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Em 2017, uma petição pediu a revogação do título com críticas à “materialização do marxismo cultural” proposto pelo pedagogo. | Slobodan Dimitrov
Em 2017, uma petição pediu a revogação do título com críticas à “materialização do marxismo cultural” proposto pelo pedagogo.| Foto: Slobodan Dimitrov

Um dos pensadores de maior destaque na educação mundial, Paulo Freire (1921-1997), por muito tempo, foi um nome inquestionável no Brasil: para seus defensores, ele se tornou referência por seus esforços em corrigir os índices elevados de analfabetismo entre a população mais pobre durante meados do século passado. Mas apesar do legado para uma vertente da pedagogia, hoje também é atribuído a Freire o papel de criador da doutrinação nas escolas

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O episódio que alçou Paulo Freire à notoriedade nacional ocorreu em 1963: o mutirão de alfabetização em Angicos (RN). Ao todo, 380 adultos, sobretudo de áreas rurais, foram alfabetizados em 40 horas, em um evento que ficou conhecido como as “Quarenta Horas de Angicos”. 

O seu método de alfabetização, que parte de palavras que fazem parte do cotidiano dos estudantes – em sua maioria, trabalhadores rurais pobres – para mostrar a formação de sílabas e de outras palavras, foi registrado em seu livro “Pedagogia do Oprimido”, publicado em 1974. 

No livro, Freire faz elogios a Fidel Castro e Che Guevara e destaca a sua intenção de “despertar a consciência” dos alunos para a “opressão”. Marxista assumido, Paulo tinha a luta de classes embutida em sua visão de mundo. 

Na época, o método de alfabetização garantiu a Freire destaque nacional: o presidente João Goulart e o ministro da Educação, Paulo de Tarso, convidaram Paulo Freire para dirigir o Programa Nacional de Alfabetização. Já no governo de Dilma Rousseff, Freire recebeu o título de patrono da educação brasileira

Honraria contestada

Em 2017, uma petição pediu a revogação do título com críticas à “materialização do marxismo cultural” proposto pelo pedagogo. De acordo com a criadora da proposta, Stefanny Papaiano, “os resultados são catastróficos e tal método já demonstrou em todas as avaliações internacionais que é um fracasso retumbante”. 

A proposta foi criticada pela viúva do pedagogo, Ana Maria Araújo Freire, em uma manifestação contra a revogação do título em outubro de 2017

“Os críticos não leram Paulo Freire. Querem aparecer, são medíocres. Algumas pessoas que conheço desse movimento conservador são absolutamente medíocres, não conhecem nada do mundo do conhecimento”, disse Ana Maria Araújo Freire na ocasião. 

“Vão estudar, vão aprender coisas. Estudem Paulo e depois façam sua triagem. Paulo é reconhecido no mundo todo e um dos autores mais lidos nos países de língua inglesa”, acrescentou.  

A petição ganhou força rapidamente nas redes sociais e atingiu em 17 dias a meta de 20 mil assinaturas necessárias para que o tema fosse debatido pelo Senado Federal. Apesar disso, o Senado rejeitou a proposta e manteve o título de patrono da educação a Paulo Freire. 

A decisão foi tomada pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa, que é encarregada de analisar propostas de iniciativa popular. O relatório da senadora Fátima Bezerra (PT-RN), contrário à revogação do título, foi aprovado sem contestação. 

Durante a deliberação, a senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) afirmou que a proposta causa “constrangimento” ao senadores. “Nós estamos tentando mexer em pessoas que são ‘imexíveis’. E Paulo Freire é uma delas”, disse ela. 

Pontos controversos

Com a decisão, o pedagogo manteve o título de patrono da educação brasileira, apesar de algumas ideias notoriamente indefensáveis.

Com uma linha de pensamento baseada no marxismo, Freire divide o mundo entre opressores e oprimidos, defendendo uma pedagogia “que faça da opressão e de suas causas objeto da reflexão dos oprimidos, de que resultará o seu engajamento necessário na luta por sua libertação”. Segundo ele, a educação deve estar a serviço de uma “revolução cultural” e deve “acompanhá-la em todas as suas fases”. 

Além disso, Paulo Freire é apenas elogios a Che Guevara, apesar do seu papel no comando de fuzilamentos sumários em Cuba. Ao mesmo tempo, o pedagogo se opunha a uma “invasão cultural” que alienaria a cultura dos alunos oprimidos ao ensiná-los tradições como a filosofia grega ou o direito romano. A opressão aos alunos, segundo Freire, viria até mesmo da família. 

“As relações pais-filhos, nos lares, refletem, de modo geral, as condições objetivo-culturais da totalidade de que participam. E, se estas são condições autoritárias, rígidas, dominadoras, penetram nos lares que incrementam o clima da opressão”, diz um trecho do livro. 

Criador da Pedagogia do Oprimido via educação a serviço da causa revolucionária e elogiou a “capacidade de amar” de Che Guevara.#GazetadoPovo via #Educação

Publicado por Gazeta do Povo em Quinta-feira, 1 de junho de 2017
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