Presente na rotina escolar há mais de um século, o uso do uniforme ainda divide opiniões de alunos, pais e especialistas. Os defensores, de um lado, destacam a praticidade e a segurança que ela oferece às famílias e instituições. De outro, critica-se a falta de autonomia e liberdade que a padronização impõe.
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Fato é que, mesmo não sendo obrigatório, a maioria das escolas, sejam elas públicas ou privadas, adota o uniforme. E essa vitória tem vários motivos apontados como benéficos para os alunos.
Sem discriminação
Um dos primeiros pontos positivos seriam a praticidade e a economia que ele traz para o dia a dia ao “poupar” as demais roupas das crianças e jovens. Depois, a segurança dos alunos dentro e fora da escola é outro argumento em defesa da vestimenta. “Se acontece alguma confusão, os alunos estão identificados e temos como protegê-los fora da escola”, pontua Lourival de Araujo Filho, diretor-geral do Instituto de Educação do Paraná.
Dentro do ambiente escolar, além de facilitar o controle do acesso, o uniforme é uma ferramenta para reduzir a discriminação. Isso porque ele colabora para o entendimento de que naquele espaço todos são iguais e têm as mesmas oportunidades.
“Ele [o uniforme] também ajuda a criança a se acostumar a ter comportamentos específicos de acordo com a realidade de cada ambiente em que está inserida”
O uso do uniforme contribui, ainda, para o processo educacional. O ritual de vestir o uniforme possibilita à criança identificar que aquela é a hora de estudar, de se dedicar a uma atividade que tem um propósito, explica a pedagoga Dinah Quesada Beck, doutora em Educação e professora da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). “Ele também ajuda a criança a se acostumar a ter comportamentos específicos de acordo com a realidade de cada ambiente em que está inserida”, acrescenta Evelise Portilho, professora de Pedagogia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
Autonomia
Mesmo com as críticas levantadas por alguns pares, os especialistas ouvidos pela reportagem não acreditam que o uso do uniforme restrinja a identidade dos estudantes. Para Fabiana Cristina Campos, superintendente de Educação da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, isso não é mais um limitador, uma vez que os alunos podem fazer uso de acessórios e outros adereços para expressar sua individualidade ou identificação com determinado grupo.
O investimento das escolas na modernização e na ampliação da oferta de peças para compor o uniforme é outro ponto que contribui para que, apesar de uniformizados, os alunos não estejam necessariamente idênticos uns aos outros, como lembra Dinah.
De acordo com ela, a atenção aqui está no fato de que, em alguns casos, tal amplitude pode ser um incentivo ao consumismo. “Há escolas que dentro do próprio prédio contam com lojas que vendem vários produtos. Em um primeiro momento isto pode parecer um facilitador, mas [é importante pensar sobre] o que se está educando com isso”, pontua.
A compreensão quando o aluno falha
Quando os pais matriculam os filhos em uma instituição, automaticamente se comprometem a cumprir algumas regras, entre elas o uso do uniforme. Mesmo assim, há um consenso entre os especialistas de que o aluno não pode ser impedido de entrar caso não esteja uniformizado. “A prioridade é que o estudante esteja na sala de aula. Ele pode receber um comunicado [sobre a falta da vestimenta], mas a escola tem que deixá-lo assistir à aula”, diz Fabiana Cristina Campos, da Seed.
Escolha democrática
Para incentivar ainda mais o uso do uniforme entre seus alunos, o Instituto de Educação do Paraná optou por deixar na mão dos estudantes a elaboração do modelo que será adotado a partir do próximo ano letivo. O anúncio foi realizado durante as festividades do 140º aniversário da instituição, celebrado em abril. A ideia, de acordo com o diretor geral Lourival de Araujo Filho, é a de que os estudantes criem novas propostas para o uniforme e a apresentem na Semana Cultural da instituição, que será realizada em novembro. “Baseado nos modelos, vamos fazer uma eleição com a comunidade, envolvendo pais, alunos, professores e funcionários”, explica. A criatividade dos estudantes, porém, estará limitada a alguns critérios, como a obrigatoriedade de o uniforme conter o logo do colégio e ter, no máximo, duas cores. “Quando foi divulgada [a proposta] os alunos vibraram demais com a ideia. Agora, se vão surgir muitos modelos, ainda não sabemos”, acrescenta Araujo Filho.
Além do shortinho, estudantes buscam diálogo
No início deste ano, estudantes de um colégio particular de Porto Alegre protagonizaram o que ficou conhecido como a “revolta do shortinho”. Descontentes com a proibição do uso da vestimenta pela escola, as alunas protestaram, elaboraram um abaixo-assinado e escreveram um manifesto que relacionava tal fato à cultura de violência contra a mulher. Manifestações semelhantes também ocorreram em escolas de São Paulo e Rio Branco.
Mais do que contestar a proibição do uso do “shortinho”, os especialistas ouvidos pela reportagem acreditam que o principal objetivo das alunas era estabelecer um diálogo com suas respectivas instituições e chegar ao entendimento sobre os argumentos que levavam as escolas a assumir tal postura em relação à vestimenta.
“Elas trouxeram muito mais para a discussão, como a questão de gênero e a ideia de que as meninas têm que cuidar da roupa para não desviar a atenção dos colegas e professores”, diz a pedagoga Dinah Quesada Beck, doutora em Educação e professora da Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
A especialista afirma compreender o fato de as escolas terem suas regras e diz concordar com o uso do uniforme. Mas lembra que é importante que se converse com os sujeitos que fazem uso dele, que a escola esteja aberta para dialogar com os jovens e as famílias para pensar em estratégias para o uniforme.
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