Enquanto as entidades de educação se dividem ao discutirem o Novo Ensino Médio, Pernambuco saiu à frente e, desde 2007, a sua nota no IDEB de ensino médio tem sido alavancada| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Aquela sensação de perda de tempo ao assistir a uma aula de história entediante. O professor falando sem parar e os alunos desinteressados – primeiro, porque não entendem o que está sendo explicado; depois, porque a forma de apresentação contribui com a dispersão.

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Essa era a circunstância típica de uma aula de ensino médio em Pernambuco em 2005. Hoje, a matéria obrigatória de história pode ser substituída pela disciplina eletiva “Rolê em Recife”, que é a primeira a preencher as vagas quando oferecida. O “Rolê em Recife” passa pelos principais pontos históricos da cidade, e em cada um deles os alunos aprendem o que aconteceu ali.

Enquanto as entidades de educação se dividem ao discutirem o novo ensino médio, Pernambuco saiu à frente e, desde 2007, a sua nota no Ideb (índice que mede a qualidade do ensino no Brasil) tem sido alavancada. Em 2010, pelo IDH, Pernambuco estava entre os 10 piores estados do Brasil, ocupando a 19ª posição entre as 27 unidades federativas. Se em 2007 o Ideb dos anos finais da vida escolar em Pernambuco era de 3,0, no ano de 2019 ele ficou em 4,5, superior à média do Brasil, que ficou em 4,2.

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De 2005 a 2007, começou a rodar um projeto experimental que transformou 20 escolas do estado em escolas integrais. Com a experiência adquirida, vendo o que funcionava e o que precisava ser melhorado, em 2008 foi criado o Programa de Educação Integral, que ampliou as cargas horárias para 45 horas ou 35 horas semanais. Hoje, Pernambuco possui 578 escolas de ensino integral para o ensino fundamental e médio. Com as escolas de ensino técnico, o número chega a 637 colégios.

Pilares da educação integral

São duas as razões do feito tão impressionante: a educação deve ser em tempo integral e completa, ou seja, baseada em uma abordagem interdimensional.

Além de ampliar os horários, que quase dobraram - indo de quatro ou cinco para sete ou nove horas diárias -, a Secretaria de Educação do estado passou a oferecer um ensino interdimensional, abordando o aluno em todas as suas dimensões: física, intelectual, emocional.

Os gestores avaliaram que não bastava apenas deixar o estudante mais tempo na escola, aquele tempo precisaria ser de qualidade, permitindo que os alunos tivessem aulas que despertassem o interesse. Ao mesmo tempo, essa diferenciação no currículo escolar só poderia se dar se houvesse um aumento do número de horas.

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Além da abordagem interdimensional, a educação no estado se apoia em outros dois pilares. O primeiro é ajudar o estudante a traçar um projeto de vida em vários campos para saber onde deseja chegar. Dessa forma, o estudante é incentivado a ser protagonista da própria formação educacional, o que traz para ele mesmo a responsabilidade das suas escolhas.

Os custos para ampliação do ensino integral, sem sombra de dúvidas, são maiores. Mas diferente do que apontam alguns estudos que indicam o dobro de gastos, a secretária-executiva de Educação Integral e Profissional do estado, Ana Cristina Dias, explica que não é bem assim. “Os custos não chegam a dobrar efetivamente, porque há custos fixos que independem, por exemplo: salário de diretores, serviço de vigilância, equipe da cozinha. Eu aumento a quantidade de alimentos, mas não a equipe”, explica. Na tentativa de diminuir os custos, a ideia é que as próximas escolas tenham capacidade de receber mais estudantes e, dessa forma, ter um custo por aluno mais barato.

Novos programas e adaptações

O “Ganhe o Mundo” foi um programa criado em 2011 com o objetivo de incentivar os alunos no estudo de uma língua estrangeira. Inglês e espanhol eram oferecidos no contraturno escolar para preparar os estudantes que tivessem interesse em fazer um intercâmbio de verão. Por quatro semanas, os jovens selecionados tinham a possibilidade de estudar em outro país e eram financiados pelo governo estadual. Suspenso desde 2019 por problemas com o Tribunal de Contas do estado, o programa inspirou a prefeitura de Recife, que lançou, neste ano, uma proposta semelhante no município, o “Recife pelo mundo”.

Em 2017, Pernambuco implementou as escolas de dupla jornada. Mesmo com o ensino integral, muitos alunos precisavam de um turno para se dedicarem a outra atividade, como um trabalho de jovem aprendiz, por exemplo. Dessa forma, ficavam impossibilitados de cumprir a carga de 45 horas semanais. As opções de horários são das 7h às 14h ou das 14h10 às 21h10. Para o ensino médio, o estado conta com 57 escolas de dupla jornada.

Os desafios continuam

“Ainda não é da forma que a gente sonha, porque a gente sonha com mais coisa”, compartilha Ana Cristina. Os desafios enfrentados pela Secretaria de Educação de Pernambuco não acabaram. A pasta deseja não só ampliar, mas também melhorar a estrutura física para toda a comunidade escolar, oferecer aos professores oportunidades para se desenvolverem de maneira transversal e formar os alunos para que sejam futuros professores. Este último propósito pode ser alcançado por meio de parceria com universidades com o objetivo de fomentar o quadro de docentes das redes estadual e municipal.

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Pernambuco também tem trabalhado em sistema de colaboração para ampliar o ensino integral aos municípios que não possuem escolas nesse sistema. Com isso, o governo pretende melhorar ainda mais os índices de educação no estado.

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