Nível de escolaridade
A pesquisa também revela que 45% dos brasileiros estão insatisfeitos com seu nível de escolaridade. Do total, 56% dos que concluíram até a 4ª série do ensino fundamental estão insatisfeitos. Entre os que concluíram esta etapa de ensino, o percentual é de 52%. Já entre aqueles que concluíram o ensino médio a insatisfação é de 41%. Cerca de 1/3 dos que concluíram até a 4ª série do ensino fundamental não exclui a possibilidade de voltar a estudar nos próximos dois anos. Entre os que concluíram o ensino fundamental, o porcentual é de 55% e entre os com ensino médio, 78%.
Projeto obriga políticos a matricular filhos na rede pública
O senador Cristóvão Buarque, ex-ministro da Educação, apresentou um projeto de lei ao Senado, em 2007, para que os filhos de todos os políticos sejam obrigados a estudar em escola pública durante a educação básica. Se aprovado, deve ser implementado até 2014. A ideia é que os políticos se interessem em melhorar a educação no país a partir da experiência de seus filhos e que não tenham mais a dedução do Imposto de Renda proveniente dos gastos com educação privada.
Professores desmotivados e mal pagos são o principal problema da educação básica pública, na opinião de 19% dos brasileiros, segundo uma pesquisa divulgada ontem, do Ibope Inteligência para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com o movimento Todos Pela Educação. Em segundo lugar, 17% dos entrevistados apontam a falta de segurança nas escolas e a presença de drogas no ambiente escolar. Já o número insuficiente de escolas aparece como o terceiro principal problema na área de educação, apontado por 15% dos brasileiros.
Já na Região Sul, a situação se inverte. O número insuficiente de escolas é o primeiro problema da educação básica pública para 19% dos entrevistados. Depois aparece a falta de segurança nas escolas, com 18% e, em terceiro, professores desmotivados e malpagos, com 17%. Em todo o país, a preocupação com a baixa qualidade de ensino e aprendizagem apareceu em sexto lugar e é apontada por 9% dos entrevistados como principal problema do setor.
A advogada Ceres Emília Gubert Demogalski teve de trocar seu filho Ricardo, 7 anos, da rede particular para a pública por dificuldades financeiras. Ele foi para o 1º ano do ensino fundamental de oito anos e, entre as principais preocupações da mãe, estava a segurança dentro da escola. Na primeira escola pública em que Ceres colocou seu filho, no centro da cidade, as crianças ficavam soltas no pátio na hora da entrada e saída. "Perto do portão não tinha ninguém para controlar a entrega dos alunos aos pais. Acabei apavorando meu filho, porque explicava para ele os perigos que podiam ocorrer na saída, como drogas e sequestros na porta da escola. Orientava sempre que ele ficasse bem longe do portão e só saísse quando visse eu ou meu marido". Três semanas depois, Ceres resolveu trocar o seu filho de escola.
O presidente executivo do movimento Todos Pela Educação, Mozart Ramos, ressalta que se preocupa com a distorção que a população pode estar fazendo a respeito da educação pública brasileira em relação à falta de segurança nas escolas e à presença das drogas no ambiente escolar. "Não dá para tirar o foco da aprendizagem, da qualidade de ensino. Daqui para frente é capaz do brasileiro pensar que é mais importante ter mais policiais, mais cadeias e menos escolas. O primeiro passo para que um jovem entre no mundo das drogas é abandonar a escola", diz.
Um dado curioso é que menos de 1% dos entrevistados na pesquisa apontaram a falta de participação dos pais na educação escolar dos filhos como um dos principais problemas da educação básica pública no país. De acordo Ramos, o resultado reflete o que se vê no cotidiano escolar atual: a baixa participação dos pais na vida escolar dos filhos. "Ensinar é responsabilidade do professor, mas educar é de todos. As escolas que conseguem se sobressair no cenário atual são as que apresentam alta participação da família no cotidiano", diz. O resultado da pesquisa levou o movimento Todos Pela Educação a adotar a aproximação das famílias como um dos focos do trabalho em 2009.
Avaliação é positiva, mas difere entre regiões
A avaliação da educação básica pública é considerada positiva para 41% dos entrevistados, que classificaram o serviço oferecido como bom ou ótimo. Já na opinião de 24% dos brasileiros, o ensino público foi mal avaliado e considerado como péssimo ou ruim. A Região Sul é onde os entrevistados têm uma percepção mais positiva: 54% consideram a educação pública como boa ou ótima, contra 13% que classificaram como péssima ou ruim. Na Região Sudeste ocorreu o contrário, 31% classificaram o serviço como péssimo ou ruim, contra 32% que acham que é a educação pública boa ou ótima.
Além da avaliação positiva, 47% dos brasileiros pensam que a educação básica pública no país está melhorando, mas em ritmo lento. No interior, a percepção sobre a Educação é mais positiva do que nas capitais e periferias. Quase 50% dos entrevistados do interior avaliam o ensino como ótimo ou bom, na periferia cai para 31% e chega a 27% nas capitais. Nas cidades de até 20 mil habitantes, 56% avaliam a educação básica como ótima ou boa; para aquelas cuja população está entre 20 mil e 100 mil o percentual cai para 44%; e nas com mais de 100 mil habitantes a avaliação positiva chega a 33%.
Os números ainda indicam que quanto menor a renda familiar do entrevistado, melhor é a avaliação dele sobre a Educação: 55% das pessoas com renda familiar de até um salário mínimo consideram a educação ótima ou boa. Para aqueles com renda entre um e dois salários mínimos, esse percentual é de 46%; entre os de mais de dois e até cinco salários, 34%. Entre a população com renda familiar superior a dez salários, a satisfação cai para 17%. "É natural que na capital as pessoas sejam mais críticas, mais conscientes e atentas para as questões da educação", diz o superintendente executivo da Secretaria Municipal de Educação de Curitiba, Jorge Eduardo Wekerlin.
A Secretaria Estadual de Educação foi procurada pela reportagem para comentar os resultados da pesquisa, mas a assessoria de imprensa informou que não haveria posicionamento oficial a respeito. A pesquisa foi realizada entre 5 e 8 de dezembro do ano passado, com 2002 eleitores maiores de 16 anos em 141 municípios. A margem de erro estimada é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.