Seja para auxiliar na formação de professores, dar uma mãozinha com aulas de reforço para os alunos, para promover atividades esportivas e de lazer ou para abordar de forma mais aprofundada assuntos como sexualidade e violência, as organizações não -governamentais (ONGs) estão cada vez mais próximas das escolas públicas. Apesar de existirem várias experiências que demonstram como essa parceria pode ser benéfica para comunidades escolares, o assunto ainda gera debates a respeito da intervenção dessas organizações dentro de um espaço que é de responsabilidade do Estado. Para Ana Lúcia Jansen de Mello Santana, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenadora do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Sobre o Terceiro Setor (Nits) da instituição, sobram argumentos para que essa parceria seja defendida. Segundo ela, as ONGs devem propor atividades complementares que contribuam para a formação dos alunos, e não interferir no que é considerado atribuição do Estado. "As ONGs transcendem currículos escolares, com temas que precisam ser abordados e que não o são de forma satisfatória na escola, como educação financeira, paz, sexualidade", defende.
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Idôneas
A psicóloga Liliane Casagrande Sabag, atual secretária municipal da Educação e que foi coordenadora do projeto Comunidade Escola, também considera válido o trabalho das ONGs na comunidade escolar, desde que cada detalhe do projeto esteja de acordo com o programa político-pedagógico da escola. "Instituições com bons projetos trazem muita contribuição para o processo educacional e podemos estar em um novo momento de fortalecimento de instituições que são idôneas, que têm excelentes projetos e que podem vir a somar. Mas é fundamental a análise técnica do projeto, para que as atividades sejam escolhidas com extremo cuidado e que elas aconteçam fora do horário regular de aula", diz.
Lacuna
Entre os pesquisadores da área da Educação, porém, há quem veja com preocupação essa relação. Um dos principais motivos seria a ausência ou incompetência do Estado, que seria preenchida pela participação das organizações. O professor Ângelo Ricardo de Souza, pesquisador do Núcleo de Políticas Educacionais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), defende essa ideia. "Normalmente essa parceria nasce ou se desenvolve no vácuo gerado pela ausência do Estado". Ele explica que essa presença das entidades na escola acontece de forma mais intensiva desde os anos 1990, incentivada pelo próprio governo ou por livre iniciativa da sociedade. Para Souza, esse interesse da sociedade é legítimo, mas poderia ser melhor aproveitado. "Não sou contrário à participação mais ativa na escola pública. A questão é avaliar por que meios essa ela se dá e com que grau de responsabilidade. Seria positivo um envolvimento de famílias e entidades no controle social e na cobrança do resultado, assim como a participação em conselhos de escola, conferências e assembleias escolares", diz.
Outra questão apontada pelos que se opõem às parcerias diz respeito ao modelo de negócio. Enquanto o modelo empresarial trazido pelas ONGs pode funcionar bem para outros segmentos, não vai necessariamente ser adequado para a gestão da escola e do sistema de ensino. O descompasso entre o conteúdo programado para cada série da escola e o que é oferecido como complemento pelas ONGs também precisa ser avaliado nessa parceria, dizem os especialistas. Quando uma organização lida com assuntos como sexualidade ou religião o programa pode acabar deturpando o que já estava no currículo pedagógico da escola. Além disso, a suposta falta de garantias de qualidade é apontada pela doutoranda em Educação Cristina Cardoso como outro problema. "ONG nasce igual cogumelo depois da chuva. Elas estão relacionadas à caridade e ao trabalho voluntário, tarefas momentâneas, e não realizadas por profissionais. Se os alunos têm, por exemplo, dificuldade de aprendizagem, é preciso investir na qualidade da formação dos professores. A escola não é lugar de fazer caridade, pagamos impostos para que ela funcione", afirma.
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Interatividade
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