Pesquisa que acaba de ser concluída sobre o perfil socioeconômico e cultural de universitários das instituições federais mostra que 84,5% dos alunos têm renda familiar de até R$ 2.804. Além disso, 46,2% do total de alunos cursaram o nível médio em escola pública. O estudo, que faz um raio X das universidades brasileiras, foi realizado pelo Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace), entidade que reúne os responsáveis pela assistência a estudantes das 54 universidades federais brasileiras.
Outro dado importante mostra que 60% dos alunos dependem do transporte coletivo para chegar à universidade. Apenas 19,7% dos estudantes utilizam carro próprio para esse trajeto. Isso representa grande demanda por programas de assistência estudantil como moradia e alimentação. Em algumas regiões vê-se o agravamento dessa situação. No Norte e no Nordeste, por exemplo, 64,3% e 47,8% dos estudantes têm renda familiar de até R$ 927.
"Os resultados trazem importantes conclusões que permitirão subsidiar a adoção de políticas públicas que garantam recursos extras para viabilizar a permanência dos estudantes de baixa renda nas universidades", afirma a coordenadora do Fonaprace, professora Thérèse Hofmann.
O lançamento oficial da pesquisa, previsto para esta segunda-feira (14), foi desmarcado por uma falha de comunicação entre as assessorias do MEC e a Universidade de Brasília (UNB), onde os números foram consolidados. Por isso, nem a Andifes nem a coordenadora nacional da pesquisa quiseram comentar os resultados.
Ainda segundo o estudo, as mulheres são maioria. Elas representam 53,2% dos matriculados nas federais contra 46,8% dos homens.
Cotas
Os dados sobre a cor da pele, raça e etnia mostram que ainda há grandes desigualdades no país. As federais são compostas majoritariamente por estudantes de cor de pele branca (59,4%), dentre os estudantes da classe A (renda familiar mensal superior a R$ 4.648) os brancos perfazem 74,0% da população estudantil.
Por outro lado, os de cor de pele preta representam 5,9% de todo o universo de estudantes e são apenas 2,1% entre os estudantes da classe A. A parcela de estudantes de cor de pele preta é de 8,6% e parda de 35,1%, concentrando-se no grupo de baixa condição socioeconômica (classes C, D e E). A população indígena representa 2% do total de estudantes das instituições e concentra-se em 2,5% nas classes C, D, e E.
Para o reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Carlos Moreira Júnior, a pesquisa só vem provar a necessidade do sistema de cotas. "A pesquisa corrobora para a real necessidade das políticas afirmativas nas universidades públicas".
O reitor questiona também a metodologia usada pela pesquisa do Fonaprace. "O problema é que a pesquisa mostra dados gerais como um todo e não números por cursos. Nos cursos de alta demanda, como por exemplo, Medicina, Direito e Odontologia, o número de alunos vindos das escolas públicas não chega a 10%. Já nos curso de Licenciatura o número é bastante alto. O mesmo acontece em relação à cor de pele dos alunos. Nas universidades da Bahia, é claro que o número de negros é maior. No entanto, quando se misturam dados com as universidades do Sul e Sudeste, onde o número de negros é pequeno, eles parecem poucos significativos", explica.
Do total, 77,6% têm até 25 anos de idade. Dos universitários, 88,6% são solteiros. Observa-se que a Região Norte e a Centro-Oeste apresentam maior percentual de estudantes casados, 18,2% e 17%, respectivamente. A maioria dos estudantes não tem filhos, 88,5%. A Região Norte com 21% e a Centro-Oeste, com 17,5%, são as que apresentam o maior percentual de estudantes com filhos.
A pesquisa, no total, avaliou informações de uma amostra de 33.958 estudantes matriculados no segundo semestre de 2003 e no primeiro de 2004 em 47 instituições federais.
Necessidades especiais
A pesquisa analisou ainda dados sobre a condição psicológica e de saúde dos estudantes. Entre eles, 6,7% apresentam alguma doença crônica (aquelas que demandam tratamento contínuo), como diabetes por exemplo. Observa-se, na Região Sul, maior incidência de estudantes com doença crônica (8,7%) e na Região Centro-Oeste a menor incidência (5,8%). O percentual de estudantes portadores de necessidades especiais é baixo apenas 9,9% do total.
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