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Isolamento Social

Os desafios dos alunos com deficiência para acompanhar as aulas remotas durante a pandemia

Imagem ilustrativa. (Foto: BigStock)

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Durante a pandemia do novo coronavírus, as aulas remotas se tornaram um desafio ainda maior para estudantes com algum tipo de deficiência. Enquanto pais e professores tentam preencher a lacuna deixada pelo distanciamento social obrigatório, os alunos com Transtorno do Espectro do Autismo, síndrome de Down, deficiência visual, auditiva, intelectual ou outras condições especiais tentam se adaptar ao novo modelo de ensino online. Mesmo com esses apoios, as dificuldades enfrentadas são grandes.

Não são todos que estão conseguindo, por exemplo, cumprir com as atividades propostas pelas instituições, sejam públicas ou privadas, neste momento de isolamento. Um dos motivos é que não existem as adaptações necessárias nos materiais às deficiências de cada um. Além disso, o acesso aos recursos exigidos para a aplicação das aulas online são limitados em boa parte das famílias ou existem de maneira precária.

Com esse cenário, alguns pais assumiram os papeis de professores, donos de casa e ainda continuam exercendo suas profissões. Uma rotina que exigiu readaptações dentro de casa e até mesmo tirou o sono de alguns. É o caso da advogada Hanna Baptista. A curitibana tem uma filha autista, de 9 anos, que estuda em uma escola regular e está atravessando essa fase com alguns problemas. Gabriela precisou de readaptações nas metodologias do colégio para aprender de forma eficaz.

Apesar do privilégio com o engajamento da mãe, ela ainda precisou de reforços. "As aulas online não são pensadas para crianças com autismo. Então, a gente tem uma dupla adaptação. A primeira seria para a criança estar disponível cognitivamente para esse formato de aula. A segunda seria o próprio conteúdo. Muitas vezes, o recurso da aula online dificulta o aprendizado. Eu tive que explicar na maioria das vezes a matéria de outra forma diretamente para ela, porque a aula online acabou confundindo a compreensão dela", explicou Hanna.

"Estou dormindo apenas três horas e meia ao dia para readaptar os conteúdos pedagógicos que a escola entrega para minhas filhas, dividir as tarefas domésticas com meu marido e ainda continuar trabalhando ao menos 10 horas diariamente", conta a advogada.

Para ela, a pandemia trouxe alguns ensinamentos, mas várias dificuldades para a maioria das famílias. "A gente já encontra dificuldades na inclusão sem a pandemia. A maioria das crianças não tinha aulas online como fonte de estudo e isso requer uma adaptação e inserção delas no mundo de aprendizagem digital – o que já é difícil para crianças neurotípicas. As escolas não fizeram isso e ainda exigiram a utilização do computador como material de estudo. Seria necessário um projeto de educação de inclusão das crianças com autismo nesse sentido", sugere.

Outros pais, porém, não conseguem desempenhar essas multitarefas atribuídas a eles nesse período e buscam apoio no desenvolvimento do trabalho árduo de ensinar. A assistente social Roberta Lazarotto comenta que o filho dela, que também tem autismo, não conseguiu acompanhar as aulas pela televisão, tablet ou celular, porque elas não foram adaptadas para ele.

Segundo ela, foi necessário pedir apoio da psicopedagoga dele durante as terapias para preenchimento das tarefas. "Estou trabalhando carga dobrada em um dia e no outro fico com ele", observa. Para a assistente social, não houve atenção para criança com deficiência por parte da rede municipal de ensino. "Até hoje, apenas uma vez a escola disponibilizou conteúdo impresso às famílias, mas veio sem adaptação. É um conteúdo distribuído a todos os alunos", diz.

Outras famílias também encontraram vários problemas e nenhum apoio nesse período. Mãe dos gêmeos Caio e Enzo, ambos com autismo, a fisioterapeuta Karlen Pagel precisou adaptar os materiais sozinha em casa. "A escola não adaptou nenhum conteúdo ou estratégia para eles nesse momento", lamenta. "Na semana passada, entrei em contato com as professoras solicitando 30 minutos por dia de aulas online individualizadas e ainda aguardo a resposta", diz ela.

A rotina dos gêmeos se baseia em um hora de aula online diariamente, após o almoço, terapias e outras atividades. "Nenhum dos dois se adaptou às aulas desenvolvidas pela escola, porque são aulas rápidas e os alunos conversam demais na plataforma. Dessa maneira, eles não conseguem acompanhar", explica Karlen.

Mais um casal que mudou radicalmente a rotina para atender as dificuldades dos filhos com a suspensão das aulas presenciais é o formado por Carolina e Fabio Kreusch. Os dois têm quatro filhos e um deles nasceu com paralisia cerebral e epilepsia. No primeiro ano do Ensino Fundamental, o aluno tenta conciliar o ensino em casa, as atividades escritas enviadas pela escola e as terapias de reabilitação neurológica.

De acordo com Carolina, o tempo para tantas demandas importantes não é o suficiente, mas a pandemia trouxe a oportunidade dos pais conhecerem de perto com mais detalhes cada conteúdo que a escola propõe. Idealizadores do projeto Mater & Pater Plus, os dois afirmam que as aulas online não são o veículo mais apropriado para ensinar uma criança com deficiência.

"Entendo que a pandemia nos pegou de surpresa e que as escolas estão fazendo o seu melhor, mas no nosso caso optamos por não colocar nosso filho na frente da TV por tanto tempo. Ele faz acompanhamento na terapia de estimulação visual e muitas horas na frente da tela lhe traria prejuízos nesta área", destaca.

Impacto do isolamento

De acordo com o presidente da Federação das Associações de Síndrome de Down, Antônio Carlos Sestaro, o isolamento imposto pela pandemia retirou o convívio desses estudantes que precisam disso para seu desenvolvimento. "Esse foi o primeiro impacto, o impacto do convívio social. Em relação às práticas pedagógicas, muita famílias não estão preparadas pedagogicamente para oferecer apoio aos seus filhos. Às vezes, os pais não têm tempo para ajudar nas atividades escolares. Muitos estão se desdobrando para atender", afirma.

Além das questões pedagógicas, Sestaro destaca ainda que existem famílias que estão em situação de vulnerabilidade social e que não têm acesso à internet.

Volta às aulas

No Paraná, por exemplo, a previsão inicial - dependendo da situação da pandemia - é de que a retomada das aulas poderia ocorrer em agosto. Em outros estados, conforme decretos estaduais, existe a possibilidade de as aulas retornarem em julho.

Com isso, as famílias terão que se preparar para esse período, já que a voltas às aulas presenciais vai exigir atenção dobrada. Os equipamentos de proteção individual serão necessários, como medida de segurança e de saúde. Enquanto isso não acontece, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) está preparando um parecer para auxiliar famílias e escolas para essa nova fase.

Notas

De acordo com a secretaria municipal de Educação de Curitiba, videoaulas com adaptações metodológicas estão sendo realizadas aos sábados, para estudantes em inclusão, e também com tradução em Libras.

Segundo a Secretaria Estadual de Educação do Paraná (Seed), o Departamento de Educação Especial (DEE) está fazendo o acompanhamento semanal dos alunos que necessitam de alguma adaptação. Os pais dos estudantes podem entrar em contato com os diversos canais da Seed, via Núcleos Regionais, ou mesmo diretamente com as escolas em que os filhos estejam matriculados. O órgão ainda informou que o Google Classeroom, uma ferramenta para dar acessibilidade a pessoas com deficiência, está sendo utilizada para atividades em computadores. Além disso, professores estão atendendo alunos com autismo individualmente por outras plataformas como WhatsApp.

O Ministério da Educação (MEC) foi procurado para saber se a pasta tinha a intenção de coordenar ou propor alguma ação a estados e municípios em relação a esses alunos, mas não houve retorno à reportagem até a publicação da matéria.

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