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Na Califórnia

Para tirar licença prolongada, professora com câncer tem que pagar por substituto

Caso chocou a comunidade local. Professora fez cirurgia recentemente. (Foto: Google Maps)

Há muito tempo, professores da Califórnia que enfrentam sérios problemas de saúde têm sido forçados a pagar por um substituto enquanto tiram licença prolongada. Recentemente, o caso de uma professora gerou uma onda de indignação contra essa lei e levou a Assembleia Estadual a reexaminá-la.

E, como muitas outras histórias, essa se tornou conhecida através de uma página de financiamento coletivo.

Em abril, pais de alunos do Distrito Escolar Unificado de São Francisco promoveram uma campanha para arrecadar fundos para uma professora, após descobrirem que ela, além de lutar contra um câncer de mama, estaria pagando por seu próprio substituto na escola, que é pública. O relato do caso no jornal San Francisco Chronicle acabou chocando a comunidade local e gerou indignação em escala nacional.

"Os pais ficaram indignados, dizendo: ‘não pode ser!’”, disse Amanda Fried, mãe de um aluno do jardim de infância, ao Chronicle. "Só pode ser um engano”.

Ao jornal The Washington Post, Eric Heins, presidente da Associação dos Professores da Califórnia, afirmou que há muitos anos essa tem sido a regra para os educadores que ficam doentes. Segundo ele, isso, na verdade, é resultado de um problema maior do estado, relacionado ao sistema de financiamento da educação, que acaba sobrecarregando os professores e não os poupa nem mesmo em momentos críticos, como períodos de doença grave. Ele também lembrou que, recentemente, professores do Colorado e Oklahoma realizaram protestos contra salários baixos e altos custos relacionados à despesas de saúde.

O caso dessa professora de São Francisco, criticou Heins, é apenas um exemplo da pressão enfrentada por tantos outros educadores.

"Isso é apenas um reflexo do quão falho o sistema de financiamento tem sido, por tanto tempo. É horrível pensar que, enquanto alguém sofre de uma doença grave, ainda tem que lidar com essa pressão financeira ‘extra’”, diz.

Pais, professores e outras pessoas de São Francisco conseguiram arrecadar mais de US$ 13,7 mil para ajudar a cobrir as despesas médicas da professora e pagar por seu substituto.

A escola onde ela trabalha não quis informar qual valor deveria ser pago ao substituto. Mas, segundo o acordo coletivo entre o distrito e o sindicato da classe, o custo diário para um docente substituto está entre US$ 174 e US$ 240.

"Ela cuidou de nossos filhos e agora é hora de cuidarmos dela", escreveram os organizadores da campanha na página do GoFundMe.

Segundo Heins, essa diretriz foi estabelecida em 1970. Por não pagarem pelo programa de assistência, professores não podem se beneficiar dele. As regras de licença médica prolongada, no entanto, variam de acordo com o distrito escolar.

Em São Francisco, professores têm direito a 10 dias de licença por questões de saúde.

Quando acaba o período de licença por doença, incluindo os dias acumulados nos anos anteriores, eles podem receber até 100 dias de licença médica prolongada. Deduz-se do salário dos professores o que se deve pagar aos seus substitutos nesse período. Mas se terminam os 100 dias, os docentes não recebem mais remuneração, a menos que sejam membros do Catastrophic Sick Leave Bank, no qual os docentes doam dias de licença a outras pessoas que realmente precisam.

O mesmo tipo de banco de licença médica é usado em outros estados. No Alabama, por exemplo, professores se reuniram para doar seus dias de licença ao professor David Green, depois que sua esposa fez um apelo. Sua licença havia expirado, e ele não podia mais ficar com a filha no hospital, que luta contra um câncer.

"É uma daquelas coisas pelas quais você está sofrendo, mas há muita compaixão entre nossos colegas", disse Heins. "É por isso que fazemos o banco de licenças médicas. Tentamos cuidar de nós mesmos”.

Lei desconhecida por senadores

Na Califórnia, a regra, até pouco tempo, não era conhecida por alguns legisladores.

Connie Leyva, presidente do Comitê de Educação do Senado da Califórnia, disse à NBC Bay Area que ela e outros legisladores estão reexaminando a lei.

"Eu acabei de saber dessa questão e me parece meio exagerada. De fato, acho que os tempos mudaram, e agora é nosso trabalho mudar as coisas”, disse.

Na página da campanha de arrecadação, a professora é descrita como uma "verdadeira profissional", cuja "dedicação e amor por seus alunos não podem ser subestimados". Logo após realizar cirurgia, ela escreveu 22 bilhetes para cada um de seus alunos, agradecendo pela ajuda e dizendo que sentia muita falta deles, além de os encorajar a continuar “trabalhando duro”.

"Nossa escola está se unindo para ajudá-la e fazê-la sentir que não está sozinha", disse Narciso Flores-Diaz, um pai de aluno.

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