Escrever bem é passar uma mensagem com eficiência a alguém. Por mais óbvio que isso pareça, não é assim que aprendemos a produzir textos. Nas fórmulas prontas – como o combo introdução, desenvolvimento e conclusão – o que deveria ser um movimento natural acaba se perdendo. A culpa, dizem os especialistas, é da escola.
Primeiro porque os estudantes no Brasil demoram muito para começar a escrever seus primeiros textos – e o fazem com pouca frequência. Depois, os resultados são ruins porque muitos professores não estão preparados para ensinar.
“A escola não encontrou ainda como ensinar a escrever simplesmente porque muitas vezes o professor que ensina não é leitor nem escritor”, afirma Sandra Bozza professora da pós-graduação de Alfabetização e Letramento da Universidade Positivo. “As produções de texto são feitas sem um interlocutor, não escrevemos para sermos lidos, mas pela avaliação”, lamenta.
Essa dificuldade em escrever tem início já na alfabetização e vai sendo carregada ao longo dos anos até chegar ao ensino médio, quando vem ao desafio das redações do Enem e do vestibular.
O problema, segundo o ex-professor de cursinho Clayton Dick, fundador da plataforma Redação Nota 1000, é agravado se o estudante vem de uma família que não estimula as competências de leitura e escrita. “Não adianta um pai falar para o filho que ler é importante. É preciso ir além, discutir o que leu, comentar, ler também, e passar essa cultura. A família estimula a competência da escrita se tem esse exercício de refletir e de se comunicar textualmente”, diz.
Ler é fundamental
O incentivo à leitura e à escrita deve ocorrer o quanto antes. “A criança interage e aprende pelas sensações e vínculos desde a tenra idade. É importante ter a hora do conto, visitas a bibliotecas, museus e livrarias, assistir peças de teatro, noticiários e compartilhar ideias e opiniões. Assim se desenvolve um bom conteúdo, para se expressar em uma redação com coerência e estilo próprio”, afirma a psicopedagoga Susane Völker Agostinho, especialista em Neuropsicologia e Aprendizagem e em Educação Especial.
Quem que não tem o hábito da leitura terá dificuldades para formar e exprimir opiniões. “A falsa impressão de que é difícil escrever vem geralmente da ausência de um repertório de ideias, que só se conquista por meio da leitura e da reflexão”, diz Mara Solange Guedes Campos, assessora pedagógica de Língua Portuguesa e Oficina de Leitura e Redação do Colégio Positivo.
Nesse sentido, o professor e pesquisador Casemiro Campos, doutor em educação da UFCe, lembra que ler e escrever bem tem grande repercussão em todas as disciplinas do currículo escolar. “Em todas as matérias o aluno precisa ler e interpretar, não só nas áreas de humanas”, lembra. “Para facilitar esse exercício e avançar é necessário uma escola que tenha uma pedagogia voltada ao ler por prazer, não por obrigação”, ressalta.
Apoio especial
Crianças e jovens com necessidades educacionais especiais podem, com algum apoio diferenciado, aprender a ter uma boa redação. É o caso de Julia Ferreira, 14 anos, que foi diagnosticada com déficit de atenção, e tem atendimentos semanais com a psicopedagoga Susane Völker Agostinho. A mãe de Júlia, Suellen Regina Ferreira, conta que a filha tinha muita dificuldade para sentar e se concentrar antes de escrever e até de fazer qualquer lição de casa e estudar. “Agora com os atendimentos e a medicação, ela está mais concentrada, teve diferença nas notas e na autoestima também”, conta. Segundo Susane, Julia também adquiriu o hábito da leitura, o que faz toda a diferença na hora da produção de texto e nas demais disciplinas também. Crianças diagnosticadas com dificuldade no processamento auditivo central, dislexia e autismo podem ter mais dificuldade na produção textual e interpretação de textos, nesses casos o apoio especializado pode ser fundamental para o bom desempenho escolar.