Muito já foi escrito na imprensa nacional e internacional sobre as consequências permanentes que a pandemia deixará no mundo, como a massiva adesão de empresas ao home office e o hábito de fazer videoconferências. No que diz respeito ao homeschooling, contudo, só agora começam a surgir dados mensuráveis de como cresceu o interesse das famílias por educar em casa. Infelizmente, essas informações não são do Brasil, pois, conforme aprofundei em artigo anterior, graças à ausência de lei, o Estado brasileiro padece de uma ignorância quase completa sobre esse fato social em seu próprio território.
Os dados mais precisos, como sempre, vêm dos Estados Unidos, onde a modalidade é legalizada há 48 anos, e onde coexistem dezenas de legislações diferentes sobre a mesmo tema, variando de estado para estado. De acordo com o National Home Educators Research Institute (NHERI), uma das principais entidades de pesquisa relacionadas ao homeschooling no país, o aumento nos pedidos de registro como família adepta de ensino domiciliar é enorme. Se no último levantamento o número de estudantes homeschoolers no país era de 2,5 milhões, a previsão é de que neste ano o resultado seja de, pelo menos, 10% maior.
Só no estado de Nebraska, por exemplo, o número de famílias educadoras cadastradas junto às autoridades estaduais era de 2.800 antes da pandemia. Em julho, esse número já havia saltado para 3.400. Lembrando de que estamos falando de homeschooling mesmo, e não do ensino remoto improvisado, ao qual os estudantes escolares tiveram de se submeter em todo o mundo.
Outra entidade, a National Home School Association, relatou a uma reportagem da Associated Press que chegou a receber 3.400 pedidos de informação sobre a modalidade em um único dia. Antes do coronavírus, a média era de 20 mensagens diárias.
No Reino Unido, a realidade é a mesma. Uma pesquisa feita em março revelou que o número de estudantes educados em casa cresceu 119% em relação ao mesmo período no ano anterior. Notícias muito semelhantes tratam do mesmo fenômeno ocorrendo na Austrália e na África do Sul.
As causas para o crescimento são fáceis de deduzir, mas também constam nas pesquisas citadas acima. Ocorre que durante a pandemia, ainda que tenham sido obrigados a se isolar com os filhos em casa, pela primeira vez, muitos pais tiveram a oportunidade de encarar o desafio de ensinar por conta própria, usando como auxílio apenas recursos digitais. Para alguns, foi terrível, mas para outros, uma grata surpresa, pois perceberam que conseguem e que os filhos gostaram. Em muitos casos, aliás, as famílias constataram que os resultados em aprendizagem foram objetivamente melhores do que aqueles que costumavam ver quando confiavam apenas no sistema escolar.
Há também uma outra motivação, essa sim, diretamente vinculada ao atual contexto, e que tem aparecido com frequência em questionários sobre esse súbito aumento de interesse pelo homeschooling. Com o retorno gradual das aulas presenciais, mesmo antes de uma vacina que imunize a população, muitos pais temem que seus filhos sejam infectadas pela Covid-19. Apesar das inúmeras promessas de precaução feitas pelas autoridades públicas, nem todas as famílias estão dispostas a apostar a saúde ou a vida de seus filhos com base nas falas de políticos. Preferem abrir mão de uma renda, sacrificar seu tempo e empenhar esforços inéditos, assumindo o protagonismo na educação de suas crianças.
Trata-se de um direito que, ao menos segundo a legislação vigente, os pais e mães brasileiros ainda não têm, e os principais culpados são os parlamentares do Congresso Nacional, em especial aqueles que controlam a pauta de votações. Por motivos obscuros, esses senhores insistem em prolongar sua irresponsável omissão em regulamentar a modalidade.
* Jônatas Dias Lima é jornalista e assessor parlamentar na Câmara dos Deputados, onde atua junto à Frente Parlamentar em Defesa do Homeschooling. E-mail: jonatasdl@live.com.
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