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Eu vi essa manchete no jornal Harvard Gazette, em 13 de outubro: “Histórias de Vida Deixam Bibliófilo de Harvard Grudado nos Livros”. Meu primeiro pensamento foi: “Aposto que ele teve foi educado em casa.” 

Ele foi.

A reportagem descreve a experiência de um aluno do terceiro ano na Universidade de Harvard, Luke Kelly, que cresceu no Mississipi e foi educado em homeschooling durante a maior parte da sua infância. A maior parte do seu tempo era ocupado lendo e desenvolvendo uma paixão por livros e literatura. 

Por que eu suspeitei que um estudante universitário bibliófilo havia sido educado em casa antes mesmo de ler a matéria? Porque a maioria das pessoas educadas em casa ama ler – quer dizer, eu amo muito ler. Muitos deles desenvolvem essa afinidade porque têm tempo, espaço e liberdade para lerem o que quiserem, quando quiserem e como quiserem. 

Livre das amarras da escola tradicional que ditam o material a ser lido e cria níveis de leitura arbitrários, estudantes educados em casa aprendem rapidamente que os livros são ferramentas vitais para descoberta e conhecimento. Eles não são instrumentos para tarefas penosas.São narrativas empolgantes que entretêm e edificam. 

Com homeschooling, a leitura não é uma disciplina separada que deve ser visitada com determinada frequência ou de determinado jeito; em vez isso, é uma parte integral da aprendizagem geral. Visitas à biblioteca não são reservadas a blocos de 40 minutos por semana com uma aula ministrada por um bibliotecário. Estudantes de homeschooling costumam passar horas na biblioteca, dissecando as prateleiras em busca de uma boa história, pedindo ajuda para os bibliotecários quando necessário, explorando a vastidão dos seus recursos físicos e digitais. 

E como eles leem! Minha filha mais velha já leu mais livros nos últimos seis meses do que eu li durante toda a minha trajetória na educação básica em escola pública. 

Estudantes de homeschooling também conseguem aprender a ler no seu próprio ritmo, no seu próprio tempo, seguindo os seus próprios interesses. Na escola tradicional, a leitura é disciplinada. As crianças aprendem a ler de um jeito específico, seguindo um currículo específico, em um tempo específico. Cada vez mais, esse tempo está sendo empurrado para faixas etárias mais jovens. Crianças na educação infantil agora devem cumprir longos períodos de estudo disciplinado que antes eram reservados para crianças mais velhas. Até mesmo alunos de pré-escola estão sendo pressionados. 

Erika Christakis, autora do livro “The Importance of Being Little” (“A Importância de Ser Pequeno”, em tradução livre), escreve sobre as mudanças drásticas na primeira fase da educação infantil. Ela explica que grande parte dessa mudança originou-se de um currículo mais padronizado, voltado para as diretrizes comuns, e testes obrigatórios mais exigentes. Christakis escreve: 

“Como poucos adultos conseguem se lembrar de detalhes importantes do seu período de pré-escola ou jardim de infância, pode ser difícil reconhecer o quanto o cenário das fases iniciais da educação infantil se transformou nas últimas duas décadas (...) Uma criança que deve ser capaz de ler até o final da educação infantil precisa começar a se preparar desde o começo. Como resultado, expectativas que poderiam ter sido razoáveis para crianças de 5 ou 6 anos de idade, como a habilidade de sentar-se em uma carteira e cumprir uma tarefa utilizando lápis e papel, agora são direcionadas para crianças ainda mais novas, que não têm a capacidade motora e a concentração necessárias para ter sucesso nessas tarefas. As salas de aula pré-escolares se tornaram espaços cada vez mais cheios, com professores cobrando que eles terminem o seu ‘trabalho’ antes de poderem brincar.” 

Os professores estão começando a internalizar esses padrões, em vez de questioná-los. Como a professora de educação, Daphna Bassok, e seus colegas na Universidade da Virgínia descobriram, em 1998, 31% dos professores acreditavam que as crianças deveriam aprender a ler durante o jardim de infância. Em 2010, esse índice era de 80%. 

Muitas crianças que ainda não estão prontas para ler durante esse período escolar cada vez mais padronizado e hermético são golpeadas com um rótulo de distúrbio de aprendizagem e recebem um Plano de Educação Individualizado para que possam alcançar o resto do bando. Isso pode criar ressentimentos, não apenas em relação à leitura, mas à aprendizagem como um todo. 

Estudantes de homeschooling evitam a padronização e regulação da educação obrigatória, e, como resultado, a sua aprendizagem é geralmente mais rica e mais significativa. E também mais prazerosa. 

Então eu não fiquei surpresa que um universitário bibliófilo tenha sido educado em casa. Eu ficaria surpresa se ele não fosse. 

Kerry McDonald é bacharel em Economia pela Bowdoin College e mestre em políticas educacionais pela Universidade de Harvard. Ela vive em Cambridge, Masachuscetts., Estados Unidos, com o seu marido e quatro filhos, que nunca frequentaram a escola. Acompanhe o seu trabalho em Whole Family Learning.

Publicado originalmente no site da FEE.

Tradução: Andressa Muniz

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