O pesquisador da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Claudio Dusik desenvolveu uma tecnologia para facilitar a comunicação de pessoas com incapacidade motora grave.
Dusik se inspirou na própria trajetória: ele é portador de atrofia muscular espinhal (AME), doença genética que causa a degeneração dos neurônios motores e leva a restrição de movimentos e fala.
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A inovação consiste na criação de uma interface para o dispositivo Muse Interaxon, importado dos Estados Unidos, que conecta ondas cerebrais a um teclado virtual do computador: a interface, chamada MuseKey, torna possível que pessoas com restrição motora total possam escrever e se comunicar com autonomia.
A interface foi testada pelo próprio Claudio, que tem dificuldades para escrever, e por outras pessoas com níveis diferentes de restrições de movimentos. A tecnologia foi fundamental para Dusik se comunicar, além de seguir seu papel como pesquisador.
Em entrevista à Gazeta do Povo, Claudio fala sobre o trabalho, os benefícios que a tecnologia desenvolvida por ele pode trazer para a sociedade e os próximos passos de sua pesquisa. Confira:
Como surgiu a ideia para o MuseKey? Como a tecnologia funciona?
Surgiu em função da minha doença degenerativa. Estou perdendo toda a capacidade muscular, o que envolve desde a área motora - braços e pernas - até a parte cardiorrespiratória.
Com o avanço da doença, comecei a sentir a perda da capacidade de realizar atividades escritas. Foi quando desenvolvi um teclado virtual que foi tema do meu mestrado.
Mas além da capacidade motora das mãos, a doença progride de tal forma que a pessoa fica em um estado chamado “síndrome de encarceramento”, quando ela está consciente, possuir todas as faculdades mentais, mas o corpo fica totalmente paralisado e ela não consegue se comunicar.
Por isso, precisava encontrar uma maneira de poder continuar me comunicando nesse estado. Como a única parte do corpo preservada é o cérebro, tinha que achar uma forma de me comunicar diretamente através dele.
Foi quando criei uma interface cérebro-computador, da qual através do pensamento e do próprio computador, consigo escrever no teclado virtual para formar palavras e frases. E a partir de um projeto de pesquisa, depois de desenvolvida a interface, o equipamento se mostrou funcional. Ele correspondeu as minhas necessidades de comunicação e também se mostrou eficiente para outras pessoas.
Como a inovação pode ajudar as pessoas com restrições motoras? Há um limite dos tipos de restrições para usar a interface?
Não. Na pesquisa testei o equipamento com sujeitos de diferentes graus de capacidade. Desde sujeitos com quase nenhuma incapacidade, que tem o corpo perfeito, até o grau mais sério, que parece estar em estado vegetativo. A ferramenta se mostrou eficiente para todos os graus.
Até onde a pesquisa contribui para as inovações do setor? Como pode ser usada, por exemplo, na educação?
Ela pode ser usada porque há uma política de educação inclusiva cada vez mais crescente. Inicialmente, auxiliando crianças com deficiências mais leves. Agora, cada vez mais, surgem crianças com necessidades mais severas. Antes, as escolas recebiam alunos que utilizavam apenas cadeiras de rodas, com deficiência mental leve.
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Hoje recebemos alunos que usam sonda, aparelhos respiratórios. São graus muito severos que as escolas ainda estão longe de atingir tecnologias que possibilitem para as crianças se comunicar e interagir.
Qual foi o papel da universidade para o desenvolvimento da pesquisa?
Frequentei a universidade como qualquer outro aluno. Ia nas aulas, obtendo capacitações em diferentes áreas que necessitava. Tive aulas de engenharia de software, de neurociências. Além disso, a universidade me forneceu uma bolsa de estudos nesse período para que pudesse me dedicar e arcar com alguns custos.
Quais os próximos passos da pesquisa? Há expectativas de mudanças ou aumento do escopo?
A pesquisa teve muitas limitações, porque fui um sujeito que teve um conhecimento multidisciplinar para fazer essa interface, mas o ideal seria ter uma equipe multidisciplinar. Porque ela depende, por exemplo, de um aparelho encefalográfico, que é parecido com uma tiara.
É um dispositivo usado no exterior para jogos eletrônicos, e que não foi pensado para nenhum tipo de assistência para pessoas com deficiência. O Brasil carece desse tipo de dispositivo. E eles não são inviáveis de ser feitos. Só precisamos do interesse de pesquisadores e de uma instituição em fabricá-los, para que não seja necessário importá-los.
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