Na última edição da avaliação internacional Pisa, organizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 2015, o Canadá se destacou como um dos poucos países a ocupar os dez primeiros lugares nas três competências avaliadas – leitura, matemática e ciências. Esses resultados colocaram os estudantes canadenses entre os melhores do mundo, ao lado de países como Cingapura, Finlândia e Coreia do Sul, e superando países de maior destaque internacional, como Estados Unidos e França.
Apesar do desempenho similar ao dos demais países líderes em educação, o modelo canadense não compartilha das especificidades dos seus companheiros de ranking. Enquanto Cingapura e Finlândia se destacam no cenário mundial por seus modelos estruturados e centralizados, o Canadá segue o caminho contrário: lá, cada província tem autonomia para estabelecer seu próprio sistema educacional de modo descentralizado, sem dependência do governo central.
Como resultado, a educação no Canadá é autônoma e pode variar de acordo com a região. As escolas respondem às províncias, que podem adaptar os modelos de acordo com as necessidades específicas da população local.
Sistema adaptável
Com as regiões do país apresentando características locais quanto a cultura e desenvolvimento, as províncias constroem modelos educacionais para preencher as lacunas de cada comunidade, como franceses, indígenas e esquimós, que ocupam regiões diferentes do país e apresentam demandas específicas.
Um exemplo disso são os esforços pela educação indígena, como a iniciativa criada pela professora Maggie MacDonnell. Ela lidera um projeto para levar igualdade de acesso à educação para uma comunidade inuit no Quebec, no Círculo Polar Ártico.
Com temperaturas que chegam a 25°C abaixo de zero, as dificuldades de acesso ao local, que só pode ser feito por vias aéreas, isola os jovens e leva a um alto índice de abuso de drogas e suicídio. Para ajudar a comunidade, Maggie trabalha na escola local há seis anos – a média de permanência dos professores na região é de seis meses. “Precisamos colaborar a nível global”, aponta.
ESCOLA SUL-COREANA ð°ð· ð« ðEnquanto o Brasil gasta muito com ensino superior, modelo sul-coreano obteve bons resultados ao focar nos alunos mais novos.via Gazeta do Povo - Educação
Publicado por Gazeta do Povo em Quinta-feira, 22 de junho de 2017
Oportunidades para imigrantes
Além das culturas das populações locais, os estudantes canadenses também se caracterizam pela diversidade cultural trazida por ondas de imigração: mais de um terço dos jovens do país são filhos de imigrantes. Esses estudantes são assimilados rapidamente às escolas canadenses e passam a apresentar desempenho similar ao dos colegas nascidos em famílias locais; o Canadá é um dos poucos países do mundo a alcançar a igualdade entre os estudantes imigrantes e não imigrantes na educação básica.
No ensino superior, porém, os estudantes imigrantes se destacam: buscando atrair esse perfil de universitários, o governo canadense oferece possibilidades de cidadania para jovens que imigram para cursar uma graduação. “Estudantes imigrantes no Canadá apresentam vantagens significativas quanto à sua presença nas universidades”, destacam Garnett Picot e Feng Hou, autores de uma pesquisa comparativa sobre a presença de imigrantes nas universidades canadenses.
A política voltada para atrair estudantes estrangeiros é parte do objetivo da educação canadense de oferecer igualdade de oportunidades. “Fazemos isso para chegar a um equilíbrio no sistema – equilibrar o placar, por assim dizer – e tornar mais fácil para candidatos altamente capacitados e altamente talentosos com perícia bom domínio da língua”, declarou o Ministro da Imigração, John McCallum, em uma conferência do Escritório Canadense de Educação Internacional no ano passado. “Quando pensamos no melhor grupo do mundo que se tornariam os melhores canadenses no futuro, o grupo que eu penso primeiro são os estudantes internacionais”.
Outro ponto unificador na educação é o foco no letramento, isto é, a capacidade de leitura, escrita e interpretação de textos que influencia o desempenho dos estudantes ao longo de toda a sua trajetória educacional.
A preocupação com o letramento em todos os níveis escolares contribui para a diminuição da desigualdade: no Canadá, os resultados do Pisa em ciências apresentam uma variação de apenas 9% nas notas dos estudantes de classes sociais diferentes. O número é menor do que o de Cingapura, por exemplo, que é referência na educação mundial e apresenta variação de 17% nas notas dos estudantes.
“No contexto da educação pública, os incidentes de suspeita de desigualdade se enquadram no âmbito do respectivo governo das províncias”, explica Cornelia Schneider, autora de um estudo sobre igualdade e inclusão no sistema educacional no Canadá. “Os documentos de educação observam princípios universalmente aceitos contidos na legislação de direitos humanos. Isso é importante porque se atenta a responsabilidades compartilhadas para a igual proteção e benefício”.
Na última edição do Programa de Avaliação Internacional de Alunos (Pisa), o paÃs ocupou a primeira posição nas três...
Publicado por Gazeta do Povo em Sábado, 14 de outubro de 2017