A universidade, desde sua origem, tem a única missão (e talvez a mais digna de todas) de investir esforços estruturais e formativos no intelecto individual e coletivo da comunidade; tais esforços se destinam à nobre missão de perscrutar a verdade dos fatos independentemente de onde ela estiver e sob quais adornos figurarem. Após essa primeira exploração e conceituação, sua segunda missão passa a ser a apresentação da verdade à sociedade em forma de princípios compreensíveis e pragmáticos.
Seja a Verdade perene e “imorrível”, ou subjetiva e vaporizada, a missão primeva do culto ao conhecimento é buscá-la e contemplá-la em suas particularidades e mistérios. Rompendo, assim, o véu obscurantista das crendices e sobrepujando as sombras aterradoras de nossas cavernas da ignorância.
Sócrates, Aristóteles, Platão, Santo Agostinho, Santo Anselmo e São Tomás de Aquino podem ter discordado pontualmente sobre o que era a Verdade (ou as verdades), entretanto, para esses grandes homens que cimentaram o conhecimento ocidental, se o intelecto em perseguição do reto conhecimento possui algum motivo essencial de existir, esse é tão somente a busca pela realidade dos fatos, pela verdade substancial. Não obstante essas obviedades que repeti quase até a exaustão, parece-nos que tais intuições se perderam em alguma fresta da modernidade.
Assim que as universidades tornaram-se abertas aos anseios de homens que não mais queriam o conhecimento para permear o solo da liberdade social, mas tão somente para erigir seu poderio político e o de seu partido; tais intentos desviados se coadunaram justamente com a era das ideologias políticas pós-revolução francesa.
Se os revolucionários derrubaram as antigas estruturas da aristocracia encastelada; é certo dizer que os mesmos revolucionários ergueram novas muralhas, ainda mais altas e imponentes, quase impossíveis de serem transpostas. Denominamos tais muros de ideologias.
Percebeu-se, então, que a máxima expressa por Raymond Aron em “O ópio dos intelectuais”, era profundamente verdadeira: "Toda libertação, entretanto, traz em si o perigo de uma nova forma de sujeição" (ARON, 2016, p. 32). A universidade sujeitou-se e, se sujeitando, sujou-se no lamaçal do fanatismo.
Onde começa a treta
Se antes as universidades serviram ao status quo político e eclesial, não é nenhuma mentira dizer que hoje elas servem ao status quo político-estatal. Ora, as universidades são as bases teóricas da sociedade, o terreno da fertilidade intelectual, onde jazem os mananciais de uma comunidade ordeira e evoluída. Pois bem, assim como os mananciais de água são de bem comum em um vilarejo, e invariavelmente a todos tocam, seria extremamente maléfico caso tais mananciais se encontrassem polutos numa comunidade delas dependentes.
Caso se queira destruir ou contaminar uma comunidade inteira de maneira massiva com qualquer mal, infectar as fontes é um caminho rápido e eficiente; afinal, cedo ou tarde todos terão que recorrer a elas. A universidade é uma das fontes de que a sociedade necessita e onde invariavelmente sacia sua sede de conhecimento; é ela o principal manancial que as ideologias revolucionárias tomaram para poluir a fim de espalharem seus ideais políticos por meio da alienação.
Foi isso que o marxismo adotou como princípio estratégico no final do século XIX e início do XX, principalmente com o marxista Max Horkheimer e os demais da escola de Frankfurt. Horkheimer bem entendeu que a sociedade ocidental se estruturava basicamente sobre três pilares (fontes): a Igreja, Família e Escola (ou universidade).
Intuíram os marxistas que: para que houvesse uma revolução profunda, eficaz e duradoura, antes era necessário “contaminar” essas fontes da sociedade - fontes essas que mantinham-na num conservadorismo cultural de molde judaico-cristão. Tal realidade foi vista em toda a Europa, no século passado, com o surgimento de pensadores radicais que não escondiam suas oposições ferrenhas a esses três princípios régios.
Contra a família tradicional, investiu forças o movimento feminista radical, principalmente com Simone de Beauvoir, Kate Millet, Shulamith Firestone e Judith Butler. Contra a Igreja, os movimentos eclesiais de base sob o jugo da Teologia da Libertação, movimento esse que obteve enorme sucesso na América Latina; seus principais expoentes são: Gustavo Gutiérrez, Leonardo Boff, Frei Beto, Jon Sobrino e Juan Luis Segundo.
Por fim, contra a universidade, investiu a conhecida Escola de Frankfurt e seus descendentes diretos e indiretos (a Escola de Frankfurt foi herdeira direta do conhecido socialismo científico, linha de reflexão intelectual criada por Karl Marx), esse foi o movimento intelectual que melhor conseguiu alcançar seus objetivos revolucionários.
Através da enculturação das teses marxistas na academia (ao ponto de permear quase todas as matérias de humanidades com interpretações ramificadas do marxismo), essa escola conseguiu iniciar com extremo sucesso a hegemonia intelectual esquerdista que ainda hoje domina as academias de ensino ao redor do globo.
Seus expoentes são muitos, tendo ligações diretas ou indiretas com a dita escola, citarei alguns com o intuito de ilustração: Max Horkheimer, Jürgen Habermas, Theodor Adorno, György Lukács, Antonio Gramsci, Michel Foucalt e Jean-Paul Sartre. Para um estudo mais profundo da temática, recomenda-se a leitura de “Marxismo e Descendência”, do intelectual brasileiro Antonio Paim; e “Pensadores da nova esquerda”, do filósofo inglês Roger Scruton.
Tal realidade foi descrita por Jean Sévillia, jornalista e ensaísta francês, como sendo um “terrorismo intelectual”, termo que também dá nome ao seu livro onde ele mostra que desde “o século XIX, os estudos acadêmicos do período revolucionário sempre foram de exclusividade da esquerda” (SÉVILLA, 2009, p. 143).
A universidade passa, então, assim como a família e a Igreja (religiões de origem judaico-cristãs), a serem invadidas e contaminadas com o pensamento marxista de maneira deliberada e estrategicamente pensada.
Em um primeiro momento tal oposição era feita de maneira mais argumentativa e agressivamente militante; no entanto, com o advento do pensador italiano Antonio Gramsci, teorizador da ideia do socialismo cultural, ou como denominou “bloco hegemônico”, tal agressividade é substituída pela tomada crescente de espaço cultural e pedagógico na sociedade organizada.
O cozimento político e social é vagaroso, porém eficiente. Se lentamente se tomar posições estratégicas da sociedade, a revolução não precisará de um levante violento de origem proletária, será necessário tão somente um autorreconhecimento do poderio político-cultural da massa socialista que governa as instituições, já que a hegemonia estatal e cultural serão suas.
Tal teoria gramscista foi colocada em prática através das universidades e mídias jornalísticas, afinal, são essas as duas asas da opinião pública. O sucesso é indiscutível.
"No Brasil, contudo, sempre foi a esquerda um movimento de elites intelectuais que controlam a mídia, as cátedras universitárias e os periódicos de grande circulação" (PENNA, 2017, p. 30).
Dominação no Brasil
As universidades, no mundo como um todo, principalmente após as décadas de 50 e 60, passam a verborragiar freneticamente um marxismo cada vez mais pulsante e sufocante. Suas teorias deixam de ser oposição e passam a ser situação, deixam de ser alternativas e passam a ser status quo. Sobre isso, afirma Roger Scruton:
O entusiasmo esquerdista que arrebatou as instituições de ensino nos anos 1960 foi uma das mais eficazes revoluções intelectuais na história recente, e recebeu um tal apoio daqueles afetados por ele que pode ser comparável a poucas revoluções no mundo da política (SCRUTON, 2014, p. 135)
O terreno acadêmico que primeiro foi explorado pela intelligentsia marxistas foi o campo da História, a teoria histórica-econômica da luta de classes foi de fácil transmissão e aceitação social, apesar de suas falsidades.
Karl Popper chamou a teoria histórica-econômica marxista de “pseudociência”; arguia o filósofo austríaco, em seu livro “A Sociedade Aberta e os Seus Inimigos”, que o historicismo marxista tende a escolher um posto isolado de observação da história e, a partir daquela diminuta visão da realidade, proclamar dogmas históricos inalienáveis.
Um exemplo é a famigerada “luta de classes”, para os marxistas tudo passa necessariamente pelo prisma filosófico da luta de classes. Em suma, a teoria histórica marxista, para Karl Popper, é diminuta, seletiva e defeituosa; uma teoria histórica amputada e narcisista.
Entretanto, foi o discurso que mais docemente foi aceito no Brasil e repetido até a exaustão nas matérias de humanidades até a atualidade. Do direito à filosofia, da sociologia à economia, da pedagogia à teologia, todos pensam a partir desse princípio histórico débil e caduco.
Em um mundo de constantes guerras e inimigos, como foi a década de 50 e 60, justificar as nossas mazelas sociais e psicológicas a partir de um inimigo econômico internacional, de uma luta de classes entre um Leviatã estrangeiro rico e o trabalhador pobre nacional, era um discurso muito tentador e de fácil explicação e aceitação. Getúlio Vargas, após a segunda guerra mundial, utilizou-se muito dessa linguagem ideológica.
Não obstante as duvidosas e, por vezes, infantis teorias interpretativas que o marxismo oferecia aos intelectos nacionais, as ideias seguiram seu curso e adentraram com toda a força no sistema educacional do Brasil. Talvez o expoente mais conhecido dessa era intelectual marxista do Brasil foi o teórico Paulo Freire, com sua teoria pedagógica inteira montada sobre o dogma marxista do embate de classe.
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Aos poucos, intelectuais e docentes de todos os níveis educacionais passaram a repetir as máximas marxistas iniciadas pela teoria histórica. Tal teoria oferecia uma espécie de óculos universal (um dogma) pelo qual era possível interpretar toda a realidade sempre pelo mesmo catálogo de explicações sociais. Tudo era culpa das batalhas eternas entre burguesia e proletariado, rico e pobre, patrão e empregado.
A intelligentsia nacional
Após tal contaminação ocorrer de maneira abrangente, há de se erigir os “clérigos” dessa nova religião civil. Tais clérigos são basicamente feitos de dois tipos de homens: os intelectuais (intelligentsia) e os políticos revolucionários; os primeiros ditam as regras e os discursos que devem ser repetidos de maneira compulsória, e os demais arrebanham os militantes a fim de conseguir representatividade social e política.
Diz José Osvaldo de Meira Penna:
"Na concepção de Gramsci, o que vale é a existência de uma espécie de clero dominante, algo como a Ordem dos Jesuítas, organizados, obedientes, dogmáticos, revoltados com as injustiças e maldades do mundo, e firmemente dispostos a corrigi-las a qualquer preço" (PENNA, 2017, p. 31).
Durante a ditadura militar, pode-se ver que, apesar da repressão policial, o pensamento marxista vigorava com força crescente e constante. Tal fato ocorria porque os militares não se propuseram a criar um sistema de ensino para contrapor as ideias marxistas, não prepararam intelectuais capazes de argumentar de maneira coesa contra as suas investidas intelectuais do socialismo - principalmente no terreno pedagógico.
Seus esforços estavam determinados a parar, esconder e reprimir a qualquer custo o pensamento socialista. Atitude que nada mais fez do instigar a curiosidade do: “proibido é mais gostoso” dos jovens universitários da década de 60, 70 e 80; jovens esses que já estavam embebecidos do ideal hippie do “amor livre”, defensores da ideia do “é proibido proibir”.
Pela formação positivista dos militares, achou-se que reprimindo a militância revolucionária a base do medo, cassetete e torturas, acabaria com a invasão socialista no sistema educacional brasileiro. Porém, os militares quase nenhuma atenção dispensaram aos intelectuais que trabalhavam calados, ou em segundo plano, seguindo as diretrizes de Antonio Gramsci.
Tal atitude tola do regime militar fez surgir no Brasil um paradoxo que ia contra as tendências geopolíticas do fim da década de 80; enquanto o mundo repugnava e abandonava as ideias esquerdistas, após a queda do muro de Berlim e o desvelamento dos crimes dos governos comunistas ao redor do globo, o Brasil as abraçavam e fortemente tendiam a erigir uma república baseada em seus pilares gelatinosos.
Onde foi parar
O resultado dessa pequena epopeia foi que, ao findar a ditadura militar, e o mundo acadêmico voltar à suposta normalidade democrática de livre pensamento, viu-se que quase todos os professores disponíveis tinham sido formados a partir dos moldes socialistas. Suas mentes, teorias, e óculos pelos quais enxergavam a realidade, estavam todos pré-definidos pela mentalidade marxista. E assim as universidades estavam novamente sujeitas e amarradas, não mais aos crivos das mãos pesadas dos censores militares, é verdade; mas estava agora de joelhos prestando culto diante do altar pensamento marxista, incapaz de conceber maneiras diversas de pensar, fanatizada por sua ideologia-deus.
Hoje é impossível negar os verdadeiros hospícios socialistas que se tornaram as universidades brasileiras. Situações escabrosas e deploráveis como o de professores, que são abertamente conservadores ou liberais, como o caso do professor de filosofia da UFPE Rodrigo Jungmann, ou Ricardo Felício da USP, sendo intimidados, ameaçados, boicotados. Em alguns casos, até tendo seus bens depredados. Isso tão somente porque suas ideias não estão inseridas nos catálogos de permissão ideológica do esquerdismo.
Alunos que não coadunam com o pensamento socialista são rechaçados e agredidos. Como no caso da exibição documentário do filósofo conservador, Olavo de Carvalho, na UFPE, onde ao terminar o cine-debate os espectadores foram cercados, ameaçados e agredidos. Outras situações mais aterradoras se acumulam nesse mar aberrante das universidades brasileiras; cenas de mostras culturais que mais parecem cenas de filmes de terror, manifestos histéricos e cognitivamente desconexos da realidade que fazem jus à teoria de Lyle H. Rossiter de que o socialismo se tornou doença mental.
O pensamento esquerdista, na universidade brasileira, tornou-se hegemônico e manteve-se dogmático (dois princípios extremamente perigosos quando unidos); contrariá-lo ou questioná-lo é crime “lesa-pátria” que pode render hematomas e queimas de reputação pessoal e acadêmica.
Não há espaço para contrapontos e debates saudáveis na academia brasileira; quem já foi universitário na área de humanidades e tentou se opor à doutrinação sabe que tal realidade é cortante e inegável.
Chegou-se ao ponto de ser preciso uma decisão judicial para garantir a liberdade de consciência dos universitários de não participar de oficinas de ideologia de gênero e movimento LGBT na universidade de Lavras, sem que com isso os estudantes sejam expulsos. Uma sociedade equilibrada não precisaria de assinaturas de juízes para que a garantia primordial de liberdade de consciência fosse respeitada.
Outro caso, e a mais recente aberração acadêmica, que não sem motivo está sendo tratado pelos sensatos como sendo uma afronta às instituições nacionais, é o “curso contra o golpe”. Várias universidades já aderiram ao “curso contra o golpe”, se referindo ao processo de impedimento da ex-presidente Dilma Rousseff.
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Ainda que o processo tenha seguido todos os trâmites legais da constituição, tenha tido aporte da Suprema Corte e da vontade maciça da população, não se cansa de apregoar um “golpe” fictício a fim de justificar suas militâncias. Em suma, as universidades brasileiras contarão uma mentira, endossarão um discurso irreal. Atiçarão no campo do direito, ao nível universitário, a maior das desonras que o mundo das ciências jurídicas pode imaginar para si, isto é: o ativismo jurídico em prol de uma ideologia política; a prostituição da reta doutrina judicial (que deveria ser imparcial) em favor de um partido. Não se trata de interpretação diversa, se trata de apologia deliberada a um ideal político; um parcialismo aberrante e vergonhoso em favor de um partido ou causa ideológica.
O Ministério da Verdade
Esse curso acima citado, me faz lembrar vividamente de 1984, aclamada obra do socialista consciente: George Orwell. O personagem principal, Winston, era funcionário do Estado totalitário da trama, trabalhava ele para o Ministério da Verdade, organização estatal encarregada de apagar e modificar os fatos históricos para que realidade se amoldasse à ideologia do Estado e mantivesse intacta a imagem messiânica do supremo líder.
Com esse trabalho, Winston ajudava o Grande Irmão a se manter onipotente no poder e revigorar na consciência coletiva da população a doutrina da ideologia salvífica e inerrante do Estado. No caso do Brasil, a situação é assustadoramente análoga, a intenção é criar uma “verdade” histórica inexistente: o “golpe contra Dilma”. Todos os elementos são assustadoramente parelhos. As universidades brasileiras estão atuando como o Ministério da Verdade, encaixotando os fatos históricos entre as paredes claustrofóbicas da ideologia socialista para dar-lhe o formato que seja favorável às causas que defendem.
Aliás, constantemente vemos isso no comunismo, Dmitri Volkognov, em sua obra Stalin; Alexander Soljenítsin, com a obra Gulag; e Svetlana Aleksiévitch, em Vozes de Tchernóbil, concordam em afirmar que o governo soviético era mestre em ocultar, modificar e ditar qual deveria ser a história oficial.
Não raramente víamos Soljenítsin gastar páginas e mais páginas para nos contar com detalhes aterradores sobre os teatros e alegorias judiciárias criadas pela URSS a fim de esconder suas incompetências e erigir bodes expiatórios. Nunca era culpa do partido, nunca é culpa do PT, da Dilma ou do Lula; sempre havia uma conspiração a ser suprimida pelo partido na URSS, sempre há um golpe a ser combatido no Brasil.
A propaganda, baseada na construção falsária da história, serviu de impulso e manutenção dos dois principais regimes totalitários do século XX: o comunismo e o nacional-socialismo. Mas, sem sobra de dúvida, o comunismo se valeu dessa arma com muito mais destreza e eficiência; basta ver que se utiliza dela até hoje.
A luta de classes como motor da história, o maior embuste teórico já criado, continua a ser o filtro pelo qual quase todas as universidades e mídias julgam a realidade. Ainda que mais de 100 anos de estatismo republicano, de protecionismo mercantil, tenha legado ao Brasil uma herança pobre em desenvolvimento científico, econômico, social e intelectual, a propaganda sindical e estatista continua a vigorar com enorme sucesso nas penas e bocas dos formadores de opinião. Ainda que a esquizofrenia ideológica deixada pelo esquerdismo tenha historicamente deixado um mar de sangue, ainda sim se pensa que o socialismo é a defesa da paz.
Enfim, o socialismo se graduou na arte de propagandear sua teoria apesar da verdade dos fatos; e quando necessário foi, ousou encaixar a realidade nas suas formas ao invés de acatar o imperativo do real.
A liberdade pede licença
A liberdade é um princípio que se autoimpõe; os indivíduos sentem que a liberdade é uma realidade que os acompanham e de alguma maneira clama sem cessar por suas consciências. Assim como a esquerda triunfou, apesar da censura e do regiscismo militar, o contraponto conservador e liberal se erguerá independentemente dos esforços de censura das universidades. Chega a ser paradoxal e terrível ter que concluir que a universidade, hoje, é o grande censor da democracia nacional; o lugar onde a liberdade deveria figurar como regra, ela tornou-se maldição.
Uma universidade que se diz aberta por dar cotas e apregoar a diversidade de gênero, ao mesmo tempo que emudece o conservador e rechaça o liberal, é tudo, menos livre.
É refém de uma mentalidade enganosa, pútrida e verdadeiramente escravizante. O local onde sustentar ideias diferentes seja motivo de expulsão ou humilhação, não pode arrogar ser um centro democrático de ensino; é antes um campo de concentração onde os judeus são nossas consciências.
Uma sociedade só é livre onde o ensino é livre. Dentro das paredes de uma universidade, a confluência de ideias diferentes não deveria ser algo forçoso, mas sim necessário. A diversidade de ideias forma o arcabouço científico e filosófico de uma sociedade madura capaz de conviver com o diferente.
Não é impondo o alternativo que a tolerância se tornará uma virtude, mas sim fazendo com que o alternativo e o ortodoxo convivam em harmonia e tenham liberdade para discordarem, debaterem e se converterem (caso seja de livre escolha) a alguma corrente de ideia que julgar mais coerente; é dessa maneira que poderemos alcançar uma democracia possível, onde as universidades sejam distribuidoras de conhecimentos e não catequistas de ideologias.
Conclusão
As universidades brasileiras se encontram acanhadas em suas utopias, olham para as paredes de seu bunker ideológico, pintadas de mundos ideais, e figuram em suas mentes imagens de êxtases revolucionários e inimigos imaginários sem se dar conta daquilo que ocorre do lado de fora de seu mundinho fictício.
Mal percebem que boa parte dos brasileiros abandonaram as ideias socialistas e começaram a requisitar espaço nas universidades PÚBLICAS do país a fim de ensinar e propagar novas ideias. “Ideias, somente ideias, podem iluminar a escuridão” (MISES, 2017, p. 213), dizia Mises. Nunca foi tão atual e profético.
Os clérigos socialistas (aqui no Brasil esse termo se torna paradoxalmente metáfora e realidade), ao olharem pela porta de seu bunker, percebem o avançar ininterrupto de jovens que não mais se amedrontam com intimidações acadêmicas ou com opressões midiáticas; tais jovens começaram a estudar apesar da lacuna propositalmente deixada na ementa do conhecimento político do país.
Levantam-se nas salas de aulas do país e questionam seus docentes sobre a teoria de Eric Voegelin que demonstrou que o socialismo é baseado no mito amorfo de Joaquim de Fiore; questionam sobre Ludwig von Mises e Friedrich Hayek que demonstraram que o socialismo econômico é inviável; questionam sobre as revelações históricas aterradoras feita por Alexander Soljenítsin, Robert Sérvice, Tmothy Snyder e Stéphane Courtois sobre os morticínios demoníacos deixado como legado do comunismo.
No Brasil, as universidades se tornaram praticamente o último bunker da esquerda. Os sindicatos se encontram desunidos e agonizantes após o corte em seus orçamentos feitos pela nova lei trabalhista que desobriga o trabalhador a pagá-los; no terreno dos três poderes, a partir das eleições de 2018, a tendência está claramente à direita. É de opinião quase que unânime que após as eleições teremos uma guinada significativa para as pautas tidas como “conservadoras” e de “livre mercado.
Roger Kimball em seu livro Radicais na universidade, nos diz: “A verdadeira tirania é privar os alunos do melhor que foi pensado e dito em nome de uma ou outra versão de retidão política” (KIMBALL, 2009. p. 267). Ou a universidade se abre ao diferente, ou ela irá ruir unida à sua arrogância fanática!
As universidades brasileiras mostram-se a última trincheira a ser transposta para fora desse terreno inóspito da doutrinação política e pedagógica. De duas uma: ou a universidade se reinventa e deixa de tratar com hostilidade o pensamento liberal e conservador, abrindo espaço para outras teorias e modos de ver a realidade; ou ela se fechará ainda mais em sua bolha ideológica, assistindo vagarosamente o avanço irrefreável dos conservadores e liberais brasileiros.
Diante da missão primeva da universidade: a busca pela Verdade; nenhuma gaiola ideológica pode impedi-la por muito tempo de procurar pelo objeto de sua vocação. Se a Verdade pudesse dizer-nos algo diante da censura ideológica moderna, repetiria exatamente o que Irmã Branca dizia no Diálogo das Carmelitas: “Morro toda noite para ressuscitar a cada manhã” (BERNANOS, 2013, p. 22). A liberdade de pensamento avançará com ou sem esses intelectuais encastelados nas universidades.
Referências:
ARON, Raymond. O ópio dos intelectuais, Três estrelas: São Paulo, 2016.
BERNANOS, Georges. Diálogo das Carmelitas, São Paulo: É realizações, 2013
KIMBALL, Roger. Radicais na universidade: como a política corrompeu o ensino superior nos Estados Unidos da América, São Paulo: Peixoto Neto, 2009.
MISES, Ludwig von. As seis lições: reflexões sobre política econômica para hoje e amanhã, 8ª Ed, São Paulo: LVM, 2017.
PENNA, J. O. de Meira. A ideologia do século XX: Ensaios sobre o nacional-socialismo, o marxismo, o terceiro-mundismo e a ideologia brasileira, 2ª Ed, São Paulo: Vide Editorial, 2017.
SÉVILLIA, Jean. O terrorismo intelectual: de 1945 aos nossos dias, São Paulo: Peixoto Neto, 2009.
SCRUTON, Roger. Pensadores da nova esquerda, São Paulo: É realizações, 2014.