Caderno Vestibular: eles passaram no ProUni, mas não ganharam a bolsa
Candidatos perderam o benefício do programa porque não houve formação de turma no curso em que foram aprovados. Apesar de o edital do MEC prever essa possibilidade, estudantes questionam as regras
Análise
Inep pede cautela com os resultados
De acordo com o Inep, os resultados do Enem devem ser olhados com cautela, pois a participação dos estudantes é voluntária e, com a nova metodologia empregada, não há correção de participação. Uma das observações feitas pelos técnicos é que a nota média pode ser pouco representativa no conjunto do total de estudantes de cada escola. "Mesmo para as escolas com altas taxas de participação, a amostra dos alunos de cada instituição pode não representar o desempenho médio que a escola obteria caso todos os alunos participassem", informa a nota técnica.
Segundo o presidente do Inep, Joaquim José Neto, apesar de a correção de participação ter sido retirada, os dados sobre matrículas e números de participantes de cada instituição foram mantidos e não trazem prejuízos na divulgação dos resultados. "A divulgação do resultado do Enem por escola oferece informação para a sociedade para que ela possa fazer análise da qualidade da educação oferecida pelas instituições", afirma Neto.
De acordo com a doutora em Educação e superintendente executiva do Instituto Unibanco, Wanda Engel, o ensino médio precisa de uma avaliação que seja obrigatória a todas as escolas, pois os resultados seriam fidedignos. Ela ressalta que só a partir deste ano os resultados de cada exame poderão ser comparáveis, pois as provas passaram a seguir uma mesma sistemática. "O Enem não pode ser comparável por escolas porque algumas particulares colocam seus melhores alunos para fazer o exame", diz. Para Wanda, além das avaliações, o governo precisa promover um plano para a gestão de resultados, prevendo inclusive um aumento direcionado de recursos. "Os candidatos nas próximas eleições precisam apresentar um plano emergencial para o ensino médio, que é o gargalo da educação brasileira", ressalta.
Das dez escolas brasileiras onde os seus estudantes obtiveram os melhores desempenhos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2009, nove são particulares e uma é federal. Nas primeiras posições do ranking estadual também predominam as instituições públicas: são sete escolas particulares e três federais. A mesma proporção é observada entre as dez primeiras colocadas de Curitiba.Os resultados do Enem por escola de 2009 serão divulgados hoje pelo Instituto de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação (MEC). O ensino médio da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) é o melhor do estado, se considerada a rede pública e a privada. No país, na lista das melhores escolas da rede pública, a UTFPR ocupa a terceira posição.
No ranking paranaense, os colégios da rede estadual só aparecem na 42.ª colocação. O desempenho é melhor do que o obtido em 2008, quando a rede estadual só aparecia na 59.ª posição. O Colégio Estadual Maria Cintra de Alcântara, de Tamarana, Norte do estado, foi o que obteve a maior média da rede estadual, 624,77.
Também são da rede estadual as 58 escolas do país, de um total de 27.253, que obtiveram médias abaixo de 400. A nota é considerada como parâmetro para certificar estudantes que não concluíram o ensino médio em idade regular.
Novo Enem
O Enem existe desde 1998 e tem o objetivo de avaliar o desempenho dos estudantes ao fim da escolaridade básica. Foi reformulado no ano passado e passou a servir como forma de seleção para as principais universidades federais do país. A mudança foi marcada por problemas, como o roubo da prova, que fez com que a data do exame fosse adiada e batesse o recorde de desistência. De 4,1 milhões de inscritos, só 2,5 milhões fizeram as provas.
A mudança foi pautada na promessa de alteração do currículo do ensino médio a partir do novo formato do Enem, o que, na opinião de alguns educadores, não está se concretizando. O ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou para a Gazeta do Povo, em abril deste ano, que o novo Enem democratizaria o acesso ao ensino superior e mudaria o currículo do ensino médio, que é pautado pelo excesso de conteúdo. "O vestibular no Brasil é cota para a população mais abastada", disse. Porém são os estudantes das escolas públicas que continuam a apresentar os piores desempenhos.
Na análise do vice-presidente do Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe) do Paraná, Jacir Venturi, o MEC está perdendo a chance de promover a unificação de um currículo nacional para o ensino médio. "A rede particular já fez uma série de indicações para retirar o excesso de conteúdo, principalmente os que não têm nada a ver com a realidade dos jovens. Até agora não recebemos resposta."
Na opinião do professor de curso pré-vestibular Marlus Geronasso, que apresenta o programa de televisão Eureka, os resultados do Enem há mais de dez anos mostram que é preciso mudar o ensino médio público brasileiro. "Será que não se percebe que dá para aprender com as experiências bem sucedidas da rede privada e federal?", questiona.
A Secretária de Estado da Educação e presidente do Conselho Nacional dos Secretários em Educação (Consed), Yvelise Arco-Verde, foi procurada pela reportagem para comentar os resultados da rede estadual de ensino. Sua assessoria de imprensa informou que ela só irá se pronunciar hoje, após a divulgação oficial dos dados.
UTFPR volta com o ensino integrado
O bom resultado da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2009 marca o retorno da oferta de ensino médio integrado ao profissionalizante na instituição.
O tradicional ex-Cefet, referência em ensino técnico e profissionalizante desde 1975, formou as últimas turmas só de ensino médio em 2007 e no ano passado seus alunos não participaram da avaliação. Desde 1997, um decreto do governo federal proibiu a oferta do ensino médio integrado ao técnico no país.
A decisão só foi revogada em 2006, quando a instituição, já com o título de universidade, voltou a oferecer as modalidades integradas. Atualmente, a UTFPR oferece 18 cursos técnicos, nos 11 câmpus existentes no estado.
De acordo com o diretor de educação profissional da escola, Ricardo Karvat, as turmas do ano passado foram as primeiras a se formarem nesse novo formato. "Tínhamos uma expectativa para saber se o modelo integrado daria certo. O resultado mostra que apesar de termos incluído as disciplinas do técnico, não se perdeu a qualidade de ensino das disciplinas do regular", afirma.
Karvat ressalta que a possibilidade de os estudantes estarem em um ambiente universitário contribui ainda mais para a sua formação. "Muitos professores do ensino médio são doutores e também dão aulas na graduação e pós-graduação", diz. Em Curitiba, são oferecidos quatro cursos técnicos integrados ao ensino médio, com duração de quatro anos, um a mais que o ensino médio regular.
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