Aprender um idioma online pode ser frustrante, ao menos para quem busca a fluência na língua e acredita que isso pode ser feito através de um intensivo à distância, sem qualquer interação presencial. E não há nada de novo nisso: especialistas como Noam Chomsky chegaram a tal conclusão há cerca de 60 anos.
O aplicativo Duolingo, disponível de forma gratuita para Pcs, tablets e smartphones, é um bom exemplo do sucesso das plataformas digitais: chegou recentemente à marca de 170 milhões de usuários – o equivalente a mais de metade da população dos Estados Unidos.
O aprendizado de qualquer idioma via internet é, sim, um benefício: a praticidade de realizar exercícios interativos e assistir a videoaulas pré-gravadas em qualquer lugar garante a flexibilidade da prática a quem não tem tempo ou dinheiro para encarar um curso presencial. Muitos desses cursos à distância, porém, prometem resultados irreais, como fluência em 6 semanas sem sair de casa.
“Aprender uma língua ao ponto de se tornar proficiente envolve trocas sociais entre pessoas. Língua também são gestos, silêncios, intenções e negociações à medida que a conversação acontece, em tempo real”, analisa Luiz Fernando Schibelbain, especialista no Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas e diretor da Positivo English Solution School (PES School).
“O aprendizado online vai até certo ponto, fornecendo os alicerces iniciais. É como aprender a dirigir em um simulador: com a prática nas ruas e as surpresas cotidianas do trânsito, um motorista terá o traquejo para poder enfrentar seus trajetos diários”, compara ele.
Segundo Schibelbain, o aluno de um curso online até pode “chegar ao ponto em que consegue ter conversas relativamente simples”, mas muito provavelmente será incapaz de escrever obras de literatura ou trabalhos que exijam “sutilezas” de vocabulário e gramática mais elaborada. “Já encontrei muitos alunos que aprenderam a se comunicar bem ouvindo músicas, lendo e navegando pela internet. Porém, normalmente há um fator de inclinação para isso em um início mais precoce, como antes dos 10 anos de idade”, argumenta.
A análise é reforçada por obras como Estruturas Sintáticas, em que o linguista Noam Chomsky afirma que o ser humano já nasce “programado” para aprender uma língua nativa que serve como base para aprendizados posteriores. Nessa linha de raciocínio, a fluência total de mais de um idioma é restrita a crianças que começam os estudos até os 10 anos de idade, período em que a mente assimila mais de uma língua como “nativa”.
“Se não supusermos que os seres humanos são especificamente programados para adquirir a capacidade de dominar uma língua, não seremos capazes de compreender como com base em relativamente pouca experiência e nenhuma formação formal, pode uma criança aprender a usar um conjunto complexo de regras e princípios orientadores específicos de modo a comunicar os seus pensamentos e sentimentos aos outros”, afirma ele na obra Reflexões sobre a Linguagem.
Não é tempo perdido
Apesar dos problemas e deficiências constatados, aprender inglês online é algo visto como positivo por Martin Dowle, diretor da filial brasileira do British Council, instituição pública britânica que difunde a cultura inglesa e o idioma mundo afora.
“Cursos online de inglês são uma opção interessante para aprimorar o idioma de forma rápida, flexível e mais econômica”, afirma ele, ressaltando a necessidade de optar por cursos em que haja interação. “Além do contato com os educadores, alunos podem conversar entre si e formar grupos de estudo que continuam até mesmo após o término das aulas.”
Para Dowle, a escolha entre um curso presencial ou online deve levar em consideração o nível de conhecimento e fluência do aluno, além de seus objetivos educacionais ou profissionais. “Um aluno que tem facilidade e disciplina para estudar à distância, já possui familiaridade com o inglês e precisa aperfeiçoar certa competência pode se beneficiar muito”, diz.
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