| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

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Ter uma série de exercícios recheada com equações com duas ou mais variáveis para resolver é um verdadeiro pesadelo para a maior parte dos estudantes de ensino fundamental e médio. Para diminuir a aridez da tarefa, professores tentam abordagens mais fáceis, relacionados à vida real – como, por exemplo, pedir ao estudante que calcule quanto tempo um trem demora em chegar a um determinado lugar.

Mas um novo relatório da OCDE publicado no fim de junho questiona as tentativas dos professores de facilitar a vida dos alunos. A partir dos dados da avaliação internacional Pisa, que reúne estudantes de 15 anos de 64 países, os pesquisadores chegaram à conclusão que os jovens mais familiarizados com exercícios de matemática pura, de maior nível de abstração, tiveram notas equivalentes a quase dois anos a mais de estudo do que os mais dedicados à matemática aplicada, isto é, que costumam a aprender a disciplina por meio de exemplos do mundo real.

Leia também: Alunos de piores situações socioeconômicas tendem a estudar problemas menos complexos

Isso não significa que os exercícios que reproduzem dificuldades numéricas da vida real não sejam bons ou necessários. O que o relatório ressalta é que só esse tipo de abordagem em sala de aula não é suficiente para fazer com que os alunos sejam capazes de entender a dinâmica da matemática e aplicá-la a qualquer situação.

“Historicamente, nós tivemos um movimento positivo de aplicar a matemática à realidade, mas isso só é favorável se o aluno compreender o que está fazendo”, alerta a professora Ettiène Cordeiro Guérios, professora da Universidade Federal do Paraná, doutora em Educação Matemática pela Unicamp. “O estudante pode resolver mecanicamente um problema, mas não entender o conteúdo”.

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Alunos de menor renda tendem a participar de programas educativos em que aprendem conteúdos matemáticos menos complexos. Isso os leva a não responder a tarefas profissionais mais complexas e interfere em sua autoestima: 50% deles pensam que não têm “vocação” para aprender matemática.

Para a professora, é essencial a preocupação para que o aluno entenda os conceitos matemáticos mais abstratos e consiga depois utilizá-los. A posição do Brasil em matemática no ranking do Pisa – no último levantamento, o país estava no 58º. lugar de 65 nações – mostra, no entanto, que o país está longe de apostar nesse pensamento abstrato. “Não podemos culpar o professor dessa situação, que enfrenta situações complexas em sala de aula e em sua própria formação acadêmica. Mas uma solução possível seria investir em uma formação continuada dos professores para que consiga encontrar caminhos para ensinar esses conteúdos”, afirma Ettiène.

Nesse sentido, a Base Nacional Curricular Comum, em fase de discussão e aprovação, não traz muitos avanços para o equilíbrio entre a matemática pura e a aplicada. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) também avalia prioritariamente a capacidade do aluno de resolver questões práticas.

Prova de desigualdade

O levantamento também mostrou que em todos os países os estudantes de melhores condições socioeconômicas tendem a ser mais expostos em seus colégios a exercícios de maior abstração. Os jovens de maior vulnerabilidade social, em geral, aprendem com exemplos da vida cotidiana e são mais instigados a decorar regras e fórmulas – sem entenderem como elas surgiram ou o que significam.

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Os pesquisadores apontaram ainda que os alunos menos favorecidos tendem a participar de programas educativos em que aprendem conteúdos matemáticos menos complexos. Isso os leva a não responder a tarefas profissionais mais complexas e interfere em sua autoestima: 50% deles pensam que não têm “vocação” para aprender matemática.

A OCDE adverte que os estudantes, em geral, não estão familiarizados com conceitos matemáticos básicos. No total dos estudantes dos 65 países da pesquisa, 31% nunca tinham escutado falar de “média aritmética” e só 21% tinham feito em sala de aula problemas do mundo real em que era necessário utilizar conceitos mais abstratos. A organização lembrou que, em média, 38% dos adultos desses países envolvidos utilizam frações, decimais ou porcentagens em seu trabalho. Essas pessoas têm mais probabilidade de encontrar melhores postos, ganhar salários mais altos e ter boa saúde.