país, que também não é muito alta, de 4,5 (o máximo é 10). Isso significa que grande parte dos alunos da rede pública chega ao primeiro ano do ensino médio com conhecimentos de 6º ou 7º ano.
Mesmo assim, algumas instituições públicas no país surpreendem as estatísticas com notas acima da média da rede privada de ensino, que foi de 6,1 em 2015. O segredo desses colégios consiste em um cenário socioeconômico favorável unido a uma série de políticas públicas.
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A primeira delas consiste em minimizar as diferenças de aprendizagem das crianças que chegam do 5º ano – com aulas de reforço no contraturno e acompanhamento personalizado. “Apesar da melhora da qualidade das escolas públicas nos anos iniciais do ensino fundamental [1º ao 5º], não podemos esquecer o efeito família: estudos mostram que crianças cujos pais não são escolarizados ou falham no acompanhamento escolar em casa aprendem menos e não têm hábito de estudo. Isso faz com que na sala de aula o professor tenha uma turma heterogênea, onde é difícil avançar”, explica Maria do Rozário Starling, supervisora da plataforma do Inep de análise da Prova Brasil na área de leitura. Escolas que reduzem as desigualdades, afirma a especialista, produzem um melhor resultado de qualidade como um todo.
Depois, aumentar o número de professores preparados e melhorar a sua capacitação seria o principal desafio dos gestores. “A formação de um ambiente atrativo na escola em termos de salários, condições de trabalho, infraestrutura é essencial para atrair melhores profissionais para a docência. Existe a dificuldade, por exemplo, de encontrar um bom profissional da área de exatas para ensinar matemática e física. Chama à atenção que a melhora da qualidade das escolas públicas nos anos iniciais do ensino fundamental [1º ao 5º] não se reflita nos anos finais e isso, em parte, tem relação com a qualidade dos professores”, afirma Ernesto Martins Faria, um dos coordenadores do estudo “Os desafios dos anos finais do ensino fundamental”, da Fundação Lemann.
Ao passar para os anos finais do ensino fundamental o estudante começa a ter vários professores ao invés de um e, como o acompanhamento individual é menor, cresce a importância de um gestor pedagógico que direcione com excelência as atividades de ensino. “São muito importantes as habilidades de leitura e solução de problemas, medidas pelo Saeb [Sistema de Avaliação da Educação Básica]. Mas quem é o responsável do 6º ao 9º por essas matérias, por acompanhar os alunos? Não é apenas o professor de português e matemática. Essas competências são difusas nessa etapa do ensino e precisam de transversalidade na sua abordagem”, diz Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.
Cultura da aprendizagem
Outro fator que reflete de forma decisiva nos resultados é a mudança da cultura de ‘estudar para a prova’. Os estudantes não têm costume de estudar com frequência, de adquirir conhecimento, e as escolas bem-sucedidas conseguem, de diferentes formas, gerar uma ‘cultura de aprendizagem’, motivar para aprender. “Muitos alunos não têm um suporte fora da escola e, dessa forma, é necessário criar uma cultura de estudo dentro das instituições. Fazer com que as aulas façam sentido e que o estudante não desista ao chegar a um nível mais complexo. Esse é um trabalho importante da organização escolar”, finaliza Martins Faria.
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