O centro de Curitiba está repleto de história em cada esquina mas, na maioria das vezes, estes lugares passam sem merecer muita atenção de nossos olhares, voltados para a rotina do dia-a-dia. A Praça Zacarias, bem no centro comercial da capital, pode contar muito da urbanização da cidade e reserva um agradável passeio a céu aberto.
A pesquisadora da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), Aparecida Vaz da Silva Bahls, conta que ali já foi porta de entrada para quem vinha de outras vilas e fazendas. Chegou até a receber o nome de Largo de Entrada.
Em 1871, um de seus monumentos mais marcantes foi construído pelo engenheiro Antônio Rebouças: o chafariz, alimentado por um veio dágua que corria na Praça Rui Barbosa, trazido até ali por um encanamento de cobre."Se tornou um ponto de encontro para as pessoas da cidade, que iam buscar água em baldes, abastecer as carroças pipas e acabavam ficando por ali, conversando. Era um espaço de socialização", diz Aparecida.
A fonte foi entrando em desuso e acabou desmontada em 1910, mas após diversas mudanças de local, voltou para a praça em 1968. A herma (espécie de busto quando não tem os braços) de Zacarias de Góes e Vasconcelos, primeiro presidente da Província do Paraná, é outro monumento de destaque. Conta-se que foi construída sobre uma base de granito do litoral paranaense , e encomendada a uma fundição carioca para o dia da nomeação da praça, em 19 de dezembro de 1915, aniversário da emancipação política do Paraná.
Pouca gente sabe, mas o Mercado Municipal também já funcionou ali, de 1860 a 1873, quando a praça recebeu o nome de Largo do Mercado. "Como praça ela só passou a existir nas obras de Cândido de Abreu. No século 19 era um descampado, com algumas obras", conta a pesquisadora da FCC.
Museu preservado
Uma das obras que ainda ali figura foi uma casa de família que serviu de colégio feminino até 1926, quando virou um laboratório e depois foi sede da Secretaria de Saúde. O prédio, em estilo eclético, do Museu de Arte Contemporânea, só serviu a este propósito a partir de 1974. Sua fachada e o hall de entrada são tombados e preservados.
As fachadas das casas foram se alterando, os trilhos dos bondes que subiam pela Rua Emiliano Perneta até o Batel na década de 1940 foram retirados. O Cine Luz, que movimentou a cidade de 1939 até a década de 1960 quando pegou fogo , cedeu seu lugar para um edifício, na esquina da Marechal Deodoro com a Dr. Muricy. "A praça tinha um mecanismo sóciotradicional que movimentava a cidade com o Cine Luz e o Café Alvorada. Aos fins de semana eram três, quatro sessões lotadas", conta Valério Hoerner, professor de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e pesquisador da história paranaense. "Após a década de 1960, o panorama urbano nos entornos da praça foi totalmente alterado. Com as reformas modernas, pouco se preservou."
As cheias do Rio Ivo, que também castigavam o Cine Luz foram controladas com sua canalização.
Em fotos da época, se vê uma casa de arquitetura rebuscada, com uma grande águia de duas cabeças no topo, onde funcionava uma loja maçônica, assunto de muita polêmica entre as crianças da época. A casa foi demolida e deu lugar ao Edifício Acácia, mas a águia continua lá.