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O aumento da diversidade entre os estudantes universitários cria novas dinâmicas para contemplar os diferentes perfis, entre elas, a criação de safe spaces, ou espaços seguros, ambientes que visam proteger os indivíduos de situações traumáticas ou ofensivas. A contrapartida são limitações a discursos considerados ofensivos ou até mesmo diferentes da predominância ideológica no campus.

“Se impormos limites artificiais às pessoas que aceitamos no campus ou às ideias que estamos dispostos a ouvir, então nossa busca pela verdade será dificultada e nossa análise terá mais probabilidade de ser falha”, diz Keith E. Whittington, professor de Política na Universidade Princeton. 

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A questão é discutida em profundida por Whittington no livro “Speak Freely: Why Universities Must Defend Free Speech” ("Fale livremente: por que as universidades devem defender a liberdade de expressão", em tradução livre). Em entrevista à Gazeta do Povo, Whittington aponta a importância da liberdade de expressão nas universidades e a influência da limitação de discurso no ensino superior. 

Seu livro fala sobre liberdade de expressão no campus universitário. Qual é o estado atual em faculdades e universidades? 

No geral, acho que o atual estado de liberdade de expressão nos campi universitários ainda é muito bom. Todos os dias, ideias controversas são levadas a sério e discutidas de forma razoável; oradores controversos são ouvidos e questionados; e pontos de vista divergentes são tolerados. Mas há alguns eventos obviamente alarmantes que ocorreram nos campi das faculdades nos últimos anos, e há forças, tanto no campus quanto fora dele, que preferem limitar significativamente a faixa aceitável de questionamentos nas universidades. 

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Como isso afeta o ensino e a aprendizagem? Como a experiência universitária dos alunos se torna diferente? 

Eu acho que há uma tendência silenciosa para muitos professores autocensurarem o que ensinam a fim de evitar conflitos e perturbações. É difícil dizer o quanto isso é comum, mas acho que está se tornando mais comum e está começando a ter um impacto não trivial na experiência universitária. Além disso, os estudantes estão cada vez mais cautelosos com o que estão dispostos a dizer, tanto em sala de aula quanto fora da sala de aula. Às vezes, os alunos se preocupam sobre como seus professores podem reagir a suas ideias, mas, com frequência, os alunos estão preocupados com o que seus colegas pensarão se expressarem uma ideia que parece estar fora do mainstream. 

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Qual é o papel da liberdade de expressão no campus? Por que é importante para o ensino superior? 

A liberdade de expressão é fundamental para o que as universidades fazem. No ensino e na erudição, o corpo docente e os estudantes precisam da liberdade para explorar ideias difíceis e seguir argumentos e evidências onde quer que estejam. Se eles se esquivam de buscar a verdade como a entendem porque se preocupam com as repercussões sociais, políticas ou econômicas de se dizer algo controverso, então as universidades estarão sacrificando seu objetivo principal de avançar as fronteiras do conhecimento humano e comunicar o que aprendemos. 

Fora da sala de aula, as universidades também tentaram proteger a liberdade de expressão a fim de permitir que alunos e professores explorassem questões de interesse geral do público. Muitas vezes, as universidades têm sido lugares onde ideias fora do mainstream político e social podem ser ouvidas e consideradas seriamente. Às vezes, essas ideias são rejeitadas como falhas, mas às vezes elas são adotadas, desenvolvidas e aprimoradas, esperançosamente, para o melhoramento final da sociedade. 

Até onde a liberdade de expressão se relaciona à diversidade de ideias na universidade? 

Algumas universidades têm como ponto de partida artigos de fé que são tomados como certezas e que não podem ser seriamente questionados, mas a maioria das universidades modernas afirma ser inclusiva de todos que estão dispostos a se envolver com ideias seriamente e abertos às que valham a pena ser consideradas. Se impormos limites artificiais às pessoas que aceitamos no campus ou às ideias que estamos dispostos a ouvir, então nossa busca pela verdade será dificultada e nossa análise terá mais probabilidade de ser falha.

Precisamos estar dispostos e aptos a nos engajar com críticas sérias e perspectivas conflitantes se quisermos fazer progresso intelectual e não nos escondermos de fontes potenciais de crítica. As universidades devem estar tentando promover um ambiente no qual uma ampla gama de perspectivas possa ser ouvida e tentando evitar uma situação em que apenas uma ortodoxia estreita seja tolerada. 

Estamos em uma era de safe spaces e proteção das identidades dos estudantes no campus. Como as universidades e os professores devem lidar com alunos que se sentem desconfortáveis com certos discursos? 

As universidades devem se esforçar para serem lugares acolhedores para uma gama diversificada de alunos, mas são acolhedores para um propósito – a busca do conhecimento. Às vezes é verdade que, se nos engajarmos numa investigação de livre circulação, encontraremos ideias e crenças que consideramos desagradáveis, perturbadoras e até perigosas. Encontraremos pessoas nos campi universitários que discordam de nós sobre as coisas que mais prezamos. 

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Devemos deixar claro que todos são bem-vindos no campus, mas também devemos insistir que todas as ideias possam ser ouvidas e que ninguém tem o direito de reprimir um conjunto de ideias, porque as consideram desconfortáveis ou ameaçadoras. Os estudantes são livres para ignorar as que consideram angustiantes ou enfrentar o desafio de argumentar contra eles, mas não podem tentar silenciar aqueles que expressam essas ideias ou isolam outros estudantes de serem expostos a essas ideias. As universidades procuram rejeitar as ideias porque se provaram erradas, não porque são desconfortáveis. 

Nós vemos casos de estudantes e organizações impedindo que figuras públicas falem no campus. Até que ponto deve haver punição aos estudantes que impedem a liberdade de expressão no campus? 

As universidades precisam ser extremamente claras de que os estudantes não têm o direito de impedir que outras pessoas falem no campus ou de impedir que outras pessoas ouçam os oradores que acham de interesse. As universidades devem deixar claro que qualquer pessoa que violar os direitos de outras pessoas para exercer suas atividades legítimas no campus pode ser disciplinada por esse comportamento perturbador. 

Estou esperançoso de que avisos claros e ações firmes para remover as perturbações quando surgirem resolverão, em grande parte, o problema sem a necessidade de punições draconianas. Mas se as universidades não estiverem dispostas a agir ou impor disciplina quando necessário, elas apenas incentivarão comportamentos disruptivos. Como último recurso, pode até ser necessário expulsar estudantes que repetidamente procuram violar os direitos de outras pessoas no campus, mas prefiro que as universidades se concentrem mais no diálogo do que na disciplina, quando possível.

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