Não é novidade que brasileiros de 15 anos, comparados a estudantes de outros países, amargam péssimas notas nas disciplinas de português e matemática. A deficiência apresentada por eles é refletida a cada três anos no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, o Pisa. Desde a sua primeira participação na avaliação, em 2000, o Brasil não melhorou muito: no último anúncio do ranking mundial, o país estava no 55.º lugar em leitura e no 58º em matemática, de uma lista de 65 países. Mas por que é tão importante melhorar nessas matérias?
INFOGRÁFICO: Veja qual foi o desempenho dos estudantes brasileiros no Pisa
Conheça o Pisa
Criado em 2000, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), desenvolvido e coordenado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), tem como objetivo fazer uma comparação entre o desempenho de estudantes de 15 anos de diversos países. Em 2012, o programa contou com a participação de 65 países.
A avaliação, que é aplicada a cada três anos, engloba três áreas do conhecimento: leitura, matemática e ciências. Sendo que a cada edição uma dessas áreas é priorizada. Além do conhecimento escolar, o Pisa procura testar a capacidade dos alunos de analisar, raciocinar e refletir ativamente sobre seus conhecimentos e experiências. Os resultados da avaliação servem também como ferramenta para que os governos redefinam e melhorem as políticas educativas de cada país.
A resposta é simples: sem capacidade de interpretar textos e fazer contas simples, como a de juros simples, por exemplo, não é possível avançar em nenhum outro campo do conhecimento. Os professores das universidades passam então a dar aulas de conteúdos elementares que já deveriam ter sido superados e impedem o avanço em conteúdos específicos das carreiras. “Você não faz ciências, nem artes, nem humanidades sem o conhecimento básico das linguagens do português e da matemática”, afirma o professor sênior da Universidade de São de Paulo (USP) e especialista em educação, Luis Carlos de Menezes.
As causas para que estudantes de 15 anos no Brasil estejam tão abaixo do esperado no domínio de leitura é matemática são complexas, mas passam necessariamente por dois motivos: atraso nos anos de estudo e a baixa escolaridade dos pais, que refletem na rapidez na aprendizagem. “Muitos estudantes de 15 anos estão ainda na 7.ª ou 8.ª séries e não tiveram todo o conteúdo, quando comparado com outros países. Ao mesmo tempo, uma parcela significativa dos pais não teve educação de qualidade e por isso não tem como ajudar esses alunos na hora dos estudos”, explica Naercio Aquino Menezes Filho, professor do Insper e doutor em economia pela Universidade de Londres.
Formação dos Professores
O baixo desempenho dos alunos em avaliações como o Pisa também é reflexo, segundo especialistas, da má formação dos professores. “Falta vivência de escola e de como ensinar crianças nas diferentes idades. É um marceneiro que vira marceneiro sem ter lidado com a madeira”, exemplifica Luis Carlos de Menezes.
Para Alexsandra Camara, assessora educacional da área de matemática da Rede de Colégios do Grupo Marista e doutoranda em educação, é preciso trabalhar com as competências e habilidades nas áreas, qualificar o trabalho do docente, com ênfase nas aprendizagens significativas, na mediação e na gestão da sala de aula.
Um dos caminhos apontados pelos especialistas em educação é que a formação dos professores deve ser complementada com aulas práticas nas escolas de educação básica. Os futuros profissionais têm que sair das salas de aula das universidades. “É preciso formar exercendo, com uma densidade importante nas aulas práticas, como na Finlândia, por exemplo. Lá tem uma formação feita na escola. Os professores passam por uma formação fazendo o serviço pelo qual vão ser habilitados”, diz Luis Carlos de Menezes.
No caso da China e da Coreia do Sul, também em boa colocação no Pisa, esse resultado se deve à qualidade dos professores, à competitividade entre os estudantes para poderem estudar nas melhores universidades e às muitas horas de estudos – entre 16 e 18 horas por dia. Já na Finlândia, o segredo do sucesso no sistema escolar é seu foco na qualidade como um todo, começando pela escolha dos professores e a retribuição por meio de bons salários.
Isso não acontece no Brasil, já que os professores recebem uma bonificação baixa para dar aulas. “A tragédia começa pelos salários, passa pela infraestrutura e falta de acompanhamento. O professor hoje não tem convívio pedagógico na escola. Ele está solitário com o seu bando de alunos e com a sua formação deficiente”, lamenta Luis Carlos de Menezes.
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