Quais são os países com maior impacto em suas publicações acadêmicas? Afinal, apesar do que os governos petistas repetiram à exaustão, quantidade sem qualidade não é o suficiente.
O impacto internacional, medido pelas citações por publicação (CPP) de um país, e não pelas citações totais ou publicações totais, dá a medida mais precisa para avaliar o quanto uma nação influencia e lidera o cenário global.
Nessa corrida, o Brasil já esteve muito melhor. De quinze anos para cá, simplesmente parou no tempo e foi ficando para trás. Hoje o país patina com um CPP=0,54 em 2019, uma fração do impacto da líder, Singapura., que alcançou CPP=1,25 (a Suíça é a 2º colocada, seguida por Hong Kong).
Em uma lista de 74 países com pelo menos 3000 publicações, o Brasil está atualmente em 62º lugar no ranking CPP. A manter esse ritmo de perda de relevância, nosso país caminha a passos céleres para ocupar a última posição.
Vamos agora fazer uma linha do tempo, olhando ano por ano, mantendo fixo o número de países em 74. Podemos ver que o Brasil, de 2005 e 2019, foi perdendo posições no ranking CPP. Recapitulando: em 2019 ficamos em 62º lugar.
2018 (min. 3000 artigos): 64º lugar
2017 (min. 2480 artigos): 62º lugar
2016 (min. 2197 artigos): 63º lugar
2015 (min. 2009 artigos): 60º lugar
2014 (min.1923 artigos): 57º lugar
2013 (min. 1759 artigos): 53º lugar
2012 (min. 1410 artigos): 53º lugar
2011 (min. 1270 artigos): 47º lugar
2010 (min. 1093 artigos): 48º lugar
2009 (min. 968 artigos): 45º lugar
2008 (min. 932 artigos): 44º lugar
2007 (min. 808 artigos): 44º lugar
2006 (min. 716 artigos): 46º lugar
2005 (min. 669 artigos): 37º lugar
Em 2005, estávamos na 37ª posição. Ao longo deste tempo, fomos ultrapassados por nações que são referência em seu nível de qualidade na educação, e que ainda assim estavam atrás do Brasil – é o caso de Coreia do Sul, Taiwan e Japão.
A queda livre do Brasil no ranking CPP fica mais clara ainda no seguinte gráfico:
Vejamos os países que nos ultrapassaram, e que estão na lista de 2005 (74 países com até 669 publicações). A imagem abaixo mostra do 37º lugar (Brasil) até o 45º lugar (Turquia). Eslovênia, México e Turquia também ultrapassaram o Brasil.
Lembrando que a Turquia é um país tradicionalmente pouco afeito à livre expressão de pensamento, famoso por suas medidas que visam restringir o acesso a informações na internet (a Wikipedia foi bloqueada entre 2017 e 2020) e também a liberdade de expressão (uma lei recente reduziu liberdade para uso de redes sociais. Apesar de censura pouco combinar com produção acadêmica de qualidade, os turcos também nos ultrapassaram.
A Indonésia está hoje em último lugar no ranking de 2019. Letônia não obteve quantidade suficiente de publicações para aparecer no ranking de 2019. Entretanto, apresentou CPP=0,81 – valor acima do Brasil.
Quanto mais se desce no ranking, mais se encontra países que superaram o Brasil. Veja agora a lista das nações que, em 2005, estavam entre o 42º ao 54º lugar. Desses nove países, cinco ultrapassaram o Brasil em CPP e estão no ranking de 2019. Índia e Tunísia se mantiveram abaixo do Brasil em 2019.
Entre as nações que nos superaram ao longo desses 14 anos está o Irã, uma ditadura controlada por um líder supremo, de cargo vitalício, que elege sozinho a Suprema Corte do país, e o Líbano, assolado por um conflito interno iniciado em 2011. Convenhamos: é um feito impressionante ser ultrapassado em relevância por um país que se vê assolado por batalhas há quase uma década.
Venezuela e Kuwait não publicaram em quantidade suficiente para aparecer na listagem de 2019. Entretanto, ainda assim, o Kuwait ultrapassou o Brasil em impacto, com CPP=1,10. A Venezuela, em 2019, apresentou CPP superior ao Brasil, mas, analisando sua linha do tempo, se percebe que foi um ponto fora da curva.
A próxima imagem mostra países que estavam do 55º ao 63º lugar em 2005. Dos nove países, cinco ultrapassaram o Brasil em CPP e estão no ranking de 2019 – a lista inclui a Jordânia, a Polônia e a Arábia Saudita, que conseguiu saltar para o 11º lugar.
Marrocos e Nigéria se mantiveram abaixo do Brasil em impacto em 2019. Por enquanto, não estamos atrás dos nigerianos, cujo território é parcialmente ocupado por um grupo terrorista, o Boko Haram.
Finalmente, observamos mais nove países que estavam abaixo do Brasil em 2005 – do 64º ao 72º lugar. Cinco ultrapassaram o Brasil em CPP e estão listados abaixo. Argélia e Rússia se mantiveram atrás do Brasil em 2019. Cuba publicou menos de 2 mil artigos em 2019 e, portanto, não entrou na listagem. Mas apresentou impacto inferior ao Brasil (CPP=0,37 versus CPP=0,54).
A comparação com o final da lista indica que cometemos a façanha de sermos superados pelo Paquistão, um país de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,490 (na comparação com 0,759 do Brasil), taxa de analfabetismo de 62% e acesso à rede sanitária de apenas 58%.
A Geórgia é um caso interessante, pois aparece em 71º lugar em 2005, mas apresentou um imenso aumento de impacto ao longo dos anos. Chegou em 2019 em 1º lugar no ranking CPP entre países com até 2 mil publicações (CPP=1,41, valor superior ao de Singapura). Entretanto não está na lista dos 74 países de 2019 com até 3 mil publicações.
Mais dois países estão na lista de 2005, e que ficaram abaixo do Brasil: Ucrânia (73º lugar) e Bielorrússia (74º lugar). Ucrânia se manteve abaixo do Brasil em 2019 e Bielorrússia não apresentou quantidade suficiente de publicações para aparecer na lista de 2019.
A seguir esse passo, o Brasil está próximo de se alcançar o posto triste de nação de produção acadêmica menos relevante do planeta. Para reverter esse quadro, é fundamental que as instituições de ensino superior, especialmente as universidades públicas, interajam com a sociedade, especialmente o setor produtivo, e produzam pesquisas relevantes.
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