Há algo bom acontecendo no Brasil. Não é ainda a grande transformação de que precisamos, mas é um avanço. Vários setores da sociedade estão acordando para a necessidade de uma educação de melhor qualidade. Desde que, nos anos 1980, os chamados "Tigres Asiáticos" (Singapura, Taiwan e Coreia do Sul) conseguiram se tornar exportadores de produtos tecnológicos graças a anos de investimentos em educação, falava-se que aquele era o exemplo a ser seguido. Que é escola que falta para o Brasil ter o progresso que almeja. Falava-se, sim, mas de forma descomprometida.
Parece-me que a indiferença brasileira aos problemas da educação ficou mais forte por conta do silêncio da classe média. Os brasileiros têm por hábito focar em soluções particulares e deixar o coletivo para o estado resolver. Quando a escola pública sentiu o impacto do crescimento da demanda por vagas e das mudanças de comportamento em jovens e crianças (sendo que este último impacto também é sentido pela escola particular), a classe média e os mais ricos se afastaram dela. Mas são as classes sociais mais favorecidas economicamente que têm mais voz no Brasil. Se elas se calam, a classe política e o estado acomodam-se em sua surdez conveniente. A escola pública agigantou-se, mas não foi tratada com o respeito e o carinho que merece.
Fomos longe demais nesta letargia perigosa. Perdemos tempo demais. Sacrificamos o futuro de um número absurdamente grande de jovens brasileiros. Agora, ao menos se vê certa mobilização social em torno da necessidade de melhorar a educação brasileira, principalmente aquela que atende 80% das crianças e jovens brasileiros.
Marleth Silva é jornalista e membro do Conselho de Educação da Rede Paranaense de Comunicação (RPC).